Avenue

Por

William Castro

Formado em economia pela UFRGS – RS. Em 2004, iniciou sua carreira na Solidus Corretora, com passagens pelo Koliver Merchant Bank e Banco Alfa. Foi sócio, analista-chefe e um dos principais porta-vozes da XPInvestimentos. Também foi sócio e líder de gestão da VGRGestão de Recursos. Possui as certificações Series 7 e 24. É estrategista-chefe, sócio e porta voz da Avenue desde 2018.

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A SEMANA QUE PASSOU NO MERCADO E OS SEUS IMPACTOS

 

Conflito

A última semana foi novamente marcada pela volatilidade, reflexo da escalada das tensões no conflito entre Israel e Irã.  Os ataques aéreos israelenses contra instalações nucleares iranianas, seguidos por mísseis de retaliação, impactaram os mercados, especialmente os preços do petróleo, que registraram uma alta de 11% diante das preocupações com o fornecimento na região do Oriente Médio.

Em suma, o mercado segue acompanhando com receio:

  • a possibilidade de uma entrada oficial dos EUA no conflito;
  • novos ataques a instalações nucleares do Irã;
  • a hipótese do fechamento do canal de Ormuz, região estratégica para o escoamento de petróleo para o mundo, principalmente para a Ásia.

 

Dados da Economia

Agora falando sobre economia, dados do Departamento de Comércio dos EUA revelaram que o crescimento das vendas no varejo americano foi bem mais fraco do que o esperado para o mês de maio. Os consumidores americanos reduziram em 0,9% as suas compras ante uma queda estimada em 0,5% pelos analistas; já o núcleo do indicador trouxe uma queda de 0,3% diante de uma alta esperada de 0,2%.

Também foi registrada uma redução significativa nas vendas de automóveis, explicada pela antecipação de compras feitas para evitar a tarifa de 25% sobre carros e peças importados. Excluindo os automóveis, as vendas caíram 0,3%. Em geral, os gastos também diminuíram nos postos de gasolina, lojas de móveis e restaurantes, embora o varejo on-line tenha aumentado 0,7%. Apesar da inflação em queda e do baixo desemprego, a confiança do consumidor permanece baixa e isso pode resultar em gastos mais cautelosos no futuro.

Podemos dizer que, após uma melhora marginal dos indicadores econômicos, os últimos dados da economia americana voltaram a decepcionar na margem. Corroborando esse cenário, vemos que o índice de surpresa econômica do Citigroup registrou uma nova queda recentemente:

Fonte: The Daily Shot, 13/jun/2025

 

Decisão de juros

O grande destaque da última semana foi a decisão sobre os juros nos EUA. Conforme já era amplamente aguardado pelo mercado, o Fed manteve a sua taxa referência da economia (Fed Funds Rate) no intervalo de 4,25% a 4,50%. Essa foi a quarta reunião consecutiva em que o Banco Central americano optou por manter as taxas inalteradas.

Fonte: Bloomberg (elaboração Avenue)

No entanto, chamou a atenção do mercado a mudança nas projeções econômicas do Fed, que agora incorporam menos crescimento e mais inflação, resultando em uma leitura cada vez mais próxima de um cenário de stagflation. O Banco reduziu a estimativa do PIB de 2025 para 1,4% e elevou a estimativa de inflação para 3%. Apesar dessas revisões, a mediana das previsões do órgão ainda aponta para dois cortes de juros ao longo do ano:

Fonte: FederalReserve.gov, 18/jun/2025

 

Com relação à entrevista coletiva do presidente Jerome Powell, tivemos os seguintes destaques:

  • Perspectiva futura: O Fed mantém a sua posição de “esperar para ver”, com os mercados precificando o próximo potencial corte de juros para setembro de 2025. Powell comentou que provavelmente chegará a um ponto em que cortes nas taxas serão apropriados e que o Fed tomará decisões “mais inteligentes” se aguardar por mais alguns meses. “Por enquanto, estamos bem-posicionados para esperar para saber mais sobre o provável curso da economia antes de considerar quaisquer ajustes em nossas políticas”, afirmou;
  • Mudanças no gráfico de pontos: A principal novidade da reunião foi o aumento de diretores contrários a cortes nas taxas em 2025 – em março eram quatro, e agora já são sete os membros que defendem a manutenção dos juros. Powell ressaltou que o gráfico de pontos deve ser interpretado com a consciência de que qualquer projeção envolve um nível de incerteza muito elevado e, portanto, deve ser visto como um cenário provável, e não como uma previsão definitiva. “Olhar para o futuro, em um momento de altíssima incerteza, deve ser entendido como um caso mais provável… ninguém mantém essas trajetórias de taxas com muita convicção e todos concordam que elas dependerão de dados”, disse;

