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Por

William Castro

Formado em economia pela UFRGS – RS. Em 2004, iniciou sua carreira na Solidus Corretora, com passagens pelo Koliver Merchant Bank e Banco Alfa. Foi sócio, analista-chefe e um dos principais porta-vozes da XPInvestimentos. Também foi sócio e líder de gestão da VGRGestão de Recursos. Possui as certificações Series 7 e 24. É estrategista-chefe, sócio e porta voz da Avenue desde 2018.

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LIVE

Antes de começar, convido você a assistir à live que gravamos no último dia 2 sobre o cenário macroeconômico e os seus impactos nos mercados de renda fixa e variável. Nela, aprofundei temas que costumo abordar com frequência na coluna, com destaque para as recentes movimentações do dólar. Caso não tenha acompanhado ou queira rever, confira a íntegra aqui.


 

A SEMANA QUE PASSOU NO MERCADO E OS SEUS IMPACTOS


 

Voltando à rotina dos dados, a semana passada contou com atualizações importantes do mercado de trabalho.

Na última terça-feira (1º), o relatório JOLTs referente ao mês de maio apresentou resultados acima do esperado. O número de vagas de emprego aumentou em 374 mil, totalizando 7,7 milhões – um volume bem acima das projeções dos economistas, que estimavam cerca de 7,3 milhões. Os aumentos foram mais significativos nos setores de hospedagem e serviços de alimentação (+314 mil), além de finanças e seguros (+91 mil). As contratações diminuíram em 112 mil, chegando a 5,5 milhões. No entanto, as demissões também caíram, com redução de 188 mil, alcançando 1,6 milhão e permanecendo próximas das mínimas históricas, o que indica que as empresas seguem retendo os seus trabalhadores.

Contudo, por se tratar de dados mais antigos (mês de maio), o JOLTs acaba tendo um impacto e uma importância limitada no mercado.

Já na quarta-feira (2), a ADP assustou o mercado ao divulgar dados bastante fracos no setor privado. De acordo com o Relatório Nacional de Emprego, foram registradas apenas 33 mil novas contratações, um número muito abaixo das 99 mil esperadas pelo mercado e inferior ao reportado anteriormente, que acabou sendo revisado para baixo e chegou em 29 mil. O resultado representa a primeira queda nas contratações desde março de 2023 e marca o pior desempenho no setor desde fevereiro de 2022.

Segundo a economista-chefe da ADP, Nela Richardson, “embora as demissões continuem em volume baixo, a hesitação em contratar e a relutância em substituir os trabalhadores que saíram levaram à perda de empregos no mês passado. Ainda assim, a desaceleração nas contratações ainda não prejudicou o crescimento salarial”.

Todo esse contexto gerou um clima de grande expectativa para o Payroll, divulgado na quinta-feira (3) por conta do feriado de 4 de julho (Independence Day). O Bureau de Estatísticas do Trabalho dos EUA divulgou o relatório de empregos não-agrícolas de junho, com números mais fortes do que os esperados e na contramão do balanço reportado pela pesquisa da ADP. Ao todo, houve a criação de 147 mil postos de trabalho, superando a previsão de 111 mil e ficando ligeiramente acima do dado revisado de maio (144 mil). Por sua vez, a taxa de desemprego caiu para 4,1% e contrariou as previsões de aumento para 4,3%.

Pela ponta negativa, apesar dos números robustos, o relatório destacou uma redução na participação da força de trabalho. Essa diminuição contribuiu para a queda na taxa de desemprego, já que menos pessoas estavam ativamente trabalhando ou buscando empregos. Ainda nessa linha, os ganhos médios por hora aumentaram 3,7%, mas permaneceram abaixo dos 3,9% esperados.


Fonte: Bloomberg (elaboração Avenue)

 

Em suma o Payroll mostrou que, apesar dos receios, o mercado de trabalho americano segue apresentando certa resiliência, mesmo com os dados sugerindo uma desaceleração na economia americana. De modo geral, o dado surpreendeu positivamente após os resultados fracos apontados pela pesquisa da ADP, reforçando a postura cautelosa do Fed na condução da política monetária e, ao que tudo indica, adiando a necessidade de cortes de juros no curto prazo.

 

Por que tanta divergência nos dados acerca do mercado de trabalho americano?

Agora, o leitor pode se perguntar por que há tanta diferença entre as medições de emprego nos EUA feitas por diferentes pesquisas. Como mencionado acima, o relatório JOLTs se refere ao mês de maio, não a junho. Se, por um lado, seus dados são mais “defasados”, por outro, esse delay possibilita revisões mais substanciais antes da divulgação. Por isso, o JOLTs acaba servindo como uma ampla fotografia ou um mapa geral do mercado de trabalho americano.

