Avenue

Por

William Castro

Formado em economia pela UFRGS – RS. Em 2004, iniciou sua carreira na Solidus Corretora, com passagens pelo Koliver Merchant Bank e Banco Alfa. Foi sócio, analista-chefe e um dos principais porta-vozes da XPInvestimentos. Também foi sócio e líder de gestão da VGRGestão de Recursos. Possui as certificações Series 7 e 24. É estrategista-chefe, sócio e porta voz da Avenue desde 2018.

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O que podemos esperar em termos de economia em um governo Trump ou Kamala?

 

Essa é uma pergunta recorrente de muitos dos brasileiros que investem hoje parte de sua poupança na maior economia do mundo. Com intuito de responder essa indagação e colocar você a par de tudo que se passa nesse contexto de eleições nos EUA, escrevemos esse texto.

 

Mas, antes, algumas ressalvas importantes.

 

Estamos em um período de campanha eleitoral, onde os candidatos visam ganhar apoio do eleitorado com suas propostas nos diferentes campos. Isso quer dizer que muito do que se propõe hoje pode não vir a se concretizar e deve ainda passar por um arranjo e uma negociação com o Congresso.

O objetivo desse artigo é apenas resumir algumas das principais propostas de ambos os projetos, sem análises e/ou julgamentos de seus possíveis impactos econômicos.

As propostas aqui apresentadas foram compiladas a partir dos planos econômicos, bem como dos discursos e comentários de ambos os candidatos.

PROPOSTAS ECONÔMICAS – KAMALA HARRIS

Em geral, as propostas da atual vice-presidente Kamala Harris se concentram ou se propõem a buscar uma redução de desigualdades, um apoio aos trabalhadores e em áreas como educação e saúde. Ela busca reduzir desigualdades sistêmicas, ao mesmo tempo em que se propõe a investir em políticas sustentáveis e infraestrutura.

 

Fonte.
 

 

Podemos dividir as propostas democratas em cinco frentes com diferentes ações em cada uma delas.

1 – Trabalhadores, salários e preços

  • Aumento do salário-mínimo: Kamala defende o aumento do salário-mínimo federal para US$ 15 por hora.
  • Sindicatos fortes: ela defende o fortalecimento dos sindicatos e dos direitos dos trabalhadores de negociar coletivamente por melhores salários e condições de trabalho. Seu plano inclui proteções contra táticas de destruição de sindicatos e incentiva a filiação sindical.
  • Licença familiar remunerada: o plano de Kamala inclui uma proposta de licença familiar remunerada, permitindo que os trabalhadores tirem uma folga por motivos familiares ou médicos sem perder renda.
  • Controle de preços: parte polêmica de seu plano, Kamala falou contra aquilo que chamou de “aumentos abusivos de preços de alimentos” sem especificar o que seriam considerados esses aumentos abusivos. Segundo ela, já nos seus 100 primeiros dias no cargo, ela irá enviar ao Congresso uma proposta que limite os aumentos de preços para produtores de alimentos. Ela disse que autorizaria a Federal Trade Commission (FTC) a aplicar multas substanciais contra redes de supermercados que implementassem aumentos de preços “excessivos” (fonte). Ela também quer usar reguladores governamentais para reprimir fusões e aquisições entre grandes empresas da indústria alimentícia que, segundo a vice-presidente, contribuíram para preços mais altos (fonte).

 

