Dados melhores na economia versus mais incerteza na política
02/06/2025
A última semana foi marcada por notícias que impactaram negativamente a percepção dos investidores sobre o mercado, relacionadas tanto à guerra comercial quanto aos conflitos entre o governo e o judiciário. Em suma, tivemos muita volatilidade devido a uma série de eventos:
Enfim, seguimos entre altos e baixos, em um momento repleto de incertezas. Neste cenário, é melhor focarmos nos fundamentos e dados econômicos…
O Índice de Confiança do Consumidor, medido pelo Conference Board, subiu 12,3 pontos entre abril e maio, passando de 85,7 para 98,0. A principal melhora se deu nas perspectivas em relação à situação futura. O Índice de Expectativas — que considera as percepções de curto prazo dos consumidores para renda, negócios e condições do mercado de trabalho — aumentou 17,4 pontos e chegou a 72,8, marca ainda abaixo do limite de 80, o que normalmente sinaliza uma recessão à vista. Um ponto a se considerar é que cerca de metade das respostas foram coletadas após o anúncio de 12 de maio, que suspendeu boa parte das tarifas recíprocas sobre importações entre os EUA e a China.
Segundo Stephanie Guichard, economista sênior de indicadores globais do Conference Board:
A confiança do consumidor melhorou em maio após cinco meses consecutivos de queda… a recuperação já era visível antes do acordo comercial EUA-China de 12 de maio, mas ganhou força depois. A melhora foi amplamente impulsionada pelas expectativas do consumidor, já que todos os três componentes do Índice de Expectativas — condições de negócios, perspectivas de emprego e renda futura — subiram em relação às mínimas de abril.
Fonte: The Conference Board, 27/mai/2025
Já comentamos aqui que os indicadores de confiança e os chamados “soft data” têm uma capacidade limitada de prever movimentos econômicos. O próprio presidente do Fed, Jerome Powell, já comentou sobre isso – segundo ele, embora os dados qualitativos forneçam um contexto útil sobre o sentimento econômico e as possíveis tendências futuras, o Fed dá maior peso aos dados quantitativos para a tomada de decisões, especialmente em tempos de incerteza. Portanto, a piora ou melhora da confiança, ainda que chame a atenção, não deve ser considerada um fator chave para qualquer projeção de crescimento americano. Ainda assim, o gráfico do Goldman Sachs sugere que a melhora na confiança oferece um sinal positivo ao crescimento econômico.
Fonte: Mike Zaccardi on X, 28/mai/2025
Corroborando a análise acima, o Flash PMI de maio revelou um crescimento da atividade empresarial nos EUA, além de uma melhora das expectativas para a produção futura em relação às mínimas registradas em abril:
Fonte: PMI S&P Global, 22/mai/2025
É claro que nem tudo são flores e as preocupações com o impacto negativo das tarifas sobre a demanda, as cadeias de suprimentos e os preços persistem. Os pedidos de exportação continuaram a cair, com uma queda especialmente acentuada no setor de serviços, enquanto os atrasos na cadeia de suprimentos se intensificaram e os preços cobrados por bens e serviços dispararam em uma extensão que não era vista desde agosto de 2022, devido principalmente às tarifas. Os estoques de insumos industriais, por sua vez, apresentaram o maior aumento já registrado, à medida que as empresas buscavam se proteger contra novos problemas relacionados a tarifas.
Ainda assim, o dado veio acima do esperado pelo mercado e reforça essa percepção de melhora dos níveis de atividade.
Na quinta-feira (29), tivemos a revisão do PIB americano do primeiro trimestre de 2025, apresentando uma queda de 0,2% – menor do que a reportada previamente. Essa contração é explicada tanto pelo aumento de 41,3% nas importações, especialmente bens de consumo e de capital, quanto por uma queda de 5,1% nos gastos do governo, tendo sido parcialmente compensada por ganhos em investimentos em estoques privados, gastos do consumidor em serviços e exportações. Incêndios florestais no sul da Califórnia também impactaram negativamente a atividade econômica.
Fonte: The Daily Shot, 30/mai/2025
Sobre o PIB, além da revisão do dado já divulgado, aproveito para trazer aqui um estudo conduzido por Torsten Slok, economista-chefe da Apollo Global Management, que mostra a forte contribuição do segmento de data centers à economia americana. Segundo ele, a construção de data centers adicionou 1 p.p. (ponto percentual) ao crescimento do PIB dos EUA no 1T25, de acordo com o gráfico abaixo. Ainda segundo Torsten, este é um fator que seguirá sendo um importante impulso para o crescimento econômico do país nos próximos anos.
