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Por

Tomás Roque

Formado em Economia pela UNESP com distinção e extensão em Business na Tampere University - Finlândia. Possui as certificações CGA, CGE e Series 99

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Muitas vezes pensamos que a escolha do investimento é a parte mais crucial da jornada como investidor. Definitivamente é um pilar de extrema importância. Todavia, não é o único, apesar de ser o mais lembrado. Neste artigo falarei sobre as finanças comportamentais, e como os vieses cognitivos podem influenciar os seus investimentos.

 

O que são finanças comportamentais

Se fosse possível resumir em uma frase a área das finanças comportamentais, seria a junção das finanças com a psicologia. Ela trata como os seres humanos tomam decisões que impactam seus patrimônios, seja uma compra de algum item que está na moda, a venda de uma ativo por medo, entre outras inúmeras atitudes no dia a dia que afetam o dinheiro.

Esse é um termo relativamente recente, cunhado por Daniel Kahneman e Amos Tversky, há mais de 30 anos, mas que foi oficializado em 2002, com o prêmio Nobel de economia para Kahneman. Os dois psicólogos realizaram extensivas pesquisas em como as emoções e decisões dos investidores afetam suas finanças. Esses estudos, conduzidos nas décadas de 70 e 80, vão contra a teoria econômica tradicional, que diz que os investidores seriam todos seres 100% racionais, causando uma grande quebra na academia e, posteriormente, no mercado financeiro.

Para deixar mais nítido, explicarei brevemente os principais vieses comportamentais (ou cognitivos) que existem, e como eles afetam direta e indiretamente nossas finanças.

 

Quais são os principais vieses comportamentais?

 

Viés de confirmação

Esse viés é muito comum quando acreditamos em algo, e nossos estudos e pesquisas vão ao encontro dessa tese inicial, ignorando opiniões contrárias. Trazendo para os investimentos, suponha que um investidor seja apaixonado por uma empresa, e queira muito investir nela. Ele procurará notícias e informações que ratifique a sua tese inicial, focando apenas nas partes positivas, mesmo que os indicadores falem que ela não está com uma saúde financeira boa.

 

Ancoragem

Para entender melhor a ancoragem, dois exemplos serão muito úteis. O primeiro será sobre consumo, e o segundo sobre investimentos.

Quando se compra algum produto, um carro, por exemplo, o preço pago por ele fica na cabeça do comprador, servindo como uma “âncora”. Caso seja decidido por vender o carro no futuro, independente da variação de preços gerais, o valor desembolsado no momento da compra será o balizador da sua decisão.

Nos investimentos, pode-se fixar em um preço específico de uma ação, e só vende-la quando alcançar esse “número mágico”, algo que pode nunca ocorrer, devido à imprevisibilidade do mercado de renda variável.

Ainda é possível uma situação similar, onde uma ação é comprada e o preço da compra serve como âncora. Caso o preço caia, o investidor espera que volte até o preço da compra, para poder pelo menos ficar no “zero a zero”. Contudo, os fundamentos da empresa podem ter mudado, e como foi citado anteriormente, esse preço pode nunca mais voltar a âncora. Esse último exemplo anda lado a lado com o próximo viés.

 

Aversão à perda

A dupla de psicólogos citados anteriormente trouxe essa discussão à tona. O ser humano dá mais peso as possibilidades de perdas do que às chances de ganhar. Resumidamente, perder US$ 100 afeta mais o cérebro humano do que o prazer de ganhar US$ 100.

Um exemplo prático ocorre quando o investidor decide vender suas ações que performaram bem, ou “ganhadoras”, e mantém aquelas que estão em queda, as “perdedoras”, pois não querem realizar o prejuízo. O sentimento de perder dinheiro afeta muito as decisões, e não há nenhuma garantia que as “perdedoras” irão se recuperar em algum momento.

 

Efeito manada

Quando todos acabam fazendo a mesma coisa, independentemente de ser racional ou não. Essa seria a melhor definição do efeito manada. Bolhas financeiras seriam ótimos exemplos de efeito manada, como a bolha das tulipas, conhecida como a primeira bolha da história, no século XVII.