2 – Saúde

  • Questão dos custos dos medicamentos: Kamala e seu plano se propõem reduzir os preços dos medicamentos e os custos gerais de assistência médica. Segundo ela, seu mandato irá intensificar os esforços que já foram feitos no governo Biden, no sentido de negociar a redução do custo dos medicamentos prescritos com os fabricantes. Para isso, ela propõe um teto em preços de determinados medicamentos e busca cortar os preços de alguns dos medicamentos mais caros e mais comumente usados ​​em cerca de 40% a 80% a partir de 2026. Além disso, ela pretende promover uma maior competição e aumentar a transparência nas práticas de preços das empresas farmacêuticas. Kamala reiterou seu compromisso com a Lei de Redução da Inflação de Biden, que inclui limitar os preços da insulina a US$ 35 por mês e limitar os custos anuais com medicamentos prescritos a US$ 2.000 (fonte).
  • Seguro público e saúde mental. Kamala apoia a criação de uma opção de seguro saúde público para aumentar a concorrência com alternativas privadas. O objetivo seria especialmente para trabalhadores que não contam com seguro patrocinado pelo empregador. Seu plano inclui expandir o acesso a serviços de saúde mental e elevar o financiamento para programas de saúde mental.
  • Cancelamento de dívidas médicas. Kamala promete trabalhar com entidades estaduais para cancelar US$7 bilhões em dívidas médicas de até 3 milhões de americanos qualificados. (fonte).

 

3 – Educação e cuidado infantil

  • Childcare: Kamala propõe expandir o Child Care and Development Block Grant (CCDBG), incluindo a ampliação dos créditos fiscais e o aumento do financiamento para a educação infantil. Ela propõe tornar permanente um crédito tributário de US$ 3.600 por criança que foi aprovado durante a pandemia e expirou em 2021, ao mesmo tempo em que oferece um novo crédito tributário de US$ 6.000 para famílias com recém-nascidos (fonte).
  • Bolsas estudantis: O plano de Kamala visa expandir as chamadas Pell Grants (subsídio que o governo federal dos EUA fornece aos estudantes que precisam dele para pagar a faculdade). Em suma, seria aumentar o valor máximo da bolsa e torna-las mais acessíveis.
  • Dívidas estudantis: tal qual foi executado durante o mandato Biden, Kamala propõe um plano de acesso a college for free em universidades públicas. O plano cobriria mensalidades e taxas para estudantes de famílias que ganham até US$ 125.000 por ano. Seu plano inclui medidas para tornar o perdão de empréstimos acessível e equitativo.

 

4 – Impostos e Incentivos

 

  • Aumentos de impostos: Kamala propõe aumentar os impostos corporativos de 21% para 28% caso vença as eleições em novembro (fonte). Anteriormente, Kamala apoiava uma alíquota de imposto corporativo de 35%, que era o nível de tributação até o ex-presidente Donald Trump sancionar a Lei de Cortes de Impostos e Empregos de 2017, reduzindo-a para uma alíquota de 21%.
  • Imposto sobre gorjetas: Kamala já comentou em alguns comícios sua intenção ou promessa de campanha de eliminar impostos sobre gorjetas. Segundo ela: “Quando eu for presidente, continuaremos nossa luta pelas famílias trabalhadoras, inclusive para aumentar o salário mínimo e eliminar impostos sobre gorjetas para trabalhadores de serviços e hospitalidade”, disse ela em um comício com membros do sindicato Nevada Culinary (fonte).
  • Impostos sobre rendas: seguindo promessa de Joe Biden, Kamala também defende o não aumento de impostos sobre aqueles que ganham menos de US$ 400.000,00 por ano (fonte). Seu plano cita ainda uma expansão de US$ 1.500 no crédito de imposto de renda disponível para indivíduos de baixa renda.
  • Incentivos e controles no setor imobiliário: ela quer incentivar o setor de construção visando reduzir a escassez de casas disponíveis no país – ela cita a construção de 3 milhões de novas casas nos próximos 4 anos. Sua ideia é a redução de impostos para construtoras que constroem propriedades para aqueles que vão comprar imóveis pela primeira vez. Ela também está propondo um fundo de US$ 40 bilhões para ajudar governos locais a encontrar soluções para a falta de oferta de moradias. Outra medida diz respeito ao Stop Predatory Investing Act, um projeto de lei que limitaria as isenções fiscais para grandes investidores e empresas de private equity que adquirem casas para aluguel em grandes quantidades. Kamala também diz que proporá fornecer até US$ 25.000 em assistência para a entrada na compra de um primeiro imóvel para americanos que pagaram o aluguel em dia por pelo menos 2 anos.

