Avenue

Por

William Castro

Formado em economia pela UFRGS – RS. Em 2004, iniciou sua carreira na Solidus Corretora, com passagens pelo Koliver Merchant Bank e Banco Alfa. Foi sócio, analista-chefe e um dos principais porta-vozes da XPInvestimentos. Também foi sócio e líder de gestão da VGRGestão de Recursos. Possui as certificações Series 7 e 24. É estrategista-chefe, sócio e porta voz da Avenue desde 2018.

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O que aprendemos em Omaha

Esse final de semana eu e o Guilherme Zanin tivemos a oportunidade de representar a Avenue na conferência anual da Berkshire Hathaway, em Omaha. Ouvimos e aprendemos com a sabedoria de duas lendas do mercado acionário global: Warren Buffett e seu sócio de mais de 50 anos, Charles Munger. Para quem não sabe o que estou falando, deixei os links em cada nome, mas uma forma de colocar em contexto é se alguém tivesse investido US$1000 em 1965 em ações da Berkshire Hathaway hoje poderia ter o equivalente a mais de US$ 18 milhões, com a gestão desses dois líderes e de seu time – vale lembrar que se trata de um investimento hipotético de mais de 50 anos, e nada garante que esse retorno se repetirá.

Antes de adentrar nos tópicos mais práticos abordados, queria deixar aqui aquilo que aprendi. Sabe aquela expressão do “cair a ficha”? Talvez os mais velhos entendam melhor a expressão, mas seguem abaixo algumas fichas que caíram por lá.

(i) Value Investing funciona? Muito se questiona se essa estratégia simples, de comprar boas empresas e carregar essa posição por alguns anos funciona. Pois bem, Buffett e a Berkshire são a prova viva de que isso, de fato, pode funcionar. No entanto, seu exemplo se deu através de investimentos no mercado americano. Buffett fez fortuna investindo no maior mercado do mundo e em moeda historicamente forte, o dólar. Você pode até buscar outros exemplos de value investors pelo mundo, mas o fato é que a Berkshire e o Buffett fizeram fortuna essencialmente investindo no mercado americano. Nesse sentido, penso que o value investing a longo prazo pode funcionar sim, mas não necessariamente em qualquer mercado.

(ii) O mundo investe aqui. Quem já viajou sabe que, independentemente de onde for, encontrará um brasileiro. Não foi diferente aqui em Omaha. Encontrei muitos brasileiros que já investem no mercado americano. Mas mais que isso…tive a oportunidade de conversar com franceses, argentinos, canadenses, indianos e até uma pessoa da Guatemala. Aqui ficou claro uma coisa: o mundo investe no mercado americano!

(iii) Longo prazo. O investimento orientado para o longo prazo existe e funciona nos EUA. Além de Buffett, conversei com investidores da Berkshire que carregam posição por 10, 20 e até 35 anos. A julgar pelo público, tenho certeza de que encontraria investidores ainda mais longevos por lá. Conversei com investidores que viram crise de 2008, a Guerra do Golfo, juros, inflações, crescimentos, recessões… E que mesmo assim carregaram sua posição e não se arrependem nem um pouco, devido ao efeito dos juros compostos sobre seus investimentos, que se fez sentir no montante acumulado até hoje.

(iv) Educação Financeira. Caminhando por Omaha me dei conta de uma coisa: com seus investimentos é necessária uma educação de base, desde cedo. Vi diversas famílias aqui: pai, mãe, filhos… Vi pais, por exemplo, conversando com os filhos sobre investimentos feitos desde o nascimento dos pequenos e explicando o racional por detrás disso. Essa é educação financeira que começa de berço. Hoje, sendo pai, entendi que essa é uma responsabilidade minha e é essencial.

(v) Woodstock capitalista. A conferência ganhou esse apelido interessante e dá até para relacionar com uma certa contracultura do local e das pessoas que o frequentam. Deixe-me explicar. Seria razoável supor que um evento que é uma certa “ode ao capitalismo” seria cercado de muito luxo, com coquetéis regados a caviar; champagne como bebida oficial; pessoas chegariam nos seus carros de luxos ou com seus jatinhos particulares. No entanto, ledo engano. O que vi lá foram pessoas normais, como eu e você, que estacionavam seus carros e caminhavam no frio e chuva até um centro de convenções, que não oferecia nenhuma pompa. O cardápio tinha hot dogs e sanduíches e a bebida dominante era Coca-Cola. Não vi carrões. Vi um bilionário brasileiro caminhando por lá. De fato, vi uma contracultura ao estilo Woodstock, que fala o seguinte: a verdadeira riqueza está nas coisas que você não consegue ver e nem possuir.

 

Sinceramente haveria outras várias lições nessa linha mais filosófica ou conceitual, mas para não ficar muito longo veja abaixo os principais highlights da reunião de 2022.

HIGHLIGHTS DA CONFERÊNCIA

Resultados da Berkshire. No fim, essa é uma conferência de resultados de uma empresa. Portanto, tivemos a divulgação dos números da Berkshire Hathaway. Eles reduziram a posição de caixa de US$143 bilhões para US$ 102 nos últimos 12 meses, através de recompras de ações, aquisição de 14% da Occidental Petroleum e da Activision Blizzard. Mas agora, eles pretendem reduzir a velocidade dessas recompras.

Opinião sobre o mercado. Buffett enfatizou que não sabe o que vai acontecer com a economia, mas que ele e seu time acordam todas as manhãs buscando investimentos em empresas em que ele acredite que sejam seguras tanto para ele quanto para seus investidores. “Nós jamais tomamos a decisão baseada no que vai acontecer o mercado. Nós jamais tentamos fazer um market timming”.

