Avenue

Por

William Castro

Formado em economia pela UFRGS – RS. Em 2004, iniciou sua carreira na Solidus Corretora, com passagens pelo Koliver Merchant Bank e Banco Alfa. Foi sócio, analista-chefe e um dos principais porta-vozes da XPInvestimentos. Também foi sócio e líder de gestão da VGRGestão de Recursos. Possui as certificações Series 7 e 24. É estrategista-chefe, sócio e porta voz da Avenue desde 2018.

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VISÃO DO ESTRATEGISTA

RESUMO

Depois de quatro semanas de altas consecutivas, dessa vez vimos o mercado americano se consolidar e passar por uma leve realização. Se, por um lado, os resultados corporativos seguiram surpreendendo pela ponta positiva e os números da economia seguem bons, por outro, os patamares elevados do mercado aliado a proposta de mudanças tributárias pelo presidente Joe Biden esfriaram os ânimos dos investidores.

 

O S&P teve queda de -0,13%, o Dow -0,46% e o Nasdaq -0,25%.

 

Quem também deu uma trégua foi o dólar, que acumulou queda de quase 2% na semana e, desde as máximas do final de março, acumula queda de 5%. Os juros americanos de 10 anos voltaram a ceder e isso abriu espaço para uma melhor performance dos ETFs de Renda Fixa.

Por conta desses juros e do bom momento vivido pelo setor imobiliário americano os REITs tiveram boa performance – como exemplo o ETF VNQ (que representa cerca de 2/3 desse mercado), que teve valorização de 1.3% na semana e acumula 6% no mês. A volatilidade, apesar de leve alta na semana ainda segue abaixo de 20, o que é considerado um patamar bem baixo.

Nas commodities, vimos o ouro sem manter estável na semana com alta de 3.4%, mas ainda em estágio de recuperação, uma vez que acumula queda no ano. O petróleo teve leve queda na semana e se mostra estável no mês no patamar de US$62/barril. Por fim, as commodities em nível agregado seguiram subindo e acumulam mais de 5% de alta no mês, quando consideramos o índice Dow Jones Commodity.

 

A taxação preocupa?

Na quinta-feira tivemos a notícia da intenção do presidente Joe Biden em elevar alguns impostos nos EUA. Em meio a tanta desinformação, entendo que vale aqui explicar qual o possível impacto disso para os seus investimentos.

Entendendo. O primeiro ponto é que estamos falando de uma proposta e não de uma lei sancionada. A Bloomberg News informou na tarde de quinta-feira que Biden está planejando um aumento nos impostos sobre ganhos de capital para até 43,4% para os americanos mais ricos. A proposta aumentaria a taxa de ganhos de capital para 39,6% para aqueles que ganham US$1 milhão ou mais, contra 20% atualmente. Portanto, o que temos até agora é a intenção declarada da Casa Branca na elevação de alguns impostos.

Esperado. Essa notícia não deveria surpreender o mercado, uma vez que foi parte recorrente da campanha do presidente Joe Biden. Ele se elegeu falando que iria reverter os tax cuts do presidente Trump e elevar impostos sobre fortunas. Nesse sentido, inclusive, comentamos em nossa AveNews do dia 12 de abril os aumentos de impostos como um potencial risco ao mercado americano. Logo, apesar da notícia ter repercutido essa semana, essa intenção não é novidade. Talvez por isso, já na sexta-feira vimos as bolsas americanas encerrarem o dia em alta.

Poucos diretamente afetados. A proposta se refere aos investidores americanos e em nenhum momento trata de investidores estrangeiros. Além disso, 75% dos investidores no mercado americano não se enquadram nos critérios para essa taxação. São aqueles que investem através de planos especiais de aposentadoria (os quais tem regimes tributários próprios), fundos de Endowments de Universidades e investidores estrangeiros. A análise interna da Receita Americana de 2018 mostra que os milionários eram pouco mais de 500 mil investidores, ou que detinham pouco mais de 0,4% do valor do mercado. Logo, no caso de uma forte realização do mercado de ações poderíamos ver muitos investidores, inclusive, se aproveitando das quedas e dando sustentação aos preços uma vez que não são diretamente afetados por essa notícia.

 

Muito ruim? A meu ver temos aqui duas faces da moeda.

(i) O aumento de impostos sobre as empresas tenderia a encarecer os produtos americanos – e até reduzir sua competitividade. Além disso, taxar fortunas ou aqueles com ganhos elevados, poderia levar a uma migração dos mais ricos para outras praças.

(ii) No entanto, o objetivo dos aumentos de impostos é o financiamento de diversas medidas que pode, justamente, trazer mais competitividade para os EUA no longo prazo, além de injetar crescimento no curto prazo. Além dos cheques de incentivo à economia, tivemos o anúncio de um pacote de infraestrutura que tende a melhorar a logística americana, tornar energias renováveis mais baratas e uma internet mais rápida disponível a uma gama de agentes. Esses são fatores essenciais para crescimento da economia e da produtividade. Outro pacote, também financiado pelo aumento de impostos, é focado na melhoria da produtividade do trabalhador, através de cursos de capacitação profissional e pesquisas. Esse também é outro fator preponderante para crescimento sustentado de longo prazo. Uma economia que cresce gera mais oportunidades para todos, mais lucros para empresas e consequentemente suas ações tenderiam a refletir isso.

