Correção nos juros e expectativas com balanços
14/10/2024
Antes de seguirmos com o roteiro habitual da nossa coluna de apresentar a retrospectiva dos principais fatos ocorridos na semana passada e seus impactos econômicos e financeiros, quero aproveitar o momento para divulgar a nossa última live mensal em que falamos de forma mais ampla sobre o atual cenário macro e seus reflexos no mercado. Se você perdeu ou quiser rever a conversa, é só clicar em: Conexão Avenue – Cenário Macroeconômico (08/10/24)
Apesar de termos tido um volume menor de divulgações na semana anterior, os dados anunciados foram de grande relevância para a leitura do cenário atual.
Na quarta-feira (9) foi publicada a minuta da última reunião do FOMC (comitê de política monetária americano), ocorrida em setembro, quando o órgão optou por cortar a taxa referencial de juros americana em 50 bps, para um range entre 4,75% e 5,00%.
Existia a expectativa de que a ata poderia fornecer pistas acerca do movimento futuro das taxas de juros nos EUA. Em linhas gerais, vimos que os dirigentes do Federal Reserve concordaram em reduzir a taxa de juros em 0,50 p.p., com apenas um membro do comitê votando a favor de um corte mais tímido de 0,25 p.p.. No entanto, a ata revelou que houve certa discussão acerca da magnitude do corte, conforme ilustrado pelos recortes abaixo:
Alguns participantes observaram que teriam preferido uma redução de 25 pontos-base da faixa-alvo nesta reunião, e alguns outros indicaram que poderiam ter apoiado tal decisão.
Vários participantes observaram que uma redução de 25 pontos-base estaria em linha com um caminho gradual de normalização da política, o que daria aos formuladores de políticas tempo para avaliar o grau de restritividade da política [de juros] conforme a economia evoluísse.
Alguns participantes também acrescentaram que um movimento de 25 pontos-base poderia sinalizar um caminho mais previsível de normalização da política.
A ata também trouxe que a decisão a favor dos 0,5 p.p. se deve ao progresso na inflação e do equilíbrio de riscos no mercado de trabalho, evidenciando que uma “maioria substancial dos participantes” favoreceu o movimento maior. Em relação à defesa à magnitude do corte feito, a ata afirmou que:
Em alinhamento com os indicadores recentes de inflação e do mercado de trabalho, (…) tal movimento ajudaria a sustentar a força da economia e do mercado de trabalho, ao mesmo tempo em que continuaria a promover o progresso na inflação e refletiria o equilíbrio de riscos.
Em suma, o que a ata demonstrou é que, olhando para a frente, não há convicção nem consenso acerca da velocidade no corte dos juros nos EUA. Podemos dizer que a ata reafirmou o discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, ao reforçar que o ritmo do corte foi uma recalibração da política monetária e que não deve ser visto como uma tendência a guiar as decisões futuras.
Ajudando na leitura desse cenário de juros, na quinta-feira (10) acompanhamos a divulgação do principal indicador de inflação ao consumidor americano (CPI), que seguiu apontando para uma desaceleração em seu índice cheio, mas que em seu núcleo – que expurga os efeitos de alimentos e energia – voltou a subir, chegando à marca de 3,3% ante os 3,2% registrados anteriormente, no acumulado dos últimos 12 meses. Além disso, as expectativas do mercado eram de um arrefecimento maior em ambos os dados, o que não ocorreu. Para o índice cheio, a previsão era de um aumento de 0,1% mês a mês e de 2,3% ano a ano, mas o resultado veio um pouco acima, com 0,2% m/m e 2,4% a/a. Quanto ao núcleo do CPI, esperava-se um avanço de 0,2% m/m e 3,2% a/a, enquanto a realidade foi um crescimento de 0,3% m/m e 3,3% a/a.
O gráfico abaixo mostra como a inflação em seu núcleo parece não ceder:
Fonte: Bureau of Labour Statistics – 10/out/2024
Além disso, ao compararmos os dados mensais, mesmo do índice cheio, notamos que nos últimos três meses a inflação teima em não ceder conforme o esperado:
Fonte: Bureau of Labour Statistics – 10/out/2024
Por fim, na sexta (11) saiu a inflação ao produtor, revelando-se mais benigna do que a esperada e reduzindo um pouco os receios com a inflação geral. O Índice de Preços ao Produtor (PPI) veio em linha com as expectativas, mas com algumas divergências importantes. Em uma base mensal, o PPI cheio ficou estável em 0,0%, enquanto era esperado um aumento de +0,1%. Porém, no acumulado de 12 meses, o índice registrou um avanço maior do que o esperado, chegando a 1,8% a/a, acima da expectativa de 1,6%. Já o núcleo do PPI, que exclui itens voláteis como alimentos e energia, subiu +0,2% m/m, permanecendo em linha com as projeções, enquanto sua taxa anual foi de 2,8%, ligeiramente acima dos 2,7% esperados.
