Berkshire Hathaway amplia lucro e vende mais ações enquanto Buffett prepara sucessão
05/03/2025
A Berkshire Hathaway (BRKb; Nyse), empresa de investimentos de Warren Buffett, mantém a maior parte de seus ativos em ações, preferindo investimentos de longo prazo. Mas em 2024, a empresa adotou uma postura considerada pelos analistas internacionais “surpreendentemente defensiva”, ao ampliar a venda de ua parcela importante destes ativos de renda variável. Seria esse o segredo para o conglomerado do megainvestidor, conhecido como ‘Oráculo de Omaha’, atingir um recorde de US$ 334,2 bilhões em reserva de caixa em 2024 (acima dos US$ 168 bilhões no fim de 2023)?
Ao todo, a Berkshire vendeu mais de US$ 134 bilhões em ações em 2024. Isso se deve principalmente à redução das duas maiores participações acionárias da Berkshire: Apple (empresa sobre a qual Buffett declarou, diversas vezes, ser uma das melhores que ele já investiu dado o modelo de negócios altamente lucrativo e a capacidade de gerar grandes fluxos de caixa) e o Bank of America (BofA).
Na sua carta anual aos acionistas, não ficam claras as explicações sobre o que Buffett estava tentando antecipar ao reduzir seu apetite pelas ações das empresas.
Ao mesmo tempo, chamou a atenção que grande parte dos recursos da Berkshire foram alocados em títulos do Tesouro de curto prazo. A empresa tem US$ 90 bilhões a mais do que o próprio Tesouro americano alocados no ativo, nota William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue. “Dos US$ 334,2 bilhões em reserva de caixa, o que émais do que o valor de mercado da Coca-Cola, ou seja, é um valor muito expressivo de caixa em 2024, US$ 287 bi estão alocados em tesouro”, destaca.
Buffett explica que, apesar de a empresa manter uma grande reserva de caixa – a posição aumentou em US$ 9 bilhões nos últimos três meses do ano passado e quase dobrou no último ano -, isso não gera retornos a longo prazo. Logo, sua estratégia principal continua sendo investir a maior parte dos recursos em ações. “Essa preferência não vai mudar”, cita o documento.
“Os acionistas da Berkshire podem ficar tranquilos: sempre vamos destinar a maior parte do capital a investimentos em ações, principalmente de empresas americanas, embora muitas delas tenham operações internacionais […]”Berkshire nunca preferirá manter dinheiro em caixa ou ativos equivalentes a dinheiro em vez de possuir bons negócios, seja no controle total ou parcial”.
Aos 94 anos, Buffett diz que não vai demorar muito para Greg Abel assumir o comando da empresa e passar a escrever as cartas anuais, mantendo o compromisso com a transparência.
“Greg demonstrou vividamente sua capacidade de agir em momentos como Charlie [Munger, seu falecido sócio]. Ele entende que se você começar a enganar seus acionistas, você vai logo acreditar nas suas próprias mentiras e estará se enganando também. Ser honesto sobre os erros é essencial para o sucesso a longo prazo”.
Ele ainda ressaltou que em 2024, a Berkshire teve um desempenho melhor do que ele esperava, embora 53% dos 189 negócios operacionais tenham relatado uma queda nos lucros.
Buffett observou no documento que os lucros operacionais anuais, sua medida preferida de desempenho, saltaram de US$ 37,4 bilhões para US$ 47,4 bilhões, um aumento de 26,7%. Dois fatores-chave impulsionaram os números:
A recuperação da GEICO, principal responsável pelos resultados da Berkshire no setor de seguros (salto de 48% na receita de investimentos em seguros, que chegou a US$ 4,1 bilhões), através de reformas internas que melhoraram a eficiência e a rentabilidade da seguradora; e a elevação das taxas de juros, que fez a Berkshire lucrar mais com areserva de dinheiro investida em títulos do Tesouro dos EUA.
