Inflação não preocupa e “Existe vida além do S&P 500”
14/06/2021
VISÃO DO ESTRATEGISTA
RESUMO
Essa semana o mercado e o mundo pararam para observar e analisar o indicador de inflação americana (Consumer Price Index – CPI), que foi divulgado na quinta-feira. E é importante entender que a inflação chamada americana, não se restringe apenas aos EUA. Ela é também repassada ao mundo através do dólar ou dos produtos americanos transacionados. Se o iPhone fica mais caro nos EUA, ele ficará mais caro no resto do mundo, não é mesmo?
Pois bem, de fato a inflação mais uma vez surpreendeu positivamente vindo acima do esperado e no patamar mais alto desde 2008, alcançando os 5% (linha azul do gráfico abaixo).
QUAL IMPACTO DISSO NO MERCADO?
Seria normal supor que uma elevação das curvas de juros nos EUA puxaria o S&P para baixo, afetando especialmente as ações de tecnologia, dado seu maior peso no índice.
No entanto, nada disso! O efeito foi exatamente o oposto, com a curva de juros cedendo (veja o gráfico do treasury de 10 anos na semana).
As ações de tecnologia estão performando bem e, inclusive, levando o S&P a mais um all time high (atingindo uma nova máxima histórica).
Abaixo o gráfico do S&P 500, linha preta, na semana com o XLK (ETF de tecnologia), na linha azul.
Com isso, na semana o S&P subiu 0,41%, o Nasdaq sobiu 1,85% e Dow Jones caiu -0,80%
QUAL O MOTIVO DO MERCADO TER IGNORADO A INFLAÇÃO?
Entender o mercado no curtíssimo prazo é complexo e nem sempre é o melhor exercício analítico a ser feito. Ainda assim, fazendo uma leitura, o que acontece é que o mercado vê a inflação como transitória – exatamente como comentei na semana passada.
O gráfico abaixo de Patrick Zweifel, o Economista-Chefe da Pictet Asset Management, traz um insight interessante. Ele separa aquilo que tende a ser passageiro no CPI. Segundo ele, expurgando efeitos considerados passageiros (barra vermelha) e o efeito base (inflação anterior repassada aos preços atuais), o núcleo do índice estaria em 1.6%, e a inflação como um todo estaria mais comportada.
Outra dúvida do mercado é saber até que ponto a inflação atual oriunda das commodities é passageira ou não. Na dúvida, o que temos visto é o mercado reajustando expectativas. Se há 2 meses muitos davam como certo um aumento de juros em 2022, agora até mesmo essa certeza se desfez.
Sim, o mercado muda de opinião assim como muda de roupa. Por isso, sempre ressaltamos aqui que o investidor não deve se mover por headlines de jornais ou notícias e deve focar na análise dos ativos em que investe.
E NO MERCADO…
Seguimos vendo uma fraca performance das empresas mais conhecidas se comparado ao índice S&P, como nos trouxe a análise de Michael Kantrowitz, Estrategista-Chefe da Cornerstone Macro. O gráfico abaixo compara o desempenho de 20 ações de empresas que aparecem em carteiras de diversos tipos de investidores – de nomes bem conhecidos – relativo ao índice, mostrando que as empresas mais conhecidas têm “ficado para trás”.
E qual insight aqui? Que o mercado americano é amplo e não se restringe aos maiores e mais conhecidos nomes do mercado.
Inclusive, ao comparamos a inflexão de lucros das empresas menores (mid e small caps) vemos que essas forma maiores do que a das grandes empresas (large caps).
E essa maior inflexão de lucros faz com que, apesar das altas da bolsa americana como um todo (índice S&P 500), muitas empresas fora do índice não estão nas máximas de seus múltiplos de preço/lucro, por exemplo. O gráfico abaixo compara o P/E (price/earnings) do S&P 500 com de empresas mid e small caps, as quais se mostram mais baratas, negociando a cerca de 18x lucros.
O que estou querendo dizer é que existe vida além do S&P 500 e que o investidor não deve se levar pela narrativa de “a bolsa americana está nas máximas e não tem mais oportunidades lá”. Esse é um tipo de análise superficial e que desconsidera uma regra de ouro na bolsa: as ações se movimentam de acordo com seus lucros.
LEITURAS INTERESSANTES…
Até semana que vem.
William Castro Alves