 

Fonte: FederalReserve.gov, 18/jun/2025

 

  • Condições econômicas: Powell avaliou que a economia está crescendo em um “ritmo sólido”, com baixo desemprego, embora a inflação permaneça “um pouco elevada”: “a economia dos EUA tem desafiado todos os tipos de previsões de enfraquecimento nos últimos três anos, e tem sido impressionante ver, repetidas vezes, as pessoas acharem que ela vai se enfraquecer. Eventualmente, isso irá acontecer, mas não vemos sinais disso agora”;
  • Preocupações com as tarifas: O presidente do Fed observou que as tarifas podem atrasar a redução da inflação, com potencial pressão de alta nos preços, embora os dados atuais mostrem um impacto mínimo. Ainda assim, ele ressaltou que as tarifas impactarão de alguma forma: “ao longo de toda essa cadeia, as pessoas tentarão não ser as únicas a arcar com os custos, mas, em última análise, o custo da tarifa terá que ser pago. E parte disso recairá sobre o consumidor final”;
  • Riscos geopolíticos: Powell destacou a incerteza do conflito Israel-Irã, que pode elevar os preços de energia, mas observou que, em picos anteriores, esses aumentos foram temporários;
  • Pressão política: Apesar das críticas de Trump e pedidos por cortes imediatos, Powell enfatizou que todas as decisões anunciadas são baseadas em dados e focadas no duplo mandato do Fed.

Leitura:

Em suma, tanto a postura do presidente do Fed quanto os seus comentários corroboram a ideia de que o Banco Central americano não tem pressa em alterar o curso de sua política monetária atualmente, devendo aguardar os potenciais impactos dos condicionantes atuais sobre os dados da economia para, só então, eventualmente voltar a cortar os juros. Powell reforçou que o nível de incertezas permanece elevado e que diversos eventos podem impactar a economia – por isso, a postura mais adequada, segundo a leitura dos dirigentes do Fed, é manter a sua política inalterada. Entendemos que, apesar da pressão política e de um cenário relativamente benigno em termos de inflação, os eventos recentes reforçam a percepção de que o Fed não deve alterar os juros na próxima reunião em julho, ainda que as previsões de dois cortes para o ano tenham sido mantidas.

 

Impactos no Mercado:

 

Renda Variável

Recomendamos que, no atual momento, a alocação em ações seja feita com muita cautela e parcimônia. Isso porque entendemos que a queda observada após o Liberation Day (02 de abril) fez com que as ações americanas voltassem a negociar a múltiplos elevados, conforme já abordado anteriormente aqui na coluna (leia mais em Conflitos de Trump pautam o início de junho).

Além disso, temos visto o S&P 500 muito próximo de sua máxima histórica, nos chamando a atenção a “coincidência” dos insiders – aqueles que trabalham na empresa – vendendo as suas ações. Segundo artigo da Bloomberg, os executivos corporativos estão vendendo ações no ritmo mais rápido desde novembro, com uma proporção de compras para vendas de 0,26 – a menor desde o início do rali pós-eleição (fonte). Essa venda intensa por parte dos insiders, que presumivelmente conhecem profundamente as suas empresas, sugere ceticismo sobre a sustentabilidade do atual momento de mercado. No entanto, vale a ressalva de que as vendas frequentemente superam as compras devido a necessidades financeiras pessoais não relacionadas a condições de mercado, como planejamento patrimonial ou exercício de opções.

Entendemos que a melhor leitura desse indicador não se limita apenas ao aumento das vendas, mas também à diminuição das compras por parte dos insiders – um sinal ainda mais forte de incerteza no mercado e que reflete valuations elevados. Embora não seja um alerta imediato, o alto volume de vendas pelos executivos, combinado aos receios vigentes no mercado e aos valuations da bolsa americana, sugere que os investidores devem permanecer cautelosos.

 

Dólar

O investidor global deve estar acompanhando com certa