Bom, nas últimas quatro semanas tivemos ao menos um número relevante dentre todos os indicadores econômicos apontando para a resiliência da economia americana. Veja que o Índice de Surpresa Econômica do Citibank mostra que os dados têm vindo melhores do que os esperados.
Fonte: the Daily Shot – 07/out/2024
Isso, em consonância com as projeções publicadas pelo Fed, além de suas falas e os indicadores de inflação, nos levam a entender que daqui para a frente devemos ver aquilo que o Banco Central americano vem salientando, ou seja, um total de cortes de mais 0,50 p.p. até o final de 2024, podendo acontecer já nas próximas duas reuniões, com a taxa encerrando o ano com um range entre 4,25% e 4,50%.
Obviamente que, conforme as declarações do próprio Fed, tal definição depende da evolução dos números de inflação e emprego que saírem nos próximos meses. O dado de inflação da última semana reforçou a percepção geral de que os dirigentes do órgão não precisam ter pressa em mexer nos juros, uma vez que a inflação ainda apresenta componentes que trazem incerteza quanto a sua evolução.
Entendemos também que cada vez mais as expectativas, o foco e as especulações do mercado estarão voltadas para a duração do ciclo de cortes de juros. Desse modo, vemos que o mercado acompanha não apenas os índices de inflação, mas também os de atividade econômica, a fim de ajustar as suas expectativas sobre a magnitude desses cortes.
O que vimos recentemente foi uma grande correção nos juros, com o mercado recalibrando as suas apostas e perspectivas e a curva de juros voltando a subir (yields mais elevados).
Fonte:Tradingview.com – 11/out/2024
Percebemos também uma aposta maior do mercado de que a taxa terminal desse ciclo de cortes tenderá a ser mais elevada do que a precificação inicial, com o ciclo de cortes encerrando acima de 3%.
Fonte: The Daily Shot 11/out/2024
Em suma, vislumbramos uma reprecificação que avaliamos como saudável e natural, gerando boas oportunidades de alocação em títulos de renda fixa com taxas mais atrativas.
Já comentamos aqui que a expectativa e a efetivação de cortes de juros tendem a ser positivas para o mercado acionário, em nível geral. No entanto, para que todo esse otimismo se concretize, a bolsa depende da capacidade de a economia americana se manter resiliente e evitar uma recessão. A crença nesse cenário, chamado de soft landing, é o que ajuda a explicar os humores da última semana, com o S&P 500 atingindo novamente a máxima histórica – até agora acumulamos 45 dias de máximas históricas alcançadas em 2024.
Fonte: The Daily Shot 10/out/2024
E tendo essa perspectiva de não recessão como suposição e cenário base, o gráfico abaixo apresenta a performance de diferentes setores desde 1995, quando passamos por um momento semelhante, com a ressalva de que nada garante que o futuro se desenrole da mesma forma daqui para a frente.
Fonte: Apollocademy.com 11/out/2024
Além dos dados econômicos divulgados regularmente, entendemos que, a partir de agora, o mercado irá se voltar para a evolução dos resultados corporativos que começaram a ser divulgados na última sexta-feira (11). J.P. Morgan e Wells Fargo deram o pontapé inicial da safra de balanços com números melhores do que os esperados pelo mercado e com as suas ações reagindo muito bem aos números.
Nos próximos dias veremos alguns nomes conhecidos, mas o volume maior de resultados acontecerá durante as duas últimas semanas de outubro, quando as empresas responsáveis por cerca de 60% do valor de mercado listado no S&P 500 divulgarão os seus números.
Quer mais detalhes? Aqui na Avenue o nosso time de especialistas realiza uma ampla e acurada cobertura dos principais resultados, disponibilizada na página: Resultados Trimestrais – Temporada de balanços nos EUA.
Segue abaixo o calendário de balanços da semana:
Espera-se um crescimento de receitas de 4,7% para as empresas do S&P 500 frente aos números do 3T23 e um crescimento de lucros na ordem de 4,2%. Caso isso se confirme, este será o quinto trimestre consecutivo de crescimento de lucros para as empresas do índice (fonte). Olhando para a rentabilidade, espera-se que a margem de lucro líquido das empresas do S&P 500 fique em 12,1% – número levemente inferior ao do 2T24, mas acima da média de 11,5% dos últimos cinco anos.
Olhando setorialmente, estima-se que 8 entre os 11 setores do S&P 500 relatem crescimento de lucros ano a ano, com destaque para os setores de Tecnologia da Informação, Assistência Médica e Serviços de Comunicação. Por outro lado, espera-se uma performance mais fraca de 3 setores que devem relatar declínio ano a ano nos lucros, com destaque para a expectativa de queda de lucros de 2 dígitos no setor de energia.
