Avenue

Por

William Castro

Formado em economia pela UFRGS – RS. Em 2004, iniciou sua carreira na Solidus Corretora, com passagens pelo Koliver Merchant Bank e Banco Alfa. Foi sócio, analista-chefe e um dos principais porta-vozes da XPInvestimentos. Também foi sócio e líder de gestão da VGRGestão de Recursos. Possui as certificações Series 7 e 24. É estrategista-chefe, sócio e porta voz da Avenue desde 2018.

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A SEMANA QUE PASSOU NO MERCADO E OS SEUS IMPACTOS

 


 

Nesta última semana tivemos diversos destaques importantes no mercado global.

A segunda-feira (27) já começou agitada com o modelo de AI (Inteligência Artificial) DeepSeek proporcionando um sell-off (quedas acentuadas) em ações de tecnologia.

Mas o que é esse tal de DeepSeek? O que faz? Como vive? O que come?

O DeepSeek é basicamente um modelo de IA fundado pelo empresário Liang Wenfeng e viabilizado por meio de um fundo de hedge chinês chamado High-Flyer Quant que, de acordo com a imprensa internacional, administra cerca de US$ 8 bilhões em ativos.

Na verdade, o que chamou a atenção de todos é o fato de ele ter gerado resultados satisfatórios e/ou muito semelhantes aos apresentados pelo Llama 3.1 da Meta, o GPT-4o da OpenAI e o Claude 3.5 Sonnet da Anthropic, em um conjunto de testes e problemas complexos de matemática e codificação.

Além desses resultados importantes, o DeepSeek foi desenvolvido em apenas dois meses, com menos de US$ 6 milhões investidos (cerca de 10% do valor gasto com o Chat GPT, por exemplo) e usando chips de capacidades reduzidas da Nvidia.


Fonte: Reuters, 31/jan/2025

 

Como o mercado reagiu ao episódio?

Mal. O evento catalisou um movimento de correção no curto prazo provocado pelo questionamento sobre a real necessidade dos atuais investimentos massivos no setor, tendo em vista os resultados apresentados, o que em nossa visão é um ponto bastante válido. Tal questionamento se mostra ainda mais sensível para as empresas de hardware do segmento de semicondutores, um setor tradicionalmente cíclico que vinha surfando um bom momento no mercado com todos os investimentos anunciados no desenvolvimento de modelos de AI.

Para se ter uma ideia, o mercado de ações americano perdeu mais de US$ 1 trilhão em valor de mercado em um único dia, no fatídico 27 de janeiro de 2025. Tivemos um recorde histórico de perda de valor de mercado em empresas listadas nos Estados Unidos, com a Nvidia (NVDA) sofrendo uma perda de US$ 589 bilhões após uma queda de cerca de 17% – vide gráfico abaixo. Para colocar em perspectiva, esse montante ultrapassa em 6 vezes o valor de mercado total da Petrobras (US$ 85,7 bilhões, na mesma data).


Fonte: The Daily Shot – 28/jan/2024

 

Ao longo da semana, as ações de tecnologia conseguiram recuperar parte das quedas, repercutindo a divulgação de resultados e com procura de alguns investidores por papéis descontados após as quedas de segunda-feira.

Se quiser saber mais sobre o tema, leia aqui a análise Avenue Now – DeepSeek e o sell-off em ações de Tecnologia, publicada no blog da Avenue.

 

INÍCIO TURBULENTO EM SEMANA RECHEADA DE DADOS ECONÔMICOS IMPORTANTES

 

Em uma semana importante que contou com a reunião do FOMC (Comitê Federal de Mercado Aberto) e a consequente decisão sobre a taxa de juros americana, o mercado também ficou de olho em diversos outros dados econômicos que abordaremos mais detalhadamente a seguir, como:

 

Agora faremos uma síntese dos destaques de cada um deles para melhor consolidarmos a visão do mercado sobre a semana que passou.

 

PMI de janeiro

Além de medir a expansão (>50) ou contração (<50) da economia americana nos setores de serviços e indústria mensalmente, o PMI (ou Índice de Gestores de Compras) oferece bons insights sobre as condições de negócios no país.

Expectativa x Realidade – Para janeiro, o PMI Industrial esperado era de 49,8 e o número divulgado foi de 50,1. Já o PMI de Serviços apresentado foi de 52,8 ante o índice estimado em 56,4. O PMI Composto, que anteriormente estava em 55,4, caiu para 52,4 na leitura atual.

A pesquisa Flash PMI de janeiro mostrou certa desaceleração no ritmo da atividade dos serviços, após meses de uma tendência bastante forte observada no setor – o gráfico abaixo evidencia isso. Tivemos ainda um retorno de crescimento da indústria (manufatura) pela primeira vez nos últimos seis meses. No Composto, esse crescimento mais lento deriva também de condições meteorológicas adversas que foram relatadas como um obstáculo à atividade por algumas empresas.


Fonte: PMI S&P Global, 24/jan/2025

 

Confiança do Consumidor em janeiro

O Índice de Confiança do Consumidor Americano mede o otimismo ou pessimismo dos consumidores dos EUA em relação à situação econômica atual e futura, bem como as suas expectativas sobre renda, emprego e condições para compras.

