Juros nos EUA, conflito no Oriente Médio e queda do dólar
23/06/2025
A última semana foi novamente marcada pela volatilidade, reflexo da escalada das tensões no conflito entre Israel e Irã. Os ataques aéreos israelenses contra instalações nucleares iranianas, seguidos por mísseis de retaliação, impactaram os mercados, especialmente os preços do petróleo, que registraram uma alta de 11% diante das preocupações com o fornecimento na região do Oriente Médio.
Em suma, o mercado segue acompanhando com receio:
Agora falando sobre economia, dados do Departamento de Comércio dos EUA revelaram que o crescimento das vendas no varejo americano foi bem mais fraco do que o esperado para o mês de maio. Os consumidores americanos reduziram em 0,9% as suas compras ante uma queda estimada em 0,5% pelos analistas; já o núcleo do indicador trouxe uma queda de 0,3% diante de uma alta esperada de 0,2%.
Também foi registrada uma redução significativa nas vendas de automóveis, explicada pela antecipação de compras feitas para evitar a tarifa de 25% sobre carros e peças importados. Excluindo os automóveis, as vendas caíram 0,3%. Em geral, os gastos também diminuíram nos postos de gasolina, lojas de móveis e restaurantes, embora o varejo on-line tenha aumentado 0,7%. Apesar da inflação em queda e do baixo desemprego, a confiança do consumidor permanece baixa e isso pode resultar em gastos mais cautelosos no futuro.
Podemos dizer que, após uma melhora marginal dos indicadores econômicos, os últimos dados da economia americana voltaram a decepcionar na margem. Corroborando esse cenário, vemos que o índice de surpresa econômica do Citigroup registrou uma nova queda recentemente:
Fonte: The Daily Shot, 13/jun/2025
O grande destaque da última semana foi a decisão sobre os juros nos EUA. Conforme já era amplamente aguardado pelo mercado, o Fed manteve a sua taxa referência da economia (Fed Funds Rate) no intervalo de 4,25% a 4,50%. Essa foi a quarta reunião consecutiva em que o Banco Central americano optou por manter as taxas inalteradas.
Fonte: Bloomberg (elaboração Avenue)
No entanto, chamou a atenção do mercado a mudança nas projeções econômicas do Fed, que agora incorporam menos crescimento e mais inflação, resultando em uma leitura cada vez mais próxima de um cenário de stagflation. O Banco reduziu a estimativa do PIB de 2025 para 1,4% e elevou a estimativa de inflação para 3%. Apesar dessas revisões, a mediana das previsões do órgão ainda aponta para dois cortes de juros ao longo do ano:
Fonte: FederalReserve.gov, 18/jun/2025
Com relação à entrevista coletiva do presidente Jerome Powell, tivemos os seguintes destaques:
Fonte: FederalReserve.gov, 18/jun/2025
Em suma, tanto a postura do presidente do Fed quanto os seus comentários corroboram a ideia de que o Banco Central americano não tem pressa em alterar o curso de sua política monetária atualmente, devendo aguardar os potenciais impactos dos condicionantes atuais sobre os dados da economia para, só então, eventualmente voltar a cortar os juros. Powell reforçou que o nível de incertezas permanece elevado e que diversos eventos podem impactar a economia – por isso, a postura mais adequada, segundo a leitura dos dirigentes do Fed, é manter a sua política inalterada. Entendemos que, apesar da pressão política e de um cenário relativamente benigno em termos de inflação, os eventos recentes reforçam a percepção de que o Fed não deve alterar os juros na próxima reunião em julho, ainda que as previsões de dois cortes para o ano tenham sido mantidas.
Recomendamos que, no atual momento, a alocação em ações seja feita com muita cautela e parcimônia. Isso porque entendemos que a queda observada após o Liberation Day (02 de abril) fez com que as ações americanas voltassem a negociar a múltiplos elevados, conforme já abordado anteriormente aqui na coluna (leia mais em Conflitos de Trump pautam o início de junho).
Além disso, temos visto o S&P 500 muito próximo de sua máxima histórica, nos chamando a atenção a “coincidência” dos insiders – aqueles que trabalham na empresa – vendendo as suas ações. Segundo artigo da Bloomberg, os executivos corporativos estão vendendo ações no ritmo mais rápido desde novembro, com uma proporção de compras para vendas de 0,26 – a menor desde o início do rali pós-eleição (fonte). Essa venda intensa por parte dos insiders, que presumivelmente conhecem profundamente as suas empresas, sugere ceticismo sobre a sustentabilidade do atual momento de mercado. No entanto, vale a ressalva de que as vendas frequentemente superam as compras devido a necessidades financeiras pessoais não relacionadas a condições de mercado, como planejamento patrimonial ou exercício de opções.