 

5 – Clima e infraestrutura

  • Green New Deal: Kamala endossou aspectos do Green New Deal de Biden, incluindo investimento em fontes de energia renováveis, reforma de edifícios para eficiência energética e criação de empregos verdes. Seu plano também envolve um investimento na modernização de infraestrutura, incluindo reparos de estradas, pontes e sistemas de transporte público, com o objetivo de impulsionar o crescimento econômico e a criação de empregos.
  • Justiça ambiental: ela apoia políticas voltadas para a redução da poluição em comunidades vulneráveis ​​e para garantir que as políticas ambientais protejam os mais afetados pelas mudanças climáticas.

 

 

PRINCIPAIS PROPOSTAS ECONÔMICAS – DONALD TRUMP

Em suma, o plano econômico de Trump visava estimular o crescimento por meio de cortes de impostos, desregulamentação e reformas comerciais, ao mesmo tempo em que se concentrava em investimentos em infraestrutura e independência energética. A abordagem buscava impulsionar o investimento empresarial e a criação de empregos, embora também enfrentasse críticas quanto ao seu impacto no déficit federal e na desigualdade de renda.



Fonte.
 

 

1 – Impostos

Quando Trump assumiu a presidência em 2017, estabeleceu o Tax Cuts e Jobs Act, que visou incentivar a atividade econômica essencialmente através da redução de impostos para empresas. Para essa eleição ele voltou a defender a questão, uma vez que essa medida irá expirar em 2025. Em suma, esse “Act” teve como principais pontos o seguinte:

  • Redução de impostos corporativos: essa nova lei introduzida por Trump reduziu de 35% para 21% os impostos às empresas americanas.
  • Impostos a indivíduos e deduções: foram reduzidos impostos em várias faixas de renda. Houve também aumento de deduções e simplificação na declaração de impostos para muitos americanos. Trump defendeu tornar os cortes de impostos individuais permanentes, argumentando que estender esses cortes continuaria a estimular o crescimento econômico e a criação de empregos.
  • Impostos sobre benefícios. Ele anunciou no final do mês passado que quer acabar com os impostos sobre os benefícios da Previdência Social. Atualmente, os idosos não pagam impostos sobre seus benefícios se ganharem menos de US$ 25.000/ano por indivíduo ou US$ 32.000/ano para casais.

 

2 – Política comercial

Talvez uma das suas maiores marcas enquanto presidente dos EUA foi seu embate com a China, no que ficou conhecido como uma guerra comercial com o principal parceiro econômico dos EUA na época. Durante seu mandato, Trump focou sua atuação em acordos em mesas de negociações diretas com os países ao invés de organismos multilaterais. Alguns exemplos de sua política comercial:

  • Impôs tarifas sobre produtos chineses para lidar com desequilíbrios comerciais e roubo de propriedade intelectual. Tais medidas geraram retaliação por parte da China e resultou em um Acordo Comercial de Fase Um.
  • Substituição do NAFTA pelo Acordo Estados Unidos-México-Canadá, que atualizou as regras comerciais, aumentou as proteções para trabalhadores dos EUA e abordou questões como propriedade intelectual e acesso ao mercado agrícola.
  • Tarifas e Barreiras Comerciais: Usou tarifas sobre importações de aço e alumínio para proteger indústrias nacionais.
  • Durante discursos e entrevistas, Trump tem defendido a adoção de tarifas de pelo menos 10% sobre as importações de todos os países, bem como tarifas de até 60% sobre importações chinesas.

 

3 – Menos Regulação

Em seu governo, Trump se concentrou em reduzir regulamentações em vários setores, incluindo:

  • Energia: revogou regulamentações ambientais para impulsionar a produção de combustíveis fósseis e reduzir os custos de energia. Além disso, ele apoiou o aumento da perfuração e exploração em terras federais e áreas offshore, e facilitou as regulamentações sobre a produção de carvão para apoiar o crescimento do setor de energia.
  • Setor financeiro: facilitou regulamentações impostas pela Lei Dodd-Frank, visando aumentar os empréstimos e a atividade do mercado financeiro.
  • Saúde: reduziu os encargos regulatórios sobre provedores de saúde e seguradoras, visando reduzir custos e aumentar a concorrência.
  • Ordens executivas: emitiu ordens como a política “2-for-1” exigindo que as agências revogassem dois regulamentos para cada nova regra que quisessem emitir, com a intenção de agilizar os processos regulatórios.