Além dos números referentes ao trimestre que passou, os balanços nos dão a oportunidade de ouvir diretamente das empresas o que elas esperam para os próximos meses, seus guidances e projeções acerca dos resultados futuros. Durante o trimestre anterior, tivemos 110 empresas do S&P 500 emitindo guidances para esse trimestre, sendo que 60 companhias revelaram projeções mais negativas para esse trimestre e 50 delas apresentaram um tom mais otimista para o mercado. Agora veremos se esses prognósticos se concretizaram ou não.
Apesar de o índice acionário americano estar nas máximas, com as expectativas de um crescimento de lucros em torno de 15% para 2025, será fundamental acompanhar os guidances das empresas para mensurar até que ponto as perspectivas futuras já estão suficientemente precificadas nos preços dos ativos e se há espaço para mais crescimento de lucros que justifiquem a continuidade do rally, reavaliando eventuais exageros cometidos pelo mercado.
Outro ponto importante que acreditamos ter potencial para capturar a atenção do mercado se refere aos anúncios de investimentos no campo do desenvolvimento de modelos de inteligência artificial, principalmente pelas grandes empresas de tecnologia. Para fins de contextualização, Amazon, Microsoft, Alphabet e Meta investiram US$ 52,8 bilhões na área no segundo trimestre, soma 60% maior do que a reportada no mesmo período do ano anterior, de acordo com dados padronizados da FactSet. Esta é uma cifra que impressiona, especialmente quando pensamos se tratar de um número trimestral e que grande parte desses recursos são direcionados à inteligência artificial. O gráfico abaixo ilustra bem a evolução desse tipo de investimento por essas quatro empresas.
Fonte: Sherwoodnews.com 05/ago/2024
Com um volume de recursos tão impressionante como esse, é esperado que o mercado cobre cada vez mais resultados e retornos sob o ponto de vista prático de melhoras e entregas operacionais no campo da IA. Não obstante, parte relevante desse montante é direcionada primeiramente à construção da infraestrutura necessária para viabilizar o desenvolvimento desses projetos de IA, passando pelo consumo dos chips da Nvidia, por exemplo. É por isso que os encadeamentos com diferentes empresas e setores aliados às expectativas de crescimento futuro tornam esses investimentos relevantes a ponto de serem observados e analisados nesta nova safra de balanços.
Que tal continuarmos esse papo no Twitter e Instagram? Siga @willcastroalves e me diga o que achou do conteúdo da semana. Até lá!
Aquele abraço!
William Castro Alves
Estrategista-chefe da Avenue Securities
DISCLAIMER
A Avenue Securities LLC é membro da FINRA e da SIPC. Oferta de serviços intermediada por Avenue Securities DTVM. Veja todos os avisos importantes sobre investimento: https://avenue.us/termos/.
As expressões de opinião são a partir desta data e estão sujeitas a alterações sem aviso prévio. Não há garantia de que estas declarações, opiniões ou previsões aqui fornecidas se mostrem corretas. Este material está sendo fornecido apenas para fins informativos. Qualquer informação não é um resumo completo ou uma declaração de todos os dados disponíveis necessários para tomar uma decisão de investimento e não constitui uma recomendação.
O desempenho passado não é indicativo de resultados futuros. Investir envolve risco e você pode incorrer em um lucro ou perda, independentemente da estratégia selecionada.
Os links estão sendo fornecidos apenas para fins informativos. A Avenue não é afiliada e não endossa, autoriza ou patrocina nenhum dos sites listados. A Avenue não é responsável pelo conteúdo de qualquer site ou pela coleta ou uso de informações sobre os usuários de qualquer site.
O investimento internacional envolve riscos especiais, incluindo flutuações cambiais, diferentes padrões contábeis financeiros e possível volatilidade política e econômica.
Tenha em mente que os indivíduos não podem investir diretamente em nenhum índice, e o desempenho do índice não inclui custos de transação ou outras taxas, o que afetará o desempenho real do investimento. Os resultados individuais do investidor variam. O desempenho passado não garante resultados futuros.
Manter ações para o longo prazo não garante um resultado rentável. Investir em ações sempre envolve risco, inclusive a possibilidade de perder todo o investimento.
Não há garantia de que essas opiniões ou previsões aqui fornecidas se mostrem corretas.
Qualquer informação não é um resumo completo ou declaração de todos os dados disponíveis necessários para tomar uma decisão de investimento e não constitui uma recomendação. Os investimentos mencionados podem não ser adequados para todos os investidores.
Antes de investir, considere os objetivos, riscos, taxas e despesas do investimento. Entre em contato com [email protected] para obter um prospecto contendo essas e outras informações importantes. Leia com atenção antes de investir.