Entendemos que a melhor leitura desse indicador não se limita apenas ao aumento das vendas, mas também à diminuição das compras por parte dos insiders – um sinal ainda mais forte de incerteza no mercado e que reflete valuations elevados. Embora não seja um alerta imediato, o alto volume de vendas pelos executivos, combinado aos receios vigentes no mercado e aos valuations da bolsa americana, sugere que os investidores devem permanecer cautelosos.
O investidor global deve estar acompanhando com certa reserva a queda…
Primeiro, é preciso ponderar que este é um movimento tático global. Os receios com as tarifas, as incertezas gerais, a possibilidade de desaceleração da economia dos EUA e a possibilidade de redução dos yields americanos são os principais argumentos por aqueles que sustentam essa opinião. Não obstante, pautado por esses motivos, vimos que cerca de 31% dos investidores institucionais estão subalocados ou com uma visão negativa para o dólar americano – o maior nível registrado nos últimos 20 anos, segundo o Bank of America. Além disso, o posicionamento líquido de gestores de ativos e fundos alavancados em dólar americano caiu para perto do seu menor nível em três anos.
Fonte: The Kobeissi Letter, 19/jun/2025
Como resultado, o índice do dólar (DXY) caiu 9% no acumulado do ano, marcando o seu pior desempenho neste século. Isso coloca a moeda americana a caminho de sua maior queda no primeiro semestre do ano, desde 1986 – vide gráfico abaixo:
Fonte: Tradingview.com, 19/jun/2025
De modo que esse movimento global ajuda a explicar o desempenho do dólar contra o real, com uma queda de 11% e a cotação ficando abaixo do nível dos R$ 5,50 nesta última semana.
Agora algumas ressalvas importantes…
Fonte: Tradingview.com, 19/jun/2025
Por isso, ressaltamos a importância de manter a consistência na alocação global e de aproveitar a oportunidade que o atual patamar de taxa de câmbio representa para o investidor brasileiro alcançar uma melhor diversificação da sua carteira, com uma parcela alocada no exterior. Lembramos ainda que tão importante quanto o preço dólar é o que você faz com os seus dólares… o retorno alcançado com os investimentos em dólar pode mais do que compensar as nuances da taxa de câmbio.
Pense a respeito!
Esta semana carrega alguns indicadores importantes para acompanharmos.
Além disso, algumas poucas empresas seguem divulgando os seus números ao longo dos próximos dias:
Lembrando que você encontra o acompanhamento completo dos diversos resultados que já saíram na página: Resultados Trimestrais – Temporada de balanços nos EUA.
Que tal continuarmos esse papo no Twitter e Instagram? Siga @willcastroalves e me diga o que achou do conteúdo da semana. Até lá!
Aquele abraço!
William Castro Alves
Estrategista-chefe da Avenue Securities
DISCLAIMER
A Avenue Securities LLC é membro da FINRA e da SIPC. Oferta de serviços intermediada por Avenue Securities DTVM. Veja todos os avisos importantes sobre investimento: https://avenue.us/termos/.
As expressões de opinião são a partir desta data e estão sujeitas a alterações sem aviso prévio. Não há garantia de que estas declarações, opiniões ou previsões aqui fornecidas se mostrem corretas. Este material está sendo fornecido apenas para fins informativos. Qualquer informação não é um resumo completo ou uma declaração de todos os dados disponíveis necessários para tomar uma decisão de investimento e não constitui uma recomendação.
O desempenho passado não é indicativo de resultados futuros. Investir envolve risco e você pode incorrer em um lucro ou perda, independentemente da estratégia selecionada.
Os links estão sendo fornecidos apenas para fins informativos. A Avenue não é afiliada e não endossa, autoriza ou patrocina nenhum dos sites listados. A Avenue não é responsável pelo conteúdo de qualquer site ou pela coleta ou uso de informações sobre os usuários de qualquer site.
O investimento internacional envolve riscos especiais, incluindo flutuações cambiais, diferentes padrões contábeis financeiros e possível volatilidade política e econômica.
Tenha em mente que os indivíduos não podem investir diretamente em nenhum índice, e o desempenho do índice não inclui custos de transação ou outras taxas, o que afetará o desempenho real do investimento. Os resultados individuais do investidor variam. O desempenho passado não garante resultados futuros.
Manter ações para o longo prazo não garante um resultado rentável. Investir em ações sempre envolve risco, inclusive a possibilidade de perder todo o investimento.
Não há garantia de que essas opiniões ou previsões aqui fornecidas se mostrem corretas.
Qualquer informação não é um resumo completo ou declaração de todos os dados disponíveis necessários para tomar uma decisão de investimento e não constitui uma recomendação. Os investimentos mencionados podem não ser adequados para todos os investidores.
Antes de investir, considere os objetivos, riscos, taxas e despesas do investimento. Entre em contato com [email protected] para obter um prospecto contendo essas e outras informações importantes. Leia com atenção antes de investir.