Renda fixa nos EUA: Volatilidade e oportunidades após 100 dias de Trump 2.0
30/04/2025
Nos primeiros 100 dias do segundo mandato de Donald Trump, os mercados financeiros dos Estados Unidos enfrentaram uma volatilidade significativa, impulsionada por tensões comerciais, incertezas sobre política econômica, riscos de desaceleração e preocupações fiscais. Consequentemente, este cenário turbulento se refletiu também na renda fixa em dólar. A seguir, vamos analisar como essa instabilidade impactou tanto os títulos do Tesouro americano quanto o mercado de crédito corporativo em USD.
Quando falamos dos títulos do Tesouro de curto prazo, observamos que eles têm cumprido o seu papel de preservação de capital com baixa volatilidade. Ainda assim, analisando o título de 12 meses, destacamos dois pontos sobre a sua performance nestes primeiros 100 dias do novo governo. Primeiramente, a rentabilidade desses títulos vem caindo desde a posse de Trump, em janeiro, uma vez que o mercado passou a precificar uma maior probabilidade de cortes de juros diante dos riscos de recessão ou desaceleração econômica, cenário no qual o Fed tende a reagir por meio de sua política monetária. Em segundo lugar, o anúncio das tarifas provocou uma reação da curva de juros — que inicialmente se comprimiu significativamente, mas depois voltou a se abrir — numa magnitude de movimentação bem superior à habitual para curto prazo.
A curva do Tesouro para 10 anos, que reflete as expectativas de longo prazo para a economia americana, também apresentou um comportamento relativamente volátil. Em janeiro, no início do mandato presidencial, os yields do Tesouro para 10 anos estavam próximos a 4,8% – nível mais alto desde novembro de 2023. Esses rendimentos mais elevados refletiam as expectativas de políticas fiscais mais expansionistas por parte da nova administração, além de uma inflação persistente, quadro que levaria a juros mais altos por mais tempo.
Quando as tarifas foram anunciadas, a curva se achatou devido às preocupações com uma possível desaceleração econômica, refletindo na queda dos rendimentos de longo prazo. Posteriormente, a curva voltou a se inclinar, com os rendimentos de longo prazo aumentando mais rapidamente do que os de curto prazo, enquanto os investidores vendiam os seus títulos para aproveitar os lucros desse fechamento. Esse movimento também apontou para os riscos de uma inflação mais elevada e de alguma redução global de títulos longos do Tesouro, entre outros fatores. Porém, desde a metade de abril, temos observado de forma consistente um novo fechamento dessa curva longa, com os yields caindo de um nível máximo de aproximadamente 4,5% para os atuais 4,2%.
É importante mencionar que, num contexto histórico, os títulos do Tesouro americano seguem oferecendo retornos atrativos, especialmente frente as últimas duas décadas, sendo reconhecidos como os títulos mais líquidos do mundo, com um grau de segurança e preservação de valor bastante alto. Ou seja, ainda são vistos como os títulos de referência a nível internacional.
Apesar disso, vale analisar o que aconteceu com os Credit Default Swaps (CDS) dos EUA. O CDS funciona como um seguro que investidores podem adquirir para se proteger do risco de incumprimento de um determinado ativo pelo seu emissor. E foi justamente esse custo de proteção contra inadimplência da dívida soberana dos EUA que aumentou significativamente. Os CDS de 5 anos ultrapassaram os 50 pontos-base, representando um aumento de 70% desde o início do ano. Em linhas gerais, esse movimento reflete as preocupações dos investidores com a guerra comercial, a estabilidade fiscal e possíveis confrontos entre o Executivo e o Federal Reserve, especialmente após comentários feitos por Donald Trump sobre o presidente do Banco Central americano, Jerome Powell.
Os spreads dos títulos corporativos de grau de investimento (IG) – ou seja, o prêmio de risco pago pela dívida corporativa sobre o tesouro – estavam em níveis historicamente baixos entrando no ano de 2025, com os spreads em cerca de 80 pontos-base. Na sequência do anúncio das tarifas começaram a se ampliar e, tivemos um movimento de abertura para cerca de 120bps, seguido por uma nova redução para a faixa de 100bps. Ainda assim, esse patamar segue abaixo da média histórica, demonstrando que os investidores continuam confortáveis com os riscos das empresas de grau de investimento.
Para os títulos de alto rendimento (high yield), os spreads iniciaram o ano em cerca de 260 pontos-base, também um nível historicamente baixo que refletia tanto o apetite por risco dos investidores quanto o conforto com a qualidade de crédito dessas empresas High Yield. No entanto, com o início da guerra comercial vimos esses spreads abrirem para cerca de 450bps antes de uma leve retração mais recente para cerca de 370bps. Ainda um spread baixo num contexto histórico – ou seja, um prêmio baixo pago pelos créditos High Yield, apesar de oferecerem retornos atrativos ao nível de yield absoluto.
A incerteza sobre as políticas econômicas e o possível aumento da inflação americana levaram os investidores a adotarem uma postura mais cautelosa, favorecendo ativos de menor duração e aguardando melhores oportunidades de entrada no mercado.
Em resumo, os primeiros 100 dias do segundo mandato de Trump foram marcados por movimentos significativos nos mercados financeiros, com aumento de volatilidade nos rendimentos das Treasuries, ampliação dos spreads de crédito corporativo e elevação nos custos de proteção contra inadimplência soberana. Essas oscilações refletem as preocupações dos investidores com as políticas econômicas da nova administração e os seus impactos potenciais na estabilidade fiscal e no crescimento econômico dos EUA.
Apesar das turbulências recentes, seguimos identificando oportunidades muito interessantes nos títulos de dívida em dólar. Os títulos do Tesouro americano continuam sendo os de maior liquidez no mundo, com um perfil indiscutível quanto à sua preservação de valor no longo prazo e oferecendo taxas de retorno maiores do que a média dos últimos anos. Em títulos corporativos as oportunidades também são bastante interessantes, mas requerem análise seletiva das empresas e riscos, procurando preservar a qualidade de crédito.
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