Semana de altas e baixas, mas com o mercado americano fechando praticamente estável
03/05/2021
VISÃO DO ESTRATEGISTA
RESUMO
Tivemos uma semana de altas e baixas, mas com o mercado americano fechando praticamente estável. S&P 500 0,02%, Dow Jones -0,50% e o Nasdaq -0,39%. Na verdade, vimos um pouco mais do mesmo:
Esses pontos têm sustentado o mercado americano nas máximas.
Never bet against America: empresas superando as estimativas
Salvo exceções, o que temos visto até aqui são resultados trimestrais fortes, com as empresas com lucros e receitas bem acima do esperado. Colocando em contexto e em números, segundo o The Earnings Scout estimava-se que os lucros das empresas do S&P crescessem 12.2% ante o 1T2020.
Até o momento com 40% das empresas do S&P tendo reportado seus resultados, o que vimos foi um crescimento de lucros de 29.3%. Até o dia 27 de abril foram 180 empresas do S&P reportando seus números com 87% batendo as estimativas de lucros, 79% batendo as estimativas de receitas e ainda com 60% das empresas revisando para cima suas expectativas de lucro para o 2T2021. O gráfico abaixo do Deutsche Bank demonstra isso:
E parte relevante dessa melhor performance vis a vis às expectativas veio dos fortes resultados das big techs americanas.
As FAANGM (acrônimo para Facebook, Apple, Amazon, Netflix, Google e Microsoft) seguiram reportando números e lucratividade bem acima da média do mercado. O gráfico do Alpine Macro evidencia isso:
Conferência Berkshire
Aliás, aproveitando que citei o oráculo de Omaha, Warren Buffet, no sábado tivemos sua conferência anual. Sempre bom parar para ouvir o que a experiência de 60 anos como investidor tem a nos ensinar. Para quem não viu, acesse aqui para ver a conferência.
Mudança no paradigma econômico?
Na quarta-feira, o presidente Biden fez seu primeiro discurso ao Congresso detalhando uma agenda ambiciosa que pretende transformar o papel do governo federal. Como comentei acima, temos visto uma pré-disposição forte do atual governo em injetar recursos na economia como forma de fazê-la reagir do solavanco do Corona.
Biden está mudando a lógica que vimos nos últimos 40 anos de menor intervenção do estado na economia. Em 1933, Roosevelt assume como presidente recuperando o país da crise de 1929. Em 1969, quando Lyndon B. Johnson deixa o cargo, vemos o governo americano gastando mais e crescendo. Já em 1981, quando Regan se torna presidente, o governo federal diminui as intervenções e esse panorama dura até a presidência recente de Donald Trump. Enquanto isso, atualmente Biden está tentando iniciar uma nova expansão, uma mudança de paradigma. Muitos acreditam que isso possa ser um problema, outros veem como a solução.
Desavenças econômicas e conceituais a parte, vale listar os pacotes propostos até agora:
Somados temos o montante de US$6 trilhões em estímulos a serem pagos através do aumento de impostos sobre empresas e sobre os mais ricos. O pacote dessa semana prevê investimentos em acesso à educação, gastos médicos, benefícios fiscais, entre outros.
Podemos analisar esses pacotes de estímulos por dois ângulos: se por um lado pode impulsionar os gastos do consumidor, aumentar a educação e reduzir desigualdades, por outro, pode reduzir investimentos privados, o empreendedorismo, aumentar a dívida nacional e estimular a inflação.
Dólar caindo é sinônimo de oportunidade?
Até como reflexo de mais um pacote, vimos o dólar perder força no mundo todo. O índice dólar, que mede o desempenho da divisa americana contra uma cesta de moeda, chegou a apresentar queda de 3% desde as máximas atingidas em março. Contra o real também não foi diferente, apenas com inflexão (intensidade) maior. Apesar da alta de 4.6% acumulada no ano, o dólar chegou a estar se desvalorizar mais de 9% desde as máximas de março (R$ 5.87) até a mínima de R$ 5.33 dessa semana.
Para aqueles que costumam reclamar que o dólar não cai… bom, caiu.
Pense nisso: dólar versus bolsa
Interessante notar que o dólar caiu frente ao real e isso se deu, como de praxe, em um cenário de volatilidade baixa, mercado calmo e bons ventos soprando favoravelmente para o mercado de ações. E o que acontece nesse cenário? Bolsas nas máximas. O cliente espera para pagar 5% ou 10% mais barato no câmbio, mas acaba comprando ações depois dessas terem subido 20% ou 30%, por exemplo.
Cito aqui apenas algo conceitual, mas que visa te ensinar do seguinte: o real é uma moeda de risco e anda com os ativos de risco. Performa bem quando os ativos de risco vão bem e, por isso, não deveria ser a variável chave na hora de você decidir sobre seus investimentos nos EUA.
Pense nisso também: a bolsa na máxima não é desculpa
Apesar de muitos olharem um gráfico do S&P e se assustarem, pois ele se encontra nas máximas, gosto de lembrar que o índice, apesar de composto por mais de 500 empresas, possui certa concentração. Isso quer dizer que as 50 maiores empresas do índice respondem por cerca de 50% de sua performance. Ou seja, as demais 450 empresas respondem por toda a outra metade de performance do índice. Sendo assim, talvez o que esteja nas máximas são apenas essas 50 empresas? Será que não existem oportunidades nas demais 450? Ou ainda, saindo do S&P 500, será que não existem oportunidades nos demais 5.500 ativos do mercado americano?
LEITURAS INTERESSANTES…
Até semana que vem.
WILLIAM CASTRO ALVES