Especulação. Buffet e Munger criticam o elevado nível de especulação existente no mercado atualmente. Entendem que hoje grande parte das pessoas não sabe o que é investimento, chegam no mercado com um approach errado, uma mentalidade de especulação e ganância e fazem uso excessivo de derivativos e alavancagem. Por outro lado, eles se aproveitaram da liquidez abundante existente no mercado e citaram o exemplo da compra recente de 14% de participação a Occidental Petroleum, uma empresa de mais de 100 anos de alguns bilhões de valor de mercado. A Berkshire conseguiu montar a posição nessa empresa em duas semanas. Eles também aproveitaram e conseguiram recomprar ações da própria Berkshire.

Defesa as atuações do FED. A despeito de todas as críticas a massiva injeção de liquidez na economia, Buffet e Munger defenderam as atuações do FED e do Tesouro Americano. Ele citou o exemplo da crise de 1929, onde os bancos receberam ajuda do banco central americano. Eles concordam que hoje há uma liquidez excessiva – havia US$800 bilhões em circulação na economia pré-covid, hoje são mais de US$ 2,2 trilhões. Falaram também que as decisões tomadas ajudaram a sair rápido da crise e que no momento de pânico não havia como prever o que iria acontecer, portanto foi necessário a ação do FED e do Tesouro.

Inflação. Diversas perguntas foram feitas sobre o tema e, no geral, a resposta foi praticamente a mesma: a melhor coisa para se proteger da inflação é ser bom naquilo que você faz para que as pessoas valorizem mais o seu trabalho. As pessoas vão pagar mais pelo que você faz se o fizer muito bem. A inflação não irá tirar isso de você. Então em um cenário inflacionário, o melhor investimento é se desenvolver.

Guerra. Eles lastimam o fato de ainda existirem guerras no mundo e o impacto disso na vida das pessoas. Ressaltaram que não há proteção para uma terceira guerra mundial ou ataques nucleares. No entanto, eles veem um risco significante de ataques cibernéticos. Algumas de suas empresas investidas são atacadas regularmente, mas eles têm conseguido evitar isso ao longo dos anos. Warren acredita que a cooperação entre público e privado é importante, principalmente em cybersecurities.

Bitcoin.* Os dois teceram duras críticas ao Bitcoin. Buffet deu um exemplo hipotético: se alguém lhe oferecesse comprar todas as fazendas, ou casas dos EUA por um valor simbólico de, por exemplo, US$25 milhões, ele faria o cheque na mesma hora. Mas que se alguém oferecesse comprar todos os Bitcoins do mundo (avaliados em mais de US$ 700 bilhões), ele negaria. Para ele trata-se de um investimento sem valor de uso, diferentemente de uma empresa, uma fazenda, um prédio ou mesmo o dinheiro. O Bitcoin precisa ser vendido para te gerar algum valor, mas ele em si não gera riqueza. Munger vai mais longe e diz: se algum amigo te falar para investir sua aposentadoria em Bitcoin, não o faça.

Petróleo.** Charlie Munger vê a commodity como essencial e vital nos próximos anos. Ele diz ter uma visão diferente do consenso acerca da importância dela nos próximos anos. Segundo ele, dado o baixo montante de investimentos dos últimos anos a commodity se tornará escassa e por isso valiosa. Não por acaso a Berkshire veio aumentando os investimentos no setor. Eles elevaram em mais de US$7 bilhões a sua participação na Occidental Petroleum (possuem atualmente 14% da empresa), além de terem elevado sua exposição a Chevron, que responde atualmente por 7.9% do portfólio da empresa.

China. Charlie Munger disse que não há dúvida que o governo na China tem gerado preocupações nos investidores e os preços das ações chinesas refletiram isso. No entanto, houve uma certa mudança de postura mais recentemente. Ele disse investir em ações chinesas por acreditar que consegue encontrar bons negócios e boas empresas no país a preços atrativos.

Alguns big numbers da conferência:

  • Cerca de 35 mil pessoas atenderam a conferência.
  • 12 mil pessoas foram nos estandes da feira, que acontece junto com a Conferência.
  • A Berkshire possui aproximadamente 3,5 milhões acionistasPara fins de comparação, na bolsa brasileira inteira temos 5 milhões de investidores.
  • 360.000 pessoas trabalham nas empresas da Berkshire.
  • Com 11 anos Warren Buffett comprou sua primeira ação.

 

Para mais informações e análises, me siga nas redes sociais – Twitter e Instagram.

Aquele abraço,

WILLIAM CASTRO ALVES

 

*Os emissores de Bitcoin não estão registrados na SEC, e o mercado bitcoin está atualmente não regulamentado. Bitcoin e outras criptomoedas são um investimento muito especulativo e envolve um alto grau de risco.
**Investir em commodities é geralmente considerado especulativo devido ao potencial significativo de perda de investimentos. Seus mercados provavelmente serão voláteis e pode haver flutuações acentuadas de preços mesmo durante períodos em que os preços em geral estão subindo.
Investir envolve risco e você pode incorrer em lucro ou perda, independentemente da estratégia selecionada. O material anterior não é uma recomendação para comprar ou vender qualquer ativo individual ou qualquer combinação de ativos.

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William Castro

Formado em economia pela UFRGS – RS. Em 2004, iniciou sua carreira na Solidus Corretora, com passagens pelo Koliver Merchant Bank e Banco Alfa. Foi sócio, analista-chefe e um dos principais porta-vozes da XPInvestimentos. Também foi sócio e líder de gestão da VGRGestão de Recursos. Possui as certificações Series 7 e 24. É estrategista-chefe, sócio e porta voz da Avenue desde 2018.

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