Fonte: Apollo Academy.com, 28/mai/2025
De uma forma geral, chama a atenção que, passado o pior momento de receio com as tarifas e uma guerra comercial entre países, temos visto dados melhores do que os esperados nos EUA. Esse cenário pode ser observado no gráfico abaixo do Índice de Surpresa Econômica, do Citigroup:
Fonte: The Daily Shot, 28/mai/2025
O relatório divulgado pelo Departamento de Comércio, na última sexta-feira (30), mostrou que o índice de preços de despesas de consumo pessoal (PCE), a medida de inflação preferida do Federal Reserve, subiu 0,1% em abril. Já a taxa de inflação anual ficou em 2,1%, permanecendo abaixo da expectativa de 2,2% do mercado. O PCE núcleo, que exclui alimentos e energia, também teve um aumento de 0,1% no mês e chegou a 2,5% na base anual, ligeiramente abaixo dos 2,6% previstos. Os gastos do consumidor desaceleraram para um aumento de 0,2%, contra 0,7% em março, enquanto a renda pessoal subiu 0,8% e superou as expectativas.
Fonte: Bloomberg, elaboração Avenue
Apesar dos receios com as tarifas e a sua repercussão em termos de aumentos de preços, o impacto sobre o consumidor não se mostrou evidente nos dados de abril. A postergação da aplicação de tarifas e a desaceleração da economia podem explicar esse movimento. Entendemos que, apesar da pressão do presidente Trump e da evolução recente dos dados, o Banco Central americano deverá seguir adotando uma postura de cautela sobre futuros cortes de juros devido às incertezas das tarifas, enquanto aguarda a evolução de dados relacionados ao mercado de trabalho.
E falando em juros, a ata da última reunião do Federal Reserve (6 a 7 de maio) revelou que os dirigentes estavam preocupados sobre possíveis impactos das tarifas na inflação em meio a um cenário misto de incerteza elevada, crescimento econômico e mercado de trabalho equilibrado:
Ao considerar as perspectivas para a política monetária, os participantes concordaram que, com o crescimento econômico e o mercado de trabalho ainda sólidos e a política monetária atual moderadamente restritiva, o Comitê estava bem-posicionado para aguardar mais clareza sobre as perspectivas para a inflação e a atividade econômica.
O Comitê de Política Monetária (FOMC) também manteve a taxa de juros inalterada entre 4,25% e 4,5%, com uma abordagem cautelosa ante a incerteza sobre os impactos das políticas fiscal e comercial:
Os participantes concordaram que a incerteza sobre as perspectivas econômicas aumentou ainda mais, tornando apropriado adotar uma abordagem cautelosa até que os efeitos econômicos das diversas mudanças nas políticas governamentais se tornem mais claros … Os participantes observaram que o Comitê pode enfrentar escolhas difíceis se a inflação se mostrar mais persistente e caso as perspectivas de crescimento e emprego enfraqueçam.
Ficou claro que o FOMC adotou a postura do esperar para ver. Em meio a tantas incertezas sobre possíveis impactos inflacionários, efeitos negativos no crescimento e enfraquecimento do mercado de trabalho, a melhor atitude considerada pelos dirigentes do Fed foi a de não fazer nada por enquanto e aguardar se algum desses cenários vai acontecer de fato.
Na última semana, o foco do mercado esteve no resultado das ações da Nvidia, que destacamos aqui junto com outros dois balanços do segmento de varejo:
Vale lembrar que na página Resultados Trimestrais – Temporada de balanços nos EUA você encontra um acompanhamento completo das demais empresas.
Como de praxe, a primeira semana do mês traz uma agenda carregada de indicadores econômicos, com foco no mercado de trabalho:
Também temos no radar a divulgação dos PMIs da indústria e de serviços, na segunda (02) e na quarta-feira (04), respectivamente.
Confira abaixo a agenda completa para os próximos dias:
Do outro lado, a agenda de resultados dá uma esfriada, com uma quantidade bem menor de empresas do S&P 500 divulgando os seus números:
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Aquele abraço!
William Castro Alves
Estrategista-chefe da Avenue Securities
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