Lições de Omaha 2025
05/05/2025
05/05/2025
05/05/2025
Anualmente, milhares de pessoas viajam para Omaha, uma típica cidade de médio porte no coração dos EUA, no estado de Nebraska. O objetivo é beber na fonte da sabedoria daquele que é considerado por muitos o maior investidor de todos os tempos: Warren Buffett, um investidor de 94 anos, apelidado de Oráculo de Omaha. Este ano, pela quarta vez, tive a oportunidade de estar lá e vou compartilhar aqui os principais insights e minhas percepções do evento.
Posso dizer que me sinto muito honrado e feliz por ter feito parte deste capítulo da história do capitalismo americano. Pode parecer exagero, mas o anúncio da aposentadoria de Buffett, aos 94 anos, depois de 60 anos de serviços prestados à sua empresa, a Berkshire Hathaway, por incrível que pareça, de certa forma surpreendeu… mas, mais do que isso, emocionou a todos os presentes. Buffett foi ovacionado por um ginásio com cerca de 30 mil pessoas. Aplausos que duraram minutos e constrangeram o sempre humilde Oráculo. Ele até tentou falar, mas a plateia seguiu aplaudindo-o.
Buffett representa mais do que um investidor ou a estupenda taxa de retorno que entregou aos acionistas. Sua representatividade transcendeu o universo dos investimentos, as fronteiras dos EUA, e o transformou em uma persona — uma instituição que representa um mix de filosofia de vida, frugalidade, sabedoria e valores com os quais muitos se alinham.
Mas este não é um artigo sobre sua aposentadoria, e sim sobre os highlights da conferência. Vamos a eles:
Esse é um tema que nunca foi tabu na Berkshire e vem sendo discutido e preparado há muitos anos. Buffett anunciou que recomendará Greg Abel como novo CEO da empresa no final do ano — uma decisão esperada desde que Abel foi nomeado sucessor em 2021. Buffett afirmou que continuará envolvido de forma consultiva, mas que as decisões operacionais e de alocação de capital ficarão totalmente a cargo de Abel.
Apesar de se afastar da liderança, Buffett fez questão de ressaltar, por diversas vezes ao longo do evento, sua total confiança em Abel, ao declarar que não venderá uma única ação. Chamou isso de uma decisão econômica, baseada em sua crença de que o futuro da Berkshire será ainda mais promissor sob a liderança de Abel.
Uma das frases mais emblemáticas da conferência este ano foi:
“Trade should not be a weapon.”
Buffett salientou que o equilíbrio no comércio beneficia o mundo e que déficits comerciais crescentes são prejudiciais. Comentou que, em 2003, propôs a criação dos Import Certificates com o objetivo de equilibrar o déficit comercial.
Explicando rapidamente: os exportadores receberiam esses certificados equivalentes ao valor, em dólares, de suas exportações e poderiam vendê-los no mercado aberto. Já os importadores deveriam comprar esses certificados para cobrir o valor dos bens que importam. Esse sistema aumentaria a renda dos exportadores e elevaria os custos de importação, evitando a intervenção governamental, ainda que potencialmente aumentasse os preços para os consumidores.
Segundo Buffett, as tarifas são uma tentativa de ajuste de um desequilíbrio ruim para os EUA. Ele não concorda com o uso de tarifas e ressaltou que acredita que sua ideia dos certificados é uma solução superior.
Buffett ainda destacou que a postura de disputa — de tentar sair “vencedor” contra outro país — tende a gerar raiva e ressentimento. Ele acredita na ideia das vantagens competitivas entre os países, em que o comércio pode ser benéfico para ambos os lados.
Buffett comentou que a burocracia é um problema comum entre países e corporações. Segundo ele, os políticos são eleitos com promessas e compromissos com gastos e alocação de recursos dos contribuintes. No entanto, os incentivos não estão bem alinhados: gastar dinheiro é fácil, cortar benefícios é difícil, e há poucas consequências para quem não administra bem as contas.
Ele mencionou que o país opera com um déficit insustentável e lembrou que, na era de Paul Volcker, o sistema esteve próximo do colapso. Admitiu que não gostaria de ter a responsabilidade de equilibrar receitas e despesas, mas enfatizou que essa é uma tarefa essencial e que pode até unir as pessoas (leia-se: congressistas) em torno de uma pauta comum.
Segundo ele, o grande risco aqui é o da destruição da moeda, caso não haja responsabilidade fiscal.
