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Se você pudesse escolher entre receber hoje um milhão de dólares ou 5 milhões de reais, com a contrapartida de que você teria que guardar esse dinheiro em um baú e usar somente daqui a 10 anos, qual você escolheria?

A sua resposta muito provavelmente foi imediata. No entanto, nem sempre compreendemos completamente o papel crucial que o dólar desempenha na diversificação do nosso patrimônio, principalmente devido à influência do ambiente local e à crença arraigada de que o dólar é altamente volátil.

 

A nossa percepção de risco

Todos os dias escutamos ou lemos no jornal: “o dólar subiu X%”, “o dólar caiu X%”, e consequentemente, vamos associando o dólar a uma moeda com bastante volatilidade. E não para por aí. Quando olhamos as opções de investimentos no exterior disponíveis nas plataformas locais, a classificação de risco de todas elas se dá como arrojada ou agressiva, mesmo que o investimento lá fora seja apenas em renda fixa.

 

Mas por que isso acontece?

Isso acontece porque a variável do câmbio traz muitas oscilações para o investimento, e dessa forma, o enxergamos como arriscado. Mas será que estamos olhando do ponto de vista correto? Será que é o dólar mesmo que é tão volátil e traz risco ao nosso portfólio?

 

Uma perspectiva diferente

O dólar é dólar há mais de 200 anos quando se tornou a moeda oficial nos EUA em 1792 através do “Mint Act” aprovado pelo Congresso americano. No último século, a moeda americana foi ganhando força globalmente e se tornou a moeda mais usada em transações comerciais. Aqui vão alguns dados interessantes: por volta de 90% das transações de câmbio no mundo ainda são realizadas em dólar1; 60% de todas as reservas internacionais globais são em dólar2; e o próprio governo brasileiro possui 80% das reservas internacionais na moeda americana³.

Diante desses fatos, surge a pergunta: será que não é a nossa moeda que carrega, de fato, risco e volatilidade?

Dá uma olhada no gráfico abaixo:

 

Podemos ver a variação do dólar frente ao euro, em preto; ao iene japonês, em azul; e ao real brasileiro, em vermelho. Enquanto a volatilidade entre dólar e as duas primeiras moedas é relativamente baixa, com relação ao real o quadro é bem diferente: volatilidade alta e tendência de valorização no longo prazo.

Não podemos esquecer que somos um país emergente. Assim sendo, temos desafios internos tanto no âmbito econômico, quanto no fiscal e no político, que se traduzem em mais incertezas e riscos para os investidores.

 

“Home Bias”

Um dos vieses comportamentais mais conhecidos no mundo dos investimentos, é o chamado “Home Bias”, ou Viés Doméstico. É quase que natural do ser humano querer investir no seu próprio país, na sua região e na sua moeda, pois temos aquela impressão de que conseguimos controlar e que entendemos melhor tudo o que está por perto, seja por conta da língua, da legislação ou mesmos das regras que já estamos acostumados. Por esse motivo acabamos não tendo a visão real do risco que estamos correndo.

Mas a verdade é que esse tipo de comportamento pode ser extremamente prejudicial para o seu patrimônio ao longo do tempo, principalmente quando falamos de Brasil.

 

O cenário brasileiro

O Brasil representa por volta de apenas 3% do PIB, 2% da renda fixa e 1% da renda variável global. E o mais contraditório é que mesmo assim, o brasileiro ainda concentra 99% do seu patrimônio apenas no Brasil. O próprio americano, que possui o maior mercado do mundo à sua disposição, com quase 50% de representatividade, ainda diversifica por volta de 29% fora do seu país.4

É óbvio que não precisamos inverter totalmente a lógica e mandar 99% do nosso patrimônio para fora. Mas não podemos nos esquecer que o mercado local costuma se mover junto por conta de eventos locais, e que a diversificação internacional acaba por trazer investimentos que se descorrelacionam com os movimentos do mercado interno e reduzem a volatilidade da sua carteira.

 

O poder do dólar

O dólar desempenha um papel fundamental na diversificação de investimentos, como evidenciado por seu desempenho durante grandes quedas do mercado:

 

Na tabela acima, podemos ver o quanto ele se valorizou frente ao real nas últimas grandes quedas do mercado. Quem tinha dólar como parte da sua estratégia de investimento nesses períodos, sentiu muito menos a performance negativa dos ativos locais, ou seja, nesses cenários o dólar serviu basicamente como um seguro para o portfólio.

 

O valor da moeda no longo prazo

Ao longo do tempo, o valor de uma moeda é influenciado principalmente pelo diferencial de inflação e crescimento entre os países. Não à toa o real já perdeu basicamente 80% do seu valor frente ao dólar desde a sua criação em 1994, e só nos últimos 10 anos, a valorização do dólar frente ao real foi ao redor de 9% ao ano.

 

Considerações finais

Isso significa que acontecerá o mesmo daqui para a frente? Infelizmente não temos bola de cristal, mas o fato é que estudar o passado e entender os fatores e riscos que influenciam cada moeda pode nos dar um bom norte de como será o futuro. E a diversificação internacional através de moedas fortes, como o dólar, é uma estratégia fundamental para redução de risco e volatilidade do portfólio de investimentos do brasileiro. Afinal, o dólar não é volátil; é a nossa moeda que é.

 

Leia também: Dolarizado: como o dólar está presente no dia a dia dos brasileiros

 

Referências:

¹https://www.credit-suisse.com/about-us/en/reports-research/csri.html

²https://tradersummit.net/why-the-usd-remains-unchallenged/

³https://www.bcb.gov.br/content/estabilidadefinanceira/relgestaoreservas/GESTAORESERVAS202303-relatorio_anual_reservas_internacionais_2023.pdf

4https://valor.globo.com/financas/coluna/principios-de-sucesso-para-investimentos-globais.ghtml

 

Disclaimers:

Qualquer informação não é um resumo completo ou declaração de todos os dados disponíveis necessários para tomar uma decisão de investimento e não constitui uma recomendação. Os investimentos mencionados podem não ser adequados para todos os investidores.

 

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