FED atenua temores sobre inflação e mercados de ações americanos permanecem
28/06/2021
Desde março, quando o Banco Central (BC) deu início a um ciclo de alta de juros, a Selic subiu de 2,0% para 4,25%. A autoridade monetária já indicou, inclusive, que pretende levar o juro básico ao nível neutro, que seria em torno de 6,5%. O juro em alta no Brasil aumenta o diferencial em relação às taxas de outros países. O aumento no diferencial de juros tende a atrair recursos estrangeiros de curto prazo, ainda mais em um contexto de apetite global por risco. Assim, existe uma pressão de valorização sobre o real, até porque o ajuste monetário no Brasil tem sido bem mais rápido do que em outras economias emergentes.
Note que somos um dos poucos países que já estão subindo juros, esperando maior inflação:
Outro fator observado com atenção pelos agentes do mercado é o comportamento do banco central dos Estados Unidos, o FED. Com a economia americana pujante, os dirigentes do FED começam a indicar que darão início às discussões sobre a redução dos estímulos monetários implementados desde o início da pandemia. Há bastante divisão entre os dirigentes do comitê decisório banco central americano (o FOMC, na sigla em inglês) sobre esse assunto, mas o presidente da instituição, Jerome Powell, tem destacado que vê a alta da inflação no curto prazo como temporária e, assim, tem tentado afastar pressões para uma ação voltada ao aperto monetário no curto prazo. Esse fator também tem deixado o dólar mais enfraquecido de forma global.
No Relatório Trimestral de Inflação (RTI) divulgado na quinta-feira, o BC revelou que projeta um superávit em conta corrente de US$ 3 bilhões para este ano, o que evidencia a sobra de dólares no país, que pode exercer pressão de baixa na cotação da divisa americana. O chefe de pesquisa econômica para América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, nota que a dinâmica de conta corrente permanece favorável no curto prazo “dada a sólida demanda de exportação e a melhora dos termos de troca diante da fraca demanda doméstica e de uma taxa de câmbio competitiva”.
Entretanto, devemos sempre ter um pé atrás. Apesar do recente vento de cauda positivo para o Brasil, esse movimento de desvalorização da moeda brasileira pode ser fogo de palha. Em nota divulgada pelo BC na última sexta-feira, a autoridade monetária reportou que o fluxo de investimentos em ações e em títulos públicos no Brasil somou R$ 5,951 bilhões em maio. Essa entrada de capitais estrangeiros, que tem ligação com o aumento do diferencial de juros, tem sido um dos fatores a impulsionar a queda do dólar contra o real.
Este dinheiro que entrou no Brasil não é na economia real, isso é, nas empresas, estradas ou benefícios não diretamente ao país, mas sim monetário. Assim mesmo, ajudou a moeda brasileira, lembrando que este capital é especulativo, puramente com objetivo de ganhos financeiros de curto prazo, tendendo a voltar para o seu país em condições mais adversas, como podemos esperar no próximo ano.
Quais são os principais fatores que poderiam reverter estas quedas e o câmbio voltar a subir?
A força da inflação tem surpreendido o Banco Central (BC). A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a autoridade avaliou que a pressão inflacionária tem sido maior que a esperada, principalmente entre bens industriais. O colegiado também considerou que a deterioração do cenário hídrico sobre as tarifas de energia elétrica contribui para manter a inflação elevada no curto prazo. Para o ano, as projeções de inflação estão próximas de 5,9%, segundo o FOCUS. E com a reabertura da economia e o sazonal período de compras no final do ano, este quadro pode se agravar ou estender ainda mais.
É muito difícil fazer qualquer projeção para o próximo ano, quando haverá eleição para presidente. O fato dos dois principais candidatos atuais, segundo as pesquisas, serem muito diferentes, geram polarização e alta taxa de rejeição, complicando ainda mais o cenário futuro. A imprevisibilidade também se deve porque é uma eleição em que um dos candidatos está já no poder, sendo diferente de 2018, quando a situação estava mais aberta a novidades. Este temos de rachadura política pode afugentar o investidor estrangeiro e causar volatilidade no câmbio.
Apesar da melhora recente nos indicadores de sustentabilidade da dívida pública brasileira, o risco fiscal segue elevado. Segundo Banco Central (BC) sem reformas estruturais, ainda existirá uma assimetria altista no balanço de riscos, ou seja, com trajetórias para a inflação acima do projetado. Novos prolongamentos das políticas fiscais podem elevar os prêmios de risco do país. E com o ano eleitoral chegando, acreditamos que seja pouco provável que medidas impopulares sejam votadas no período e que os gastos eleitorais aumentem, causando dificuldade de melhorar a condição fiscal brasileira.
Por isso, essa pode ser uma oportunidade muito boa para o investidor começar a dolarizar parte de seu patrimônio. Além de pegar um patamar de câmbio mais baixo, se comparado há 15 meses, é possível ainda se aproveitar da queda de algumas ações para começar a montar o seu portfólio.
LIVES PARA QUEM GOSTA DE CONTEÚDO DE QUALIDADE!
Na semana passada, realizamos uma série de lives no nosso Warm Up Avenue repleta de convidados especiais. Felizmente, muita gente gostou e provavelmente faremos mais eventos nesse formato. No entanto, para quem não pôde acompanhar, seguem os links com as gravações:
21/06/2021 – Segunda Macroeconômica
Convidado: Roberto Attuch Jr. – CEO da Ohm Research, falando diretamente da Europa.
22/06/2021 – Terça dos REITs – Os fundos imobiliários americanos
Convidado: Ismael Fernandes (@central_dos_reits) – Referência em REITs no Brasil.
23/06/2021 – Quarta Global – Commodities
Convidado: Mauricio Bellinelo (@mauriciobellinelo) – Especialista em Commodities há 12 anos e consultor em Gestão de Portfólios nos EUA.
24/06/2021 – Quinta das Carteiras- Montando um portfolio internacional
Convidado: Daniel Stapff (@investidorsemfronteiras) – consultor financeiro formado em Business Finance, Summa Cum Laude pela Barry University na Florida
25/06/2021 – Sexta Brasileira – Mudanças nos mercados de capitais nos últimos anos
Convidado: Professor Alexandre Cabral (@professoralexandrecabral) – Ministra aulas e cursos para as mais renomadas instituições brasileiras (B3, Ibmec)
LEITURAS INTERESSANTES…
Era isso pessoal, aquele abraço!
Guilherme Zanin