Juros Americanos e seus impactos no mercado
25/03/2024
25/03/2024
25/03/2024
Nas últimas duas semanas, tenho chamado a atenção para a questão sempre presente do Risco-Brasil, algo que afeta a vida de todo investidor brasileiro e, por isso, nunca deve ser ignorado. Para quem não leu, convido à leitura:
Risco-Brasil e a importância de diversificação (avenue.us)
Mais uma vez, o Risco-Brasil e seus impactos nos investimentos (avenue.us)
Mas entrando no tema deste Insights, gostaria de trazer algumas atualizações de cenário, que são sempre importantes para quem investe.
Na semana passada, tivemos um evento bastante relevante que foi a decisão de juros nos EUA. Conforme esperado, o Banco Central americano manteve a taxa básica de juros americana em uma faixa entre 5,25% e 5,50%. No entanto, além disso, tivemos vários pontos importantes a serem analisados na decisão do FOMC (comitê de política monetária).
Mudanças nas projeções econômicas. Em consonância com o que temos observado, e que irei demonstrar adiante neste artigo, o Fed admitiu que o crescimento econômico tem sido maior do que o esperado aqui nos EUA – mudança na projeção do PIB (GDP). Além disso, junto com o maior crescimento, ele também admitiu que a inflação (PCE), especialmente em seu núcleo, pode ser maior do que sua estimativa em dezembro. No entanto, o Fed manteve as projeções para os juros em 4,6% ao fim de 2024, o que significa que o Fed continua vendo espaço para 3 cortes de juros em 2024. A tabela abaixo resume as mudanças de projeções – foco na comparação entre as projeções de dezembro e agora em março.”
Fonte: Federal Reserve – 20/mar/2024
Menos dúvidas? O gráfico de pontos do Fed mostrou uma menor dispersão de opiniões acerca dos juros no futuro. Ainda há um número relevante de dirigentes que veem menos espaço para cortes, mas, ao julgar pelo famoso gráfico de pontos do Fed, pelo menos para 2024, um número maior de dirigentes vê a taxa do Fed Funds terminando entre 4,5% e 4,75%.
Fonte: Zerohedge on X – 20/mar/2024
A fala de Jerome Powell direciona os mercados. Além do que já foi comentado, a entrevista do presidente do Fed, Jerome Powell, é de grande relevância para orientar os mercados. Em resumo, ele reforçou a resiliência da economia americana, do mercado de trabalho e o compromisso do banco central em trazer novamente a inflação para sua meta de 2%.
No entanto, o ponto mais relevante de sua fala foi o fato de Powell reforçar a visão do comitê de que há espaço para cortes de juros em 2024, mesmo considerando o cenário de uma economia mais aquecida. Algumas falas denotam esse “compromisso” com possíveis cortes de juros:
“Uma forte contratação no mercado de trabalho, por si só não seria motivo para adiar os cortes nas taxas”.
“Acho que eles (dados recentes de inflação) realmente não mudaram a história geral, que é a da inflação caindo gradualmente em um caminho às vezes acidentado em direção a 2%”.
“Acreditamos que a nossa taxa de juros está provavelmente no seu pico dentro do ciclo atual da economia e que, se a economia evoluir conforme o esperado, provavelmente será apropriado começar a reduzir a política de aperto monetário em algum momento deste ano”. (Fonte)
A conclusão e interpretação decorrentes da decisão de juros, relatórios e da fala do presidente do Fed indicam que ainda será necessário acompanhar os dados e observar a evolução da inflação para afirmar se os juros irão ceder. No entanto, apesar dos dados mais fortes do que o esperado recentemente, a julgar pela fala de Powell, o Fed continua vendo espaço ou acreditando que os juros possam encerrar o ano próximo a uma faixa entre 4,50% e 4,75%. Mais uma vez, Powell defendeu que a taxa de juros esteja muito provavelmente em seu pico. Abaixo está o gráfico que compara os últimos ciclos de aumento de juros.
Fonte: Chartr Newsletter – 20/Mar/2024
Cenário de juros. Refletindo o que comentei acima na conclusão, o mercado voltou a elevar a probabilidade de cortes de juros começando em junho.
