Avenue

Por

William Castro

Formado em economia pela UFRGS – RS. Em 2004, iniciou sua carreira na Solidus Corretora, com passagens pelo Koliver Merchant Bank e Banco Alfa. Foi sócio, analista-chefe e um dos principais porta-vozes da XPInvestimentos. Também foi sócio e líder de gestão da VGRGestão de Recursos. Possui as certificações Series 7 e 24. É estrategista-chefe, sócio e porta voz da Avenue desde 2018.

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Antes de adentrar no texto, gostaria de expressar toda a minha solidariedade ao povo do Rio Grande do Sul. Aos meus conterrâneos e irmãos, desejo muita força para atravessar esse momento difícil. Somos um povo de muitas virtudes, então é hora de mostrarmos valor e constância, para que nossas façanhas sirvam de modelo a toda terra, tal qual cantamos no hino do Rio Grande do Sul.

Todos os anos, milhares de pessoas voam até o meio dos EUA, para uma cidade que tem toda a cara de uma cidade americana de médio porte, chamada Omaha, no Nebraska. O que atrai essas pessoas? A sabedoria de um senhor de 93 anos, chamado Warren Buffett, conhecido como o Oráculo de Omaha. A “Woodstock capitalista”, como ficou conhecida a conferência da Berkshire Hathaway, é uma ode ao pensamento de longo prazo e à filosofia de investimento conhecida como value investing – em essência, investimentos em boas empresas com uma orientação de longo prazo. Mas talvez você já saiba disso.

Pois bem, eu e a Julia, do nosso time de Alocação e Estratégia, estivemos por lá neste final de semana e tivemos algumas impressões que queremos compartilhar aqui com vocês.

 
 

Esta foi uma reunião diferente e isso ficou muito claro desde o início. Charlie Munger faleceu em novembro de 2023, e esta foi a primeira reunião sem ele. Depois de décadas juntos, como um casal onde um sente a falta do outro, deu para notar que Buffett sentiu a ausência do companheiro de longa data. Praticamente todas as respostas ele citava ou mencionava o velho companheiro. Em certo ponto, ele passa a palavra para Greg Abel, atual CEO da Berkshire Hathaway Energy e vice-presidente de operações não relacionadas a seguros da Berkshire Hathaway. No entanto, Buffett se confunde e o chama de Charlie, arrancando algumas risadas da plateia. Buffett comenta que Charlie foi o grande arquiteto por trás da Berkshire, um grande amigo, curioso, interessado em entender como as coisas funcionavam e que ensinou muito a ele. O vídeo característico do início do evento ressaltou essa parceria de longa data, comparando sua amizade a célebres personagens como Batman e Robin, o Gordo e o Magro e até Beavis and Butt-head.

Indo além, também notei que havia muito mais pessoas do que nos últimos anos. Filas na feira, ginásio lotado, restaurantes e cafés lotados pela cidade. Esta, definitivamente, foi uma das conferências mais frequentadas da história da Berkshire. Penso que o vetor que catalisou isso também nos remete a Charlie Munger.

 

Muito se falou também sobre sucessão. O tema não é novidade e desde os anos 90 Buffett responde a perguntas a respeito. No entanto, este ano senti que houve maior ênfase nisso. Buffett buscou reforçar a cultura, o processo e a filosofia de investimentos da Berkshire, ressaltando que isso ultrapassa sua persona. A própria presença de Greg Abel ao lado de Buffett durante todo o evento denota isso.

 
 

Mas além das percepções acerca da feira, podemos tirar alguns aprendizados sobre o mercado.

Apple. A Berkshire reduziu sua exposição na empresa. De acordo com seu relatório de resultados do primeiro trimestre divulgado no sábado, fica implícito que a Berkshire reduziu em 13% sua participação na empresa, a qual permanece como a principal posição de carteira, somando um total de mais de US$ 135 bilhões. Buffett cita 2 motivos para a venda: (i) ajustar sua posição na carteira da Berkshire, dado que a valorização do papel fez com que ele alcançasse mais de 50% da carteira; (ii) receio de que, como forma de financiar o atual déficit americano, possa haver aumento de impostos para as corporações no futuro. Logo, ao vender agora, o lucro realizado é tributado à atual alíquota.

