Avenue

Por

William Castro

Formado em economia pela UFRGS – RS. Em 2004, iniciou sua carreira na Solidus Corretora, com passagens pelo Koliver Merchant Bank e Banco Alfa. Foi sócio, analista-chefe e um dos principais porta-vozes da XPInvestimentos. Também foi sócio e líder de gestão da VGRGestão de Recursos. Possui as certificações Series 7 e 24. É estrategista-chefe, sócio e porta voz da Avenue desde 2018.

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A SEMANA QUE PASSOU NO MERCADO E OS SEUS IMPACTOS

 

 

A última semana foi mais amena em termos de dados econômicos, mas nem por isso podemos deixar passar batido a divulgação dos indicadores de atividade. A pesquisa Flash PMI de abril mostrou uma desaceleração no ritmo da atividade no setor de serviços acima do esperado pelo mercado, enquanto a indústria surpreendeu para cima. Já o Índice Composto do S&P Global US PMI caiu de 53,5 para 51,2 entre março e abril.

O crescimento da atividade do setor de serviços desacelerou, registrando a segunda expansão mais fraca nos últimos 12 meses, em resposta à evolução mais lenta da carteira de pedidos. A entrada de novos negócios apresentou o segundo menor ganho dos últimos 11 meses, resultado justificado pelos entrevistados devido à incerteza em torno da economia e às tarifas. Já a produção industrial voltou a crescer após a queda em março. Os novos pedidos feitos às fábricas aumentaram a uma taxa mais alta, atrelada ao aumento da demanda doméstica, contrabalanceada por uma queda na exportação. Embora as tarifas tenham, em alguns casos, supostamente ajudado a impulsionar novas vendas para clientes internos, a política comercial foi amplamente associada à queda das vendas externas.

 


Fonte: PMI S&P Global, 23/abr/2025

 

De acordo com Chris Williamson, Chief Business Economist da S&P Global Market Intelligence:

Os primeiros dados preliminares do PMI de abril apontam para uma desaceleração do crescimento da atividade no início do segundo trimestre, acompanhada por uma queda no otimismo em relação às perspectivas. Ao mesmo tempo, as pressões sobre os preços se intensificaram… a produção cresceu em abril em seu ritmo mais lento desde dezembro de 2023, indicando que a economia dos EUA está crescendo a uma modesta taxa anualizada de apenas 1,0%.

O gráfico abaixo compara o PMI (linha verde) com o PIB (linha cinza) dos EUA, demonstrando de maneira clara a relação entre ambos os indicadores.

 


Fonte: PMI S&P Global, 23/abr/2025

 

Tarifas e recessão?

O foco do mercado seguiu sendo os desdobramentos e o “disse que me disse” das tarifas.

Nesse sentido, a grande verdade é que não tivemos nenhuma novidade de forma concreta. Nenhum acordo sendo selado, cancelamento de tarifas ou arrefecimento da briga entre os EUA e a China. Podemos dizer que o newsflow da semana foi de neutro a positivo… tivemos especulações sobre possíveis avanços e isso trouxe certo otimismo ao mercado… mas de concreto mesmo, nada.

E o mercado segue bastante receoso de que haja uma escalada ainda maior nas tensões comerciais. Pesquisa do Bank of America Merrill Lynch mostra que este continua sendo o principal medo do mercado na economia atualmente:

 


Fonte: The Daily Shot, 21/abr/2025

 

Como reflexo, menos crescimento… Como reflexo de perspectivas mais complexas, temos visto revisões nas expectativas de crescimento da economia americana pelos analistas nos EUA, conforme gráfico abaixo. Há seis semanas, economistas esperavam que os EUA registrassem um crescimento de 2,3% no seu PIB, mas agora essa projeção caiu para 1,8%.