O dado apresentou queda no mês de janeiro com a leitura de 104,1, ficando abaixo dos 105,7 esperados pelo mercado. Já o indicador de dezembro foi revisado para cima (de 104,7 para 109,5), mas ainda assim conservou-se abaixo da leitura anterior referente a novembro.

Segundo Dana M. Peterson, economista-chefe do The Conference Board: a confiança dos consumidores tem oscilado num intervalo relativamente estável e estreito desde 2022. Janeiro não foi exceção. O índice enfraqueceu pelo segundo mês consecutivo, mas ainda permaneceu nessa faixa, mesmo que na parte inferior.


Fonte: The Conference Board, 28/Jan/2025

 

PIB do 4T24 e de 2024

O PIB (Produto Interno Bruto) é o valor de todos os bens e serviços produzidos dentro de um país em um determinado período, servindo como o principal indicador da saúde econômica de uma nação ao refletir o crescimento ou a contração de sua economia.

Expectativa x Realidade – Considerando a taxa anualizada para fins comparativos, o resultado anterior do PIB do terceiro trimestre de 2024 foi de +3,1%. A expectativa para o quarto trimestre do ano passado era de um crescimento de +2,5%, mas o dado realizado foi de +2,3%. Para o ano fechado de 2024, o PIB revelou um crescimento de 2,8%, comparável ao número de 2,9% registrado em 2023, puxado principalmente pelo consumo interno e pelos gastos do governo.


Fonte: WSJ – 30/jan/2025

 

Apesar de levemente abaixo do esperado, o dado reforça a visão da resiliência da economia americana e principalmente do consumidor americano, corroborando o cenário de soft ou no landing que tanto debatemos ao longo do ano passado.

 

PCE de Dezembro

O PCE (Índice de Preços das Despesas de Consumo Pessoal, em português), indicador de inflação mais utilizado pelo Banco Central dos Estados Unidos, mede a evolução dos preços de bens e serviços adquiridos pelos consumidores americanos, sendo uma métrica semelhante ao CPI (Índice de Preços ao Consumidor), com algumas diferenças na sua forma de medição.

Expectativa x Realidade – A expectativa para o índice cheio do PCE era de +0,3% m/m e de +2,6% a/a, sendo que os dados realizados foram exatamente de +0,3% m/m e de +2,6% a/a. Para o núcleo do PCE, a expectativa era de +0,2% m/m e de +2,8% a/a, e os dados realizados foram… de +0,2% m/m e de +2,8% a/a! Resumindo, os dados vieram totalmente em linha com o que o mercado esperava, indicando que o caminho até a meta de 2% do Fed será desafiador e possivelmente mais longo do que o inicialmente antecipado.

 

 

DECISÃO SOBRE A TAXA DE JUROS: A CHAMADA SUPER QUARTA

Na última quarta-feira (29), tivemos a reunião do FOMC, com a posterior decisão sobre a taxa de juros americana. Esse dia também se configurou como uma Super Quarta. Mas o que significa esse termo?

A Super Quarta é uma data crucial no calendário financeiro, em que tanto o Banco Central do Brasil quanto o Federal Reserve dos EUA anunciam suas decisões sobre as taxas de juros simultaneamente. Por isso, investidores e analistas se preparam com antecedência para esta agenda que carrega muitas expectativas nos mercados, sabendo que mudanças na Selic e na taxa de juros americana têm o poder de alterar o fluxo de capital, afetar o câmbio e influenciar estratégias de investimento.

Agora com relação aos juros americanos, “zero novidade”. O Fed manteve a sua taxa de referência da economia (Fed Funds Rate) no intervalo de 4,25% a 4,50%, conforme amplamente aguardado pelo mercado.


Fonte: Bloomberg. Elaboração: Avenue Intelligence – 29/jan/2025.

 

Alguns highlights do comunicado emitido pelo FOMC:

  • A decisão foi unânime entre os membros do Comitê;
  • O Fed removeu do seu comunicado o comentário relativo ao “progresso da inflação em direção a meta”;
  • Houve também uma alteração na leitura feita sobre o mercado de trabalho americano, com a mudança de uma frase presente no comunicado de dezembro que passou de “as condições do mercado de trabalho têm se tornado mais favoráveis” para “o mercado de trabalho permanece sólido”.