E o mercado de ações? Apesar de parecer negativo, olhando o passado não vemos um impacto tão forte assim para o mercado de ações. Historicamente, os aumentos nos impostos sobre ganhos de capital não prejudicaram as ações. A coluna do John Authers na Bloomberg nos traz alguns insights interessantes sobre a forma como o mercado lidou com o último grande aumento da impostos sobre ganhos de capital no final de 2012 – quando a alíquota subiu 9 pontos percentuais. À medida em que ficou claro que impostos mais altos sobre ganhos de capital estavam chegando, o S&P 500 enfraqueceu e ficou de lado nos últimos meses do ano – a explicação seria a de que alguns investidores de fato estavam realizando lucros antes dos aumentos de impostos. Já em 2013, com a nova alíquota, tivemos um ano de forte valorização com o S&P encerrando com ganhos de 30%

 

Bloomberg.

Indo além na história, não é possível encontrar uma correlação óbvia entre aumentos ou reduções de impostos sobre ganhos de capital e a performance do mercado. O gráfico abaixo pontua todos os pontos de aumento de alíquotas (linhas vermelhas) e reduções de alíquotas (linhas verdes).

Bloomberg.

A análise do Goldman Sachs dos últimos três aumentos realizados em 1987, 1988 e 2013 também corrobora a ideia de um impacto reduzido no mercado, mas que é compensado no futuro. Algumas ações consideradas de momentum seriam as mais afetadas no curto prazo.

 

Market Watch.

Será que passa? Para que a proposta se torne efetiva ainda é necessária a discussão nas duas casas (Câmara e Senado). Nesse sentido, apesar da maioria no Congresso e maioria técnica no Senado, existem diversas divergências sobre o escopo e abrangência desse aumento de impostos.

O senador democrata do estado da Virginia Joe Manchin, por exemplo, é visto como contrário a um aumento dessa magnitude. Outros senadores se mostram menos favoráveis a um aumento de impostos tão agressivo assim.

Já os analistas do Goldman Sachs sugerem que o aumento deve ser definido numa alíquota menor, saindo dos atuais 20% para 28%. Essa também é a visão do banco suíço UBS que escreveu em nota aos seus clientes: “Our base case is for the top rate to increase to 28%, with lawmakers pushing back at the near doubling suggested by the administration.”

Logo, me parece hoje pouco provável que a proposta da Casa Branca avance sem mudanças. Nesse sentido, a Casa Branca parece estar fazendo um movimento de poker: blefar para depois ganhar um aumento mais brando do que o inicial proposto.

Resumindo.

O investidor brasileiro não deve ser confundido por narrativas equivocadas e incompletas que são difundidas no noticiário de mercado. Os pontos que trouxe aqui foram com o objetivo de tranquilizar os investidores frente às recentes notícias. Não acredito que tais eventos levariam a uma migração de capitais para fora dos EUA. Já vimos eventos como esses no passado e o resultado, como demonstrado aqui, não foi a da migração de capitais. Fatores como crescimento econômico, níveis de confiança dos investidores, emprego, renda e juros são mais importantes para determinar o desempenho do mercado de ações.

 

Resultados Corporativos.

Voltando aquilo que é o principal driver das ações no longo prazo: vamos falar de lucros.

Tivemos uma bateria de resultados corporativos os quais abordamos em nossas lives diárias o WarmUp Avenue e em nosso podcast diário o Bom Dia USA.

Em linhas gerais até aqui os números apresentados pelas companhias americanas têm apresentado surpresas positivas. A Earnings Scout informa que entre 61 empresas que divulgaram seus números essa semana, 90% bateram as estimativas do mercado para lucros, os quais foram, aproximadamente 22% maiores que o esperado. Ainda em nível agregado o crescimento da receita até aqui se mostrou de cerca de 8.6% e dos lucros em 46.1%. Abaixo uma tabela completa com os números consolidados até agora.

Earnings Scout.

Para essa semana que se inicia devemos ainda focar nos balanços das empresas, em especial das big techs americanas. Nomes bastante conhecidos do grande público que divulgarão seus números essa semana.

Segunda-feira: Tesla.

Terça-feira: Microsoft, Google, Visa, Starbucks, GM e 3M.

Quarta-feira: Apple, Facebook, Qualcomm, Boeing e Ford.

Quinta-feira: Amazon, Mastercard, Comcast, Mc Donald’s, Shell e Caterpillar

Sexta-feira: Exxon, Chevron, AstraZeneca e Colgate-Palmolive.

Esses são apenas alguns exemplos de empresas conhecidas que apresentarão seus resultados, a agenda completa você encontra aqui.

 

NOVIDADE NA AVENUE

Estamos sempre trabalhando para lhe oferecer as melhores soluções e cada vez mais informação e conteúdo relevantes para o seu dia a dia. Por isso, anunciamos semana passada uma nova live matinal diária, que traz um giro macroeconômico de notícias e dados dos mercados do mundo todo. Tudo isso com a experiência e insights de Roberto Attuch Jr, CEO da OHM Research.

Participe e fique por dentro de mais esse conteúdo preparado pelo Team Avenue.

O Early Call acontece todos os dias às 8h (horário de Brasília).

Acesse.

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Até semana que vem.

WILLIAM CASTRO ALVES

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William Castro

Formado em economia pela UFRGS – RS. Em 2004, iniciou sua carreira na Solidus Corretora, com passagens pelo Koliver Merchant Bank e Banco Alfa. Foi sócio, analista-chefe e um dos principais porta-vozes da XPInvestimentos. Também foi sócio e líder de gestão da VGRGestão de Recursos. Possui as certificações Series 7 e 24. É estrategista-chefe, sócio e porta voz da Avenue desde 2018.

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