 


Fonte: Bloomberg.com, 14/abr/2025

 

De forma semelhante, na última semana o FMI reviu os seus números para o crescimento americano. Em suas novas projeções, o Fundo prevê uma perspectiva de crescimento dos EUA de 1,8% em 2025, o equivalente a uma queda de 0,9 ponto percentual em relação à previsão de janeiro. Esta nova avaliação inclui uma referência às tarifas recíprocas, mas exclui a pausa de 90 dias no aumento das taxas e a isenção para smartphones (fonte). Além das pressões da política comercial, o economista-chefe do FMI, Pierre-Olivier Gourinchas, acrescentou que o enfraquecimento da confiança do consumidor e dos indicadores de consumo também influenciaram a revisão para baixo.

Enquanto isso, no mercado de apostas, a probabilidade de recessão segue elevada…


Fonte: Kalshi.com, 22/abr/2025

 

Um ponto aqui que não podemos deixar de lado é que, se o crescimento da maior economia do mundo arrefecer, seria normal e razoável supor que também haverá um crescimento menor em outras partes do mundo. O gráfico abaixo compila os dados e o consenso de expectativas para o crescimento de economias emergentes:

 


Fonte: The Daily Shot, 23/abr/2025

 

Fed pode ajudar?

Outra notícia que ajudou o mercado na semana anterior foi uma postura mais “solidária” do Fed, com comentários de dirigentes na linha de que o Banco Central americano poderá agir se os dados demonstrarem arrefecimento da economia. O governador do Federal Reserve, Christopher Waller, disse que as empresas podem começar a demitir mais funcionários se níveis tarifários agressivos forem restabelecidos pelo governo Trump e que, nesse cenário, ele apoiaria cortes nas taxas para proteger o mercado de trabalho. Por sua vez, a presidente do Federal Reserve Bank de Cleveland, Beth Hammack, descartou um corte na taxa de juros em maio, mas afirmou que a instituição poderá agir em junho, caso haja evidências mais claras sobre a direção da economia.


 

Fontes: Bloomberg.com – Waller e Bloomberg.com – Hammack, 24/abr/2025

 

RESULTADOS

Na seara de resultados, nomes relevantes divulgaram os seus números. Até a última sexta-feira (25), tivemos 36% das empresas do S&P 500 anunciando os seus balanços, sendo que 75% delas apresentaram dados (lucros) melhores do que os esperados pelo mercado. Para esta Weekly, destacamos três resultados:

  • Tesla (TSLA): A Tesla apresentou números bem abaixo do esperado pelos analistas de mercado. No entanto, a expectativa em relação aos desenvolvimentos na produção do robotáxi e de robôs humanoides, aliada à notícia de que Musk reduzirá o seu tempo à frente do Departamento de Eficiência do Governo Americano (DOGE), repercutiu positivamente nas ações;
  • IBM (IBM): A International Business Machines Corp (IBM) trouxe números que superaram as estimativas do mercado e reiterou o seu guidance para o ano. Entretanto, o CEO Arvind Krishna indicou receio com os acontecimentos recentes: no curto prazo, a incerteza pode fazer com que os clientes hesitem e adotem uma abordagem de esperar para ver. Esse comentário, apesar da boa performance no ano, resultou na queda das ações da empresa;
  • Alphabet (GOOGL): A controladora do Google reportou um crescimento de receitas de 12% e de lucros acima de 40% no 1T25 versus o 1T24. Os números ficaram bem acima dos esperados pelo mercado. Além disso, a Alphabet destacou que o AI Overviews, recurso de IA exibido no topo dos resultados de busca, atingiu 1,5 bilhão de usuários mensais, contra 1 bilhão em outubro. Os resultados, bem como o comentário sobre AI, foram bem recebidos pelo mercado.

Na página Resultados Trimestrais – Temporada de balanços nos EUA, você encontra o acompanhamento completo das divulgações das empresas, com análises preparadas pelo nosso time de especialista.

 

IMPACTOS NO MERCADO


 

Renda Variável

Na renda variável, vivemos uma transformação de expectativas em números. Explico: depois de iniciarmos o ano com expectativas elevadas de crescimento dos lucros e da economia em geral, temos visto bancos e analistas revisarem suas projeções, incorporando o atual “mau humor” às perspectivas da economia americana e aos resultados das empresas.

Abaixo podemos ver como os analistas aceleraram as revisões de lucros para baixo das ações globais e dos EUA, com revisões líquidas se tornando fortemente negativas.