 

Além do comunicado, é costume o presidente do Fed, Jerome Powell, conceder uma entrevista coletiva a jornalistas de diversos meios de comunicação. E desta vez não foi diferente:

  • Powell destacou que o mercado de trabalho, apesar de resiliente, não tem gerado pressões inflacionárias – e que ele tampouco espera ver sinais de deterioração laboral;
  • O porta-voz evitou comentar sobre as políticas de Donald Trump, mencionando que ainda não conversou com o novo presidente dos EUA. Segundo Powell, o Fed tem feito diversas análises sobre os impactos econômicos de diferentes cenários, incluindo políticas tarifárias, fiscais e migratórias, mas o FOMC não atuará com base em especulação, visto que a política monetária se baseia em dados concretos;
  • Quando perguntado sobre a possibilidade de um corte de juros na reunião de março, Powell afirmou que o Fed “não tem pressa para cortar juros”, dada a forte economia, o mercado de trabalho e os dados de inflação;
  • Sobre a taxa neutra, o Powell comentou que é praticamente impossível saber disso com precisão, mas que ele acredita que o Fed ainda está significativamente acima desse nível quando se pensa a longo prazo;
  • Por fim, ele afirmou que, embora o progresso continue, o FOMC precisa observar mais avanços em direção à meta de inflação de 2%. Powell ressaltou que a meta não será discutida na revisão de cinco anos das atividades do Banco Central americano, já que este alvo de 2% tem servido como um objetivo de longo prazo, sem intenções de alterá-la por enquanto.

 

No Brasil, o Copom (Comitê de Política Monetária) subiu os juros do país em 1%, chegando a 13,25% ao ano, de acordo com o patamar esperado.

 

 

RESULTADOS CORPORATIVOS

Além dos diversos dados econômicos destrinchados acima, seguimos com a safra de balanços do 4T24 nos EUA. Para esta Weekly, destacamos cinco resultados que movimentaram o mercado recentemente:

 

  • T-Mobile (TMUS): A empresa de telecomunicações divulgou um guidance otimista para o ano de 2025. A empresa espera um EBITDA entre US$ 33,1 bilhões e US$ 33,6 bilhões, ante uma estimativa de consenso de US$ 33,35 bilhões. A T-Mobile superou a expectativa de lucros e receitas no quarto trimestre de 2024;
  • United Parcel Service (UPS): A empresa de entregas disse na quinta-feira (30) que chegou a um acordo com a Amazon, maior cliente da UPS, para “reduzir o seu volume em mais de 50% até o segundo semestre de 2026”;
  • ServiceNow (NOW): A empresa de software deu uma fraca orientação de receita para o primeiro trimestre de 2025. A ServiceNow prevê receitas entre US$ 2,995 bilhões e US$ 3 bilhões, abaixo da estimativa de mercado de US$ 3,03 bilhões. As previsões para o novo ano também ficaram abaixo das expectativas;
  • IBM (IBM): A empresa de tecnologia divulgou os seus resultados trimestrais com lucros acima dos esperados e um guidance A IBM relatou lucro por ação ajustado de US$ 3,92, enquanto os analistas do mercado esperavam US$ 3,78 por ação. A receita foi de US$ 17,55 bilhões, praticamente em linha com as expectativas;
  • Microsoft (MSFT): A empresa da tecnologia reportou previsões de receitas mais fracas do que as esperadas. A Microsoft prevê receitas para o próximo trimestre entre US$ 67,7 bilhões e US$ 68,7 bilhões, enquanto os analistas aguardavam um guidance em torno de US$ 69,78 bilhões.

 

Também tivemos outros nomes importantes divulgando os seus números, como a AT&T, a Boeing, a ASML, a Meta, a Tesla, a Mastercard, a Apple, a Exxon Mobil e a Chevron, dentre outras.

Aqui na Avenue fazemos uma cobertura completa dos resultados das companhias americanas, com análises exclusivas elaboradas pelo nosso time de especialistas e disponibilizadas no link: Resultados Trimestrais – Temporada de balanços nos EUA.

  

IMPACTOS NO MERCADO

 


 

A SEMANA QUE SE INICIA…

 

O foco desta semana estará voltado para: (i) dados de emprego; (ii) resultados corporativos e (iii) novos desdobramentos das políticas tarifárias do governo de Donald Trump.

  • Na próxima terça-feira (4), teremos os dados das ofertas de emprego do relatório JOLTS de dezembro e a divulgação dos números da Alphabet (GOOG; GOOGL), controladora do Google;
  • Já na quarta-feira (5), serão publicados os dados de Variação de Empregos Privados – ADP de janeiro;
  • Na quinta-feira (6), sairão os dados atualizados de seguro-desemprego, além de outros balanços relevantes, com a Amazon (AMZN) divulgando os seus resultados após o fechamento do pregão;
  • Por fim, seguindo a tradição de toda primeira sexta-feira no mês, no dia 7 teremos o anúncio do Payroll (relatório de emprego não-agrícola) de janeiro. Sua leitura representa o número de novos postos de trabalho criados nos EUA, desconsiderando os trabalhadores do setor primário.


Para fechar a coluna desta semana, confira abaixo o calendário de resultados previstos para os próximos dias:


 

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Aquele abraço!

William Castro Alves

Estrategista-chefe da Avenue Securities

 


 

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William Castro

Formado em economia pela UFRGS – RS. Em 2004, iniciou sua carreira na Solidus Corretora, com passagens pelo Koliver Merchant Bank e Banco Alfa. Foi sócio, analista-chefe e um dos principais porta-vozes da XPInvestimentos. Também foi sócio e líder de gestão da VGRGestão de Recursos. Possui as certificações Series 7 e 24. É estrategista-chefe, sócio e porta voz da Avenue desde 2018.

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