Fonte: CME FedWatch Tool – 21/mar/2024
Então, podemos afirmar que o cenário de três cortes de juros em 2024 permanece como o cenário base mais provável. Com isso, entendemos que a janela de oportunidade para contratar taxas mais elevadas está se estreitando cada vez mais. Vemos títulos com vencimentos de 3 a 5 anos como a posição mais adequada na curva de juros, com títulos do governo americano e títulos de grau de investimento (investment grade) oferecendo um bom risco-retorno.
Isso se deve à liquidez abundante, associada à redução da volatilidade e ao cenário benigno que temos observado nos mercados, o que levou os spreads de títulos corporativos de alto risco (high yield) ao menor patamar em 2 anos – spread aqui é o quanto esses títulos pagam a mais em comparação com os Treasuries. Veja no gráfico abaixo como esses spreads diminuíram de meados de 2022 até agora.
Fonte: The Daily Shot – 19/mar/2024
E mesmo em bonds de maior qualidade, como os títulos corporativos investment grade, o spread se reduziu. A grande diferença aqui é que você pode conseguir uma remuneração melhor que a Treasury sem estar correndo um risco de crédito maior e, por isso, mesmo com spreads tendo se reduzido, eles são interessantes.
Fonte: The WSJ – 20/mar/2024
Nas ações. O mercado de renda variável gostou do tom do discurso de Powell e da percepção de que seguimos com um cenário de cortes de juros acontecendo em 2024. Com isso, tivemos mais um dia em que o S&P 500 atingiu máxima histórica. Até aqui, em 2024, o índice já teve 19 dias de máximas históricas alcançadas este ano.
Fonte: Charlie Bilello on X – 20/mar/2024
A questão é que a alta acumulada desde o final de outubro chama atenção. Colocando isso em perspectiva, o S&P 500 adicionou US$ 10 trilhões em capitalização de mercado desde a mínima de 27 de outubro – conforme o gráfico abaixo ilustra. De lá para cá, o índice subiu 28% em menos de 100 dias de negociação. Ainda em contexto, o S&P 500 adicionou cerca de 4 vezes o valor de mercado da Apple (AAPL) em apenas 5 meses – fonte.
Fonte: TradingView – 21/mar/2024
1) Euforia?
O mercado parece adotar uma postura excessivamente otimista, o que, segundo alguns indicadores, aponta para uma certa euforia, algo sempre perigoso quando se trata de investimento em ações. Houve um influxo de recursos para a bolsa e uma maior exposição por parte dos gestores ativos à renda variável – o gráfico abaixo mostra o Índice de Exposição NAAIM, que representa a exposição aos mercados de ações dos EUA reportada pela National Association of Active Investment Managers.
O receio aqui é que parte desse fluxo seja derivado de um sentimento de FOMO, o “fear of missing out” – o medo de perder possíveis altas no mercado. E digo isso também porque, ao compararmos com a percepção da economia, parece haver um descolamento entre o sentimento do mercado e o sentimento econômico. Não necessariamente eles têm que andar juntos, mas tendem a convergir.
2) Encareceu…
O segundo ponto que preocupa é que, apesar de ter havido certa expansão de lucros, parte não desprezível das recentes altas se refere às expectativas com o futuro. Enquanto o futuro não acontece, a verdade é que a avaliação da bolsa americana (considerando aqui o S&P 500) tornou-se cara após a alta de cerca de 10% em 2024. O atual patamar do múltiplo Preço/Lucro estimado do S&P 500, de cerca de 21x, está bem acima da média de 16,6 dos últimos 30 anos, ou ainda mais de 1 desvio (19,9x) acima dessa média – fonte. Quando olhamos para o setor de tecnologia, ele negocia a múltiplos ainda maiores – como mostra o gráfico abaixo.
Fonte: The Daily Shot – 21/mar/2024
E obviamente, as altas observadas no setor de tecnologia este ano fazem com que muitos acreditem que esse seja um posicionamento ‘crowdeado’, em outras palavras, que talvez esse seja um posicionamento já muito difundido pelo mercado e que talvez haja menos espaço para novas altas.
Fonte: The Daily Shot – 19/mar/2024
Para acabar, a agenda de resultados da semana:
William Castro Alves
Estrategista-chefe da Avenue Securities
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