Já as divergências entre os levantamentos da ADP e do Payroll devem-se principalmente à:

  • inclusão de empregos públicos no Payroll;
  • diferentes métodos de amostragem;
  • cronogramas de medição.

O foco da medição da ADP nas folhas de pagamento do setor privado, aliado ao escopo mais amplo e à abordagem baseada em pesquisas do Payroll, frequentemente leva a essas discrepâncias – especialmente quando a contratação pelo governo ou fatores temporários desempenham um papel significativo. A pesquisa ADP, por exemplo, exclui empregos do setor público, trabalhadores temporários, freelancers e algumas pequenas empresas que não utilizam os serviços da ADP. Já o Payroll inclui empregos tanto do setor privado quanto público, abrangendo aproximadamente 80% dos trabalhadores dos EUA que contribuem para o PIB, com base em pesquisas com 147.000 empresas e agências governamentais.

 

“BIG BEAUTIFUL BILL”

Em paralelo, no dia 3 de julho, a Câmara dos Representantes dos EUA aprovou, por uma margem apertada de 218 votos a 214, o “One Big Beautiful Bill Act” do presidente Donald Trump. A aprovação representou uma vitória legislativa significativa para os republicanos. Apesar das divisões internas no partido, o presidente da Câmara, Mike Johnson, e Trump conseguiram convencer os parlamentares mais resistentes, com apenas Thomas Massie e Brian Fitzpatrick — ambos republicanos — votando contra, além de todos os democratas.


Fonte: Atlantic Council.org, 03/jul/2025

 

Você, leitor, provavelmente já foi bombardeado por uma série de manchetes e comentários sobre o tema. A seguir, queremos apresentar uma visão mais imparcial e esclarecedora a respeito do assunto.

 

Promessas de campanha

O primeiro ponto é que o projeto buscou consolidar a agenda doméstica de Trump, para a qual ele foi eleito. Ao longo de toda a sua campanha Trump prometeu prorrogar os cortes de impostos de 2017, aumentar os gastos com segurança na fronteira e defesa, retirar incentivos especiais ao setor de energia renovável, e introduzir cortes no Medicaid (programa federal e estadual dos EUA que oferece cobertura de saúde gratuita ou de baixo custo para americanos de baixa renda, idosos, pessoas com deficiência).

Esse projeto de lei trata e endereça exatamente esses pontos. Então, apesar das leituras maniqueístas que vemos aí, que retratam essa Bill como algo maquiavélico que prejudica uns e beneficia outros, penso que a melhor forma de analisar essa lei é compreendendo que, em economia, na maioria das vezes, as escolhas são entre uma solução ruim e outra ainda pior. Na percepção de uma parcela relevante da população americana, um corte de impostos que empondere o indivíduo é preferível a benefícios sociais que, muitas vezes, resultam em uma alocação de capital ineficiente e suscetível a fraudes.

 

Aumento do déficit

Muito tem se falado sobre o aumento esperado do déficit americano em razão dessa aprovação. A administração Trump e a Casa Branca afirmam que o OBBB reduzirá o déficit entre US$ 1,4 trilhão e US$ 2 trilhões, podendo chegar a US$ 6,6 trilhões se consideradas receitas provenientes de tarifas e cortes de gastos discricionários. O argumento é de que o crescimento econômico (projetado em até 3,5% pelo Conselho de Assessores Econômicos) e a adoção de tarifas recíprocas compensariam os custos.

No entanto, análises independentes como as do Tax Foundation, do Penn Wharton Budget Model e do Committee for a Responsible Federal Budget rejeitam essas alegações. De acordo com as estimativas do Congressional Budget Office (CBO), a versão aprovada – que inclui cortes de impostos de US$ 4,5 trilhões parcialmente compensados por reduções de gastos de US$ 1,2 trilhão – pode elevar o déficit em US$ 3,3 trilhões, ou até US$ 4,1 trilhões se considerados os custos com juros, nos próximos dez anos. O gráfico abaixo resume esses números:


Fonte: BBC.com, 03/jul/2025

 

Entendemos que, ao promover cortes de impostos sem uma contrapartida de mesma magnitude em termos de cortes de gastos, a lei tende a aumentar o déficit federal dos EUA nos próximos anos. No entanto, algumas variáveis são fundamentais nessa equação: (i) a trajetória de crescimento econômico usada nas projeções e (ii) os custos de carrego da dívida com o pagamento de juros. E é justamente da divergência nas projeções dessas variáveis que surgem as diferentes estimativas para o aumento do déficit.

A matéria Trump ‘Big Beautiful Bill’ final vote: As it happened, da Reuters, traz um compilado bem completo sobre o tema. Vale a leitura!