Fonte: The Daily Shot, 23/abr/2025

 

O gráfico seguinte compara a revisão de projeção para o S&P 500 no início do ano (círculos azuis) e a atual projeção (círculo preto) de diferentes bancos. Não obstante, outro aspecto nos chama a atenção: a elevada diferença ou discordância entre as projeções. Entre a visão mais otimista (nesse caso do Wells Fargo nos 7.007) para a mais pessimista (JP Morgan), a diferença é de 57% e ultrapassa 2.500 pontos, sendo a maior já registrada na compilação desses dados pela Bloomberg desde 2000. No geral, a média das projeções aponta para 6.067 pontos – o que representa ~15% de upside potencial.

 


Fonte: Bloomberg.com, 14/abr/2025

 

E o dólar?

Também tem chamado a atenção a performance do índice dólar, que há tempos não tinha um começo de ano tão desafiador.

 


Fonte: The Daily Shot, 21/abr/2025

 

RENDA FIXA  

Corroborando a coluna da semana passada, a despeito das dúvidas e questionamentos acerca da “confiabilidade” e “credibilidade” das instituições americanas, em especial dos investimentos em dólar, a verdade é que não houve redução da demanda por renda fixa, principalmente das Treasuries americanas.

De acordo com os últimos dados divulgados em 16 de abril (fonte), o total de títulos do Tesouro adquiridos por estrangeiros aumentou em US$ 290 bilhões, atingindo um recorde de US$ 8,82 trilhões em fevereiro. Segundo reportagem da bloomberg.com, as participações estrangeiras em Treasuries aumentaram 3,4% em fevereiro, sendo este o maior aumento mensal desde junho de 2021.

Dentre os principais compradores líquidos no período estão o Japão e o Canadá, país que adquiriu US$ 46,5 bilhões em títulos do Tesouro de longo prazo em fevereiro, compensando as vendas de janeiro. Japão e China, os dois maiores detentores individuais de títulos da dívida americana, também aumentaram as suas participações.

Vale lembrar que o relatório analisado se refere a fevereiro, ou seja, ao mês seguinte à posse de Trump e aos seus primeiros movimentos em relação às tarifas, mas anterior ao anúncio mais agressivo feito no último dia 02. As movimentações de abril serão divulgadas apenas em junho.

 


Fonte: Bloomberg.com, 16/abr/2025

 

Seguindo essa mesma linha com números mais atualizados, dados do Bank of America Merrill Lynch revelam que, nas últimas quatro semanas, houve o maior influxo de recursos para Treasuries desde março de 2023 – ocasião em que a quebra do Silicon Valley Bank catalisou um movimento de aversão a risco no mercado, justificando a elevada procura por títulos americanos.

 


Fonte: The Daily Shot, 25/abr/2025

 

Ainda assim, os dados do Tesouro reforçam o que tenho escrito inúmeras vezes por aqui: ao contrário de certas narrativas que circulam no mercado, não há falta de demanda. Mesmo diante de eventuais receios em relação à economia americana no curto prazo, os investidores estrangeiros continuam investindo nas Treasuries.

  

A SEMANA QUE SE INICIA…

Se as últimas duas semanas foram mais amenas em termos de indicadores econômicos, esta agora está carregada de dados importantes para medirmos a saúde da economia americana:

  • Na terça-feira (29), acompanharemos as divulgações da confiança do consumidor americano e do relatório JOLTs sobre o mercado de trabalho nos EUA;
  • Já na quarta-feira (30), teremos um dia cheio com a primeira leitura do PIB, a criação dos postos de trabalho no setor privado e os dados de inflação medidos pelo PCE;
  • Por fim, na sexta-feira (02) sairá o Payroll, relatório do mercado de trabalho americano.

Confira abaixo a agenda completa para os próximos dias:


 

Em paralelo, diversas empresas com relevância no S&P 500 também divulgarão os seus balanços. Segue calendário dos resultados programados para a semana:


 

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Aquele abraço!

William Castro Alves

Estrategista-chefe da Avenue Securities

 


 

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William Castro

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