Setores que mais contribuíram para o crescimento da Berkshire Hathaway
Setor | Lucro Operacional 2024 | Lucro Operacional 2023 |
Seguros – Underwriting | US$ 9,0 bi | US$ 5,4 bi |
Seguros – Investimentos | US$ 13,7 bi | US$ 9,6 bi |
BNSF (ferrovias) | US$ 5,0 bi | US$ 5,1 bi |
Berkshire Hathaway Energy | US$ 3,7 bi | US$ 2,3 bi |
Outras Empresas Controladas | US$ 13,1 bi | US$ 13,3 bi |
Total de Lucros Operacionais | US$ 47,4 bi | US$ 37,3 bi |
O valor de mercado da Berkshire tem se mantido acima de US$ 1 trilhão desde o fim do mês passado. As ações da Berkshire subiram 25% e 16% respectivamente nos últimos dois anos e subiram 5% até agora neste ano.
Já se passaram quase seis anos desde que a Berkshire começou a comprar ações em cinco empresas japonesas. O bilionário disse que a Berkshire pode aumentar “ao longo do tempo” suas participações de longa data na Itochu, Marubeni, Mitsui, Mitsubishi e Sumitomo, as cinco maiores empresas do Japão. A preferência se deve pelos bons dividendos, forte governança e modelos de negócios diversificados.
Inicialmente, a Berkshire limitou sua participação a 10% em cada empresa, mas depois negociou com as companhias para ampliar ligeiramente esse limite. “Com o tempo, você provavelmente verá a propriedade da Berkshire em todos os cinco aumentar um pouco”, reforça a carta aos acionistas.
O custo agregado do investimento japonês é de US$ 13,8 bilhões. A receita de dividendos esperada dos investimentos japoneses em 2025 totalizará cerca de US$ 812 milhões e o custo dos juros dadívida denominada em ienes será de cerca de US$ 135 milhões, segundo o documento.
“Espero que Greg Abel [cotado para ser seu sucessor] e seus eventuais sucessores ocupem esta posição japonesa por muitas décadas e que a Berkshire encontre outras maneiras de trabalhar produtivamente com os cinco empresas no futuro”, afirma o megainvestidor.
No relatório anual de 2024 da Berkshire Hathaway, Warren Buffett fala abertamente sobre seus erros na alocação de capital e na escolha de gestores ao longo do tempo, destacando a importância de reconhecê-los e corrigi-los rapidamente.
Buffett menciona que, entre 2019 e 2023, ele usou os termos “erro” ou “equívoco” 16 vezes em suas cartas anuais, destacando que outras grandes empresas evitam admitir falhas publicamente. As escolhas nem sempre certeiras foram por investimentos que não tiveram o desempenho esperado, e isso ocorre tanto em aquisições de empresas inteiras quanto em participações minoritárias em ações de empresas listadas.
No documento, Buffett cita o conselho de seu falecido sócio, Charlie Munger. “Problemas não desaparecem sozinhos. Eles exigem ação, por mais desconfortável que seja.”
No longo documento, o bilionário ainda mandou uma mensagem ao novo presidente americano, Donald Trump.
“Buffett sempre fala em suas cartas que a empresa tem orgulho de ajudar os Estados Unidos e de pagar seus impostos. Em 2024, a Berkshire gastou quase US$ 27 bilhões em impostos. Mas ele chama mais claramente a atenção para a questão fiscal americana e pede para o governo americano gastar de uma forma mais sábia, sem descuidar da estabilidade do valor da moeda dólar”, comenta William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue.
A carta terminou com uma nota um tanto sombria, com Buffett dizendo que a reunião anual da Berkshire – frequentemente descrita como “Woodstock” para os capitalistas – será uma “reunião reestruturada” este ano. Não haverá nenhum filme divertido como habitualmente no início do encontro.
A assembleia anual de acionistas da Berkshire Hathaway de 2025 será no sábado, 3 de maio, no CHI Health Center em Omaha, Nebraska, a mesma cidade da sede da Berkshire.