Vamos agora aos…

 

IMPACTOS NO MERCADO


 

Essa foi mais uma semana de recordes para a bolsa americana, com o índice S&P 500 alcançando 6.279 pontos. Mais interessante é que, segundo análise de Peter Mallouk, desde a sua criação em 1957 até o dia 27 de junho, o S&P 500 atingiu 1.231 máximas históricas — o que equivale, em média, a uma nova máxima a cada 20 dias! Considerando outras quatro máximas recentes, chegamos à impressionante marca de 1.235 dias históricos.

 


Fonte: Peter Mallouk on X, 01/jul/2025

 

O importante aqui é não termos medo de novas máximas.

Por outro lado, preço e valuation são variáveis importantes quando falamos em investir em bolsa. De fato, com a alta recente, o múltiplo da bolsa americana atingiu um patamar que não era observado há 20 anos. Somente no período da bolha das ponto.com vimos o S&P 500 sendo negociado a múltiplos superiores aos atuais.


Fonte: Zero Hedge on X, 30/jun/2025

 

Na renda fixa, vimos os yields dos títulos de dívida americanos voltarem a subir essa semana. Um mix de recuperação técnica, correção com os dados mais fortes do mercado de trabalho americano e impacto da “One Big Beautiful Bill Act” explicam esse movimento.


Fonte: Tradingview.com on, 04/jul/2025

 

 

A SEMANA QUE SE INICIA…

Esta será uma semana mais calma em termos de indicadores econômicos. No entanto, há um evento muito importante que será acompanhado de perto pelo mercado: o encerramento dos prazos finais para a pausa nas tarifas. Confira abaixo a programação para os próximos dias:


Fonte: Trump Sticks With July 9 Tariff Deadline, from Bloomberg TV, 02/jul/2025

 

  • 8 de julho: Encerra-se a pausa de 90 dias nas tarifas “recíprocas” impostas em 9 de abril. Essas tarifas, que variavam de 10% a 50% para quase todos os países, foram suspensas para viabilizar negociações comerciais. Sem prorrogações ou novos acordos, as tarifas específicas para cada país serão retomadas automaticamente;
  • 9 de julho: Termina o prazo para que os EUA e a União Europeia cheguem a um acordo comercial e, assim, evitem a aplicação de uma tarifa de 50% sobre as importações da UE. Essa medida já havia sido adiada em 1º de junho, após conversas com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

 

Nesse sentido, apesar das promessas, o que se concretizou até o momento foram apenas entendimentos preliminares e não finalizados com a China e o Reino Unido. Na semana passada, foi anunciado um acordo com o Vietnã, que manteve uma tarifa básica de 20% para o país. Já as negociações com a Índia e outros países seguem em andamento, mas incompletas.

Caso as tarifas sejam retomadas, o mercado projeta um impacto econômico com potenciais riscos de recessão e aumento de preços ao consumidor. Apesar disso, a própria Casa Branca sinalizou que os prazos de 8 e 9 de julho “não são críticos” e podem ser estendidos para países que estejam negociando de boa-fé. Por outro lado, o adiamento das decisões sobre tarifas também pode influenciar as escolhas do Fed, que adiou cortes nas taxas de juros justamente em razão da incerteza tarifária, acentuando a volatilidade no mercado.

Seguiremos atentos a esse tema, que tende a ser um dos principais destaques para o mercado nesta semana.

 

Agendas

Além disso, temos:

  • A divulgação do balanço patrimonial do Fed na segunda-feira (07);
  • A ata da reunião do Comitê de Política Monetária (FOMC) do dia 18 de junho, na quarta-feira (09);
  • Atualização dos pedidos de auxílio-desemprego, na quinta-feira (10), em meio a dados divergentes do mercado de trabalho.


 

Por fim, algumas poucas empresas seguem divulgando os seus números nesta semana:


 

Vale lembrar que fazemos um acompanhamento completo dos diversos resultados que já saíram, disponível na página Resultados Trimestrais: Temporada de balanços nos EUA.

 

Que tal continuarmos esse papo no Twitter e Instagram? Siga @willcastroalves e me diga o que achou do conteúdo da semana. Até lá!

Aquele abraço!

William Castro Alves

Estrategista-chefe da Avenue Securities

 


 

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William Castro

Formado em economia pela UFRGS – RS. Em 2004, iniciou sua carreira na Solidus Corretora, com passagens pelo Koliver Merchant Bank e Banco Alfa. Foi sócio, analista-chefe e um dos principais porta-vozes da XPInvestimentos. Também foi sócio e líder de gestão da VGRGestão de Recursos. Possui as certificações Series 7 e 24. É estrategista-chefe, sócio e porta voz da Avenue desde 2018.

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