Inflação americana… e eu com isso?
17/01/2022
17/01/2022
17/01/2022
A MAIOR INFLAÇÃO EM 40 ANOS
Semana passada foi marcada pela divulgação dos índices de inflação nos EUA, tanto ao consumidor quanto ao produtor. Nós, brasileiros, temos um histórico um tanto quanto traumático em relação à inflação. Por outro lado, quando pensamos na economia americana, não estamos acostumados a ouvir números “grandes” em relação a esse assunto.
De fato, aqui nos EUA, havia tempo que não víamos mudanças de preços tão elevadas – o gráfico abaixo coloca o CPI em perspectiva histórica, desde 1948, e ajuda nos ajuda a ter essa ideia. A inflação ao consumidor americano, na comparação anual, registrou alta de 7% em dezembro, seu maior crescimento desde 1982 (em 40 anos). O aumento foi puxado por maiores preços de alimentos (+6,3%), moradia (+4,1%) e veículos usados (+37,3%). Já os preços de combustíveis, que impulsionaram a inflação ao longo do ano, subiram mais de 48% e apresentaram queda no mês de dezembro
No caso da inflação ao produtor, os preços no atacado subiram menos do que o esperado para o mês de dezembro, mas em uma base de 12 meses, o índice teve alta de 9,7%, sendo o maior aumento desde 2010.
Muito se comentou sobre a transitoriedade dessa inflação e, por mais que ela venha a ser transitória, o fato é que a inflação está aí para qualquer americano – e para o mundo todo – ver.
VENTO QUE VENTA LÁ VENTA CÁ…
E o que você, brasileiro, o que tem a ver com isso? Já ouviu aquela expressão vento que venta lá venta cá?
Pois bem, supondo que o iPhone fique mais caro aqui nos EUA, o que você acha que vai acontecer com o seu preço no Brasil? Ou se um computador da Dell fica mais caro aqui, o que aconteceria com o preço dele no Brasil? Ora, ele tende a ficar mais caro por aí também, não é mesmo?
O gráfico abaixo mostra a relação entre a inflação ao consumidor americano e brasileiro. Ela não é perfeita. Nem deveria ser, afinal temos uma variável de câmbio que impacta nos preços relativos. Veja que, por exemplo, entre 2014 a 2016 tivemos uma forte inflação no Brasil (derivada de diversos fatores, entre eles o câmbio), sem que a mesma fosse observada nos EUA.
Mais recentemente a inflação que vivemos se deve aos gargalos das cadeias de suprimentos, em um momento de reabertura da economia. Esses fatores têm encarecidos produtos pelo mundo todo. Na tabela abaixo vemos que a inflação é uma realidade em diversos países. Em outras palavras, a inflação já está aí e quanto mais seguimos transacionando bens e serviços com o mundo, mais percebemos a percebemos.
Essa maior conexão do Brasil com o mundo faz com que cada vez mais nossa cesta de consumo e, consequentemente, nossa inflação seja influenciada pelo dólar. Se você não acredita em mim, veja a matéria de sexta-feira (11/01), do Valor Econômico.
Resumindo, essa inflação americana é exportada para o mundo sob a forma de produtos mais caros. A inflação chinesa é também é exportada para o mundo, bem como a inflação da Europa. Ou seja, buscar proteção contra inflação apenas em investimentos atrelados a inflação local (Brasil) pode não ser suficiente porque esse, atualmente, é um fenômeno global. Considere ter investimentos internacionais e em moeda historicamente forte para ajudar a se proteger desse fenômeno, que é global.
IMPACTO NOS MEUS INVESTIMENTOS?
Independentemente se a inflação for de demanda ou de oferta, o remédio mais tradicional para combatê-la acaba sendo por meio da contração das condições monetárias. Em outras palavras, uma das formas mais conhecidas de combate à inflação são os aumentos de juros.
O gráfico de pontos abaixo compara os rendimentos de títulos de 10 anos do governo americano (eixo vertical) com o núcleo da inflação (core do CPI no eixo horizontal). Basicamente, o que ele nos diz é que nunca antes tivemos uma inflação tão alta concomitantemente a um juro tão baixo nos EUA.
Ou seja, essa resiliência da inflação em patamares elevados, junto a um juro talvez exageradamente baixo, gera a expectativa de uma forte mudança no direcionamento de política monetária que leve a um aperto de juros ao longo de 2022 – inclusive, isso foi algo que comentei no post da semana passada.
E qual impacto disso?
Ora o juro nada mais é do que o preço do dinheiro. Se o juro aumenta, quer dizer que a “mercadoria dinheiro” ficou mais cara. Aquilo que se fala hoje de redução do balanço patrimonial do FED nada mais é do que reduzir o montante de dinheiro disponível em circulação, torná-lo mais escasso e, por consequência, mais caro.
Ora se o juro é o preço do dinheiro, o juro americano é o preço do dólar. Isso quer dizer que o FED ao mexer nos juros e nas expectativas de juros, mexe na percepção de preço do dólar. Portanto, é possível que o dólar se valorize pelo mundo.
O QUE FAZER?
Não há como afirmar o nível de inflação, juros ou a cotação do dólar ao final de 2022. Existem apenas expectativas.
Com intuito de ajudá-lo na árdua tarefa de navegar por momentos difíceis de mercado e economia, vou citar alguns exemplos de ativos que podem ser uma boa opção nesse cenário de inflação. A ideia aqui é abordar o comportamento histórico de diferentes classes de ativos em ambientes inflacionários em termos conceituais e não fornecer alguma recomendação de investimento.
Fontes usadas nessa pesquisa:
https://www.investopedia.com/articles/investing/081315/9-top-assets-protection-against-inflation.asp
https://www.investopedia.com/articles/investing/080813/how-profit-inflation.asp
Era isso pessoal. Me sigam nas redes sociais para mais conteúdos: @willcastroalves, no Twitter ou Instagram.
Aquele abraço!
William Castro Alves