 

Oportunidades, mercado e juros. Buffett refutou comparações com os anos 2000 e qualquer tipo de bolha no mercado. Segundo ele, o não uso dos US$ 189 bilhões de caixa da empresa decorre do fato de que potenciais aquisições para a empresa precisam ter um porte relevante e que eles não têm visto nada que tenha feito muito sentido, além de pequenas aquisições que tenham feito aqui e ali. Outro ponto necessário para tais aquisições é o alinhamento com o management de empresas investidas e o management da Berkshire, outro ponto por vezes difícil de conseguir alinhamento. Ele ressaltou que investem em empresas que conhecem e gostam e que tal decisão não deriva do fato dos juros estarem elevados atualmente e da Berkshire estar se aproveitando disso para fazer seu caixa render mais. No entanto, ele brincou: não conte isso ao Federal Reserve.

 

Powell e a economia americana. Buffett elogiou o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, pelo seu trabalho e por ter conseguido conduzir a redução da inflação com a manutenção da atividade econômica. Ele chamou Powell de “homem muito sábio”. Mas obviamente que nem tudo são flores e que o trabalho não se restringe a Powell. Para ele, os EUA precisam de legisladores para controlar o crescente déficit americano, afinal de contas, Powell não controla a política fiscal.

 

Inteligência Artificial. Buffett foi taxativo: “não sei nada sobre inteligência artificial”. No entanto, ele demonstra preocupação em como a humanidade irá lidar com o potencial da tecnologia. Ele comparou ao desenvolvimento da energia nuclear, o qual possibilitou a geração de uma energia limpa e renovável, mas ao mesmo tempo levou à construção da bomba atômica. Segundo ele, a inteligência artificial tem um potencial enorme… para o bem, e para o mal.

 

Dividendos. A Berkshire Hathaway não paga dividendos, embora possua US$ 189 bilhões em caixa. Segundo Buffett, existem formas melhores de utilizar seu capital. Para ele, uma recompra para devolver capital aos acionistas é muito mais eficiente. Porque distribuir dividendos se podemos buscar alternativas para investir esse capital com o objetivo de gerar maior valor aos acionistas. Ele disse que espera que continue assim, mesmo depois de sua eventual ausência no futuro, ou caso contrário, ele virá assombrar Greg Abel, arrancando mais risos da plateia.

 

China e Índia. Mais uma vez, Buffett foi questionado sobre investimentos em outros países. Ele ressaltou que acredita existirem boas oportunidades, especialmente na Índia, no entanto, como de praxe, ele respondeu que uma característica importante da Berkshire é concentrar seus investimentos nos EUA, onde a empresa possui mais conhecimento e pela pujança da economia americana, a qual cria grandes oportunidades de investimento.

Por fim, sempre com bom humor e carisma, ele comentou que conhece as tabelas atuariais, mas que ainda assim espera estar presente no ano que vem, ainda que seja possível que não esteja. Ele brincou: “eu não só espero que você venha no próximo ano, espero voltar no próximo ano”. Assim esperamos.

Vida longa ao Oráculo de Omaha!

 
 

E para quem quer saber mais, tem alguma pergunta ou ainda quer conversar sobre o tema, vamos fazer uma live para falar de tudo que vimos e ouvimos por lá nesta segunda-feira. Te convido a participar:

Berkshire Hathway Berkshire Hathaway pelo olhar Avenue: o oráculo de Omaha como você nunca viu

 

E para quem quiser, sempre deixo aqui o convite para me seguir nas redes sociais – @willcastroalves tanto no Twitter quanto no Instagram – e diga o que achou.

 

Aquele abraço!

William Castro Alves

Estrategista-chefe da Avenue Securities

 

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William Castro

Formado em economia pela UFRGS – RS. Em 2004, iniciou sua carreira na Solidus Corretora, com passagens pelo Koliver Merchant Bank e Banco Alfa. Foi sócio, analista-chefe e um dos principais porta-vozes da XPInvestimentos. Também foi sócio e líder de gestão da VGRGestão de Recursos. Possui as certificações Series 7 e 24. É estrategista-chefe, sócio e porta voz da Avenue desde 2018.

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