Resumidamente, as pessoas começaram a comprar bulbos de tulipas, que floresceriam, no mínimo, 1 ano depois de plantados, e o preço delas começou a subir. Chegou a certo ponto que as pessoas trocavam utensílios do dia a dia por bulbos, de maneira desenfreada e sem nenhuma garantia que os preços das tulipas ainda seriam altos quando elas florescessem. Em 1637 a bolha estourou, e os preços de tulipas voltaram ao seu patamar convencional.

Um outro exemplo é a bolha da internet no final da década de 90 e início dos anos 2000. Com o advento da internet, muitas empresas começaram a se colocar como ligadas a internet, mesmo que sua atuação não tivesse relação alguma com a internet. As pessoas compravam empresas pois os preços estavam subindo, e os preços subiam, uma vez que as pessoas compravam essas ações, era um círculo vicioso. Você via o seu vizinho, colega de trabalho, amigo ganhando dinheiro com ações de empresas “dotcom” e acabava por querer o mesmo, comprando esses ativos.

A bolha estourou entre 2001 e 2002, e a Nasdaq, bolsa de tecnologia nos EUA, viu uma queda total de mais de 77% do pico até o fundo. Isso mostra como o efeito manada, fazer o que os outros estão fazendo sem pensar, pode ser perigoso.

 

Excesso de confiança

Comum principalmente aos “stocks pickers”, aqueles que gostam de escolher suas ações uma por uma, esse viés disserta sobre a confiança excessiva do investidor em sua tomada de decisão, como se conseguisse acertar os movimentos de mercado por sua capacidade analítica

Em 2006, um estudo chamado “Behaving Badly” perguntou para 300 gestores profissionais se eles se achavam acima da média. Perto de 74% falaram que eram acima da média, e 26% falaram que eram medianos. Pode-se perceber que praticamente 100% se acham acima ou dentro da média, não sobrando espaço para aqueles abaixo da média, mostrando de forma clara, e até cômica, o viés de excesso de confiança.

 

Como evitar os vieses e resguardar seus investimentos

Todos estamos passíveis de sofrer esses vieses comportamentais, são quase que intrínsecos na trajetória do investidor. O mais importante é identificá-los o mais cedo possível, e conhecendo como eles podem afetar a tomada de decisão, atuar em cima desses pontos para não ser levado pelas emoções e suas jogadas.

Quando alguma ação estiver em alta, realmente se perguntar se ela faz sentido dentro da sua carteira, ou se apenas está na moda. Assim como ocorre com a indústria de vestiário, a moda passa. Ver pontos contrários à sua opinião, verificar se são razoáveis ou não. Esses são exercícios diários, que podem afetar muito mais a carteira de investimentos do que a escolha dos ativos em si, por isso é tão importante o conhecimento e percepção desses vieses.

 

Referências

The psychology behind investing | BlackRock

Behavioral Finance: Biases, Emotions and Financial Behavior (investopedia.com)

Tulipmania: About the Dutch Tulip Bulb Market Bubble (investopedia.com)

Behaving Badly by James Montier :: SSRN

Dotcom Bubble Definition (investopedia.com)

 

Disclaimers:

A situação de cada investidor é única e você deve considerar seus objetivos de investimento, tolerância ao risco e horizonte de tempo antes de fazer qualquer investimento. Investir envolve risco e você pode incorrer em um lucro ou perda, independentemente da estratégia selecionada. O conteúdo acima não é uma recomendação para comprar ou vender qualquer ativo individual ou qualquer combinação de ativos.

Qualquer informação não é um resumo completo ou declaração de todos os dados disponíveis necessários para tomar uma decisão de investimento e não constitui uma recomendação. Os investimentos mencionados podem não ser adequados para todos os investidores.

Todo tipo de investimento, incluindo fundos, envolve risco. Risco refere-se à possibilidade de que você perderá dinheiro (tanto principal quanto qualquer ganho) ou não consiga ganhar dinheiro com um investimento. A mudança das condições do mercado pode criar flutuações no valor de um investimento em fundos. Além disso, existem taxas e despesas associadas ao investimento em fundos que geralmente não ocorrem na compra de ativos individuais diretamente

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