 

4 – Infraestrutura

Propôs um plano para revitalizar a infraestrutura do país com investimentos estimados em US$ 1 trilhão.

O plano tem como objetivo alavancar parcerias público-privadas para financiar esses projetos e melhorar a infraestrutura geral. O foco é a modernização de estradas, pontes, aeroportos e sistemas de transporte público melhorando a conectividade que sustente o crescimento econômico.

O plano prevê ainda usar incentivos federais para atrair investimentos privados e agilizar os processos de licenciamento.

 

5 – Saúde

Trump pressionou pela revogação do Affordable Care Act (ACA) e buscou alternativas para reduzir os custos da assistência médica e aumentar a concorrência. Entre elas:

  • American Health Care Act (AHCA): visava substituir o ACA, com disposições para reduzir a expansão do Medicaid e alterar as regulamentações de seguros.
  • Planos de saúde: expandiu a disponibilidade de planos de curto prazo e duração limitada como uma alternativa. Propôs ainda a expansão das Contas de poupança para saúde (HSAs), o que permitiria um uso mais flexível dos recursos do federais para despesas de saúde.

 

6 – Imigração

Ainda que essa não seja diretamente uma agenda econômica, suas políticas de imigração podem ter impactos econômicos importantes. Por exemplo, o aumento do financiamento para fiscalização de fronteira, ou as propostas de reduções em vistos para trabalhadores pouco qualificados que podem reduzir a disponibilidade de mão de obra.

 

 

O LONGO PRAZO É MAIOR QUE QUALQUER CANDIDATO?

Para encerrar, gosto de lembrar que, em se tratando de investimentos, o poder do longo prazo se mostrou mais forte que os diferentes candidatos e os nuances políticos. Tal qual já colocamos em outros artigos, estar investido e se aproveitar dos efeitos dos juros compostos e do longo prazo, se mostrou uma estratégia muito mais consistente que tomar decisões baseado em opções políticas. O gráfico abaixo mostra o resultado do investimento de US$ 1.000,00 desde 1953 até o final de 2023 para aqueles que investem somente durante o mandato de um dos partidos, e para aquele investidor que permanece investido. Fica claro que investir com base em crenças políticas é uma opção muito inferior àquela do investidor agnóstico em relação às definições políticas e que deixa o poder do longo prazo trabalhar a seu favor.

 


Fonte: BlackRock – 16/fev/2024
 

Conclusão: estar investido no mercado é muito mais importante que suas preferências políticas. Em outras palavras, para o mercado, o que acontece em Washington D.C. fica em Washington D.C.

 

PARA SABER MAIS SOBRE:

E para você que se interessa pelo tema, vale conferir os diversos conteúdos que estamos preparando nessa seção e que vão te ajudar a entender mais sobre o processo eleitoral americano e principalmente seus possíveis impactos em termos de economia.

 

Entenda como funcionam as Eleições Americanas

Eleições 2024- impacto no mercado

Eleições americanas de 2024: mais volatilidade no mercado?

Eleições Americanas e a Geopolítica Regional – Thiago de Aragão | Avenue Connection 2024 (youtube.com)

 

E para quem quiser, sempre deixo aqui o convite para me seguir nas redes sociais – @willcastroalves tanto no Twitter quanto no Instagram – e diga o que achou.

 

Aquele abraço!

William Castro Alves

Estrategista-chefe da Avenue Securities

 

 

 

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William Castro

Formado em economia pela UFRGS – RS. Em 2004, iniciou sua carreira na Solidus Corretora, com passagens pelo Koliver Merchant Bank e Banco Alfa. Foi sócio, analista-chefe e um dos principais porta-vozes da XPInvestimentos. Também foi sócio e líder de gestão da VGRGestão de Recursos. Possui as certificações Series 7 e 24. É estrategista-chefe, sócio e porta voz da Avenue desde 2018.

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