Sobre o risco ao dólar, Buffett comentou que a intenção de o desvalorizar pode, a princípio, ajudar na competitividade do país, mas alertou que isso não é controlável. Ele expressou preocupação com a política fiscal dos EUA — essa, sim, capaz de impactar o dólar —, embora o problema não seja exclusivo dos EUA e afete outras nações.
Buffett observou que os investidores estão pessimistas atualmente, mas lembrou que a América sempre se reinventou, sendo a mudança uma constante em sua história. Reconheceu que sempre há algo a criticar no país, mas afirmou que o dia mais feliz de sua vida foi quando nasceu nos EUA.
Enfatizou que o país superou recessões, guerras, bombas atômicas e outros desafios, e que, se pudesse escolher, nasceria novamente na América. Ou seja, ele segue acreditando que não se deve apostar contra os EUA.
Nesse sentido, minimizou as recentes quedas no mercado, dizendo que não foram significativas. Lembrou que as ações da Berkshire Hathaway já caíram 50% em três ocasiões diferentes, tornando as quedas atuais irrelevantes em comparação.
E, bem ao estilo Buffett, aconselhou: se alguém se preocupa com uma queda de 15% nas ações, deveria reconsiderar o que faz com seu dinheiro. Ele enfatizou que é preciso se adaptar ao mercado, e não esperar que o mercado se adapte a você.
A grande questão no mercado hoje é a elevada posição de caixa da companhia, que atingiu US$ 328 bilhões — quase 30% do patrimônio da Berkshire, um percentual bem acima da média histórica.
Buffett comentou que recentemente quase gastaram US$ 10 bilhões, mas o negócio acabou não se concretizando. Ele destacou que, em mais de 16 mil dias de negociação no mercado, as oportunidades não surgem todos os dias, e que a Berkshire fez muito dinheiro mesmo sem estar totalmente investida o tempo todo.
Além disso, como a empresa investe em negócios que são fortes geradores de caixa, não é tarefa simples ou trivial alocar tudo o que é gerado anualmente.
Warren Buffett elogiou a Apple e seu CEO, Tim Cook, apesar de ter reduzido a participação da Berkshire na empresa ao longo do último ano. Exaltou a liderança de Cook e comentou, com humor, que estava “um pouco envergonhado” por admitir que Cook havia gerado mais lucro para a Berkshire do que ele próprio.
Disse ainda: “Apenas Steve Jobs poderia ter criado a Apple, mas apenas alguém como Tim Cook poderia tê-la desenvolvido até onde está hoje.”
Houve menos menções à inteligência artificial, mas Buffett e Ajit Jain (vice-presidente de operações de seguros da Berkshire) concordaram que a IA será revolucionária, transformando a forma de avaliar, precificar e calcular prêmios de risco — ainda que a Berkshire não tenha feito apostas pesadas nesse setor.
Sobre as big techs, Buffett observou que as sete maiores se tornaram mais intensivas em capital, tornando seus negócios menos atraentes, embora ainda superiores aos negócios mais tradicionais.
Perguntado sobre os investimentos da Berkshire no Japão, Buffett comentou que não pretendem vender essas posições pelos próximos 50 anos. Disse que os negócios por lá vão muito bem, e que a Berkshire mantém uma boa relação com os parceiros japoneses, valorizando os costumes distintos e a perspectiva única que eles trazem, agregando valor aos negócios.
Um tema sempre presente nas conferências da Berkshire são perguntas sobre carreira, filosofia de investimentos e vida. Afinal, os participantes querem beber da sabedoria do megainvestidor de 94 anos.
Este ano não foi diferente. Perguntado sobre a paciência, ele destacou que não se pode confundir paciência com inatividade. Segundo ele, é importante manter as emoções sob controle e ser paciente, mas o mundo dos negócios exige agir rapidamente quando surgem boas oportunidades. O tempo em que você não age, você se prepara.
Como de costume, enfatizou a importância de se associar a pessoas admiráveis, que sejam melhores que você e o inspirem a melhorar. Segundo ele, esse é um dos segredos do seu sucesso.
Também recomendou aos investidores que não assumam uma posição sem antes compreender os argumentos contrários, e que mantenham a curiosidade e o hábito de ler muito.
Por fim, sempre com bom humor e carisma, após os longos aplausos da plateia pelo anúncio de sua aposentadoria, Buffett comentou que aquilo poderia ser interpretado de duas maneiras — mas que prefere acreditar que foi uma homenagem.
Todas as palmas do mundo ao Oráculo!
William Castro Alves
Estrategista-chefe da Avenue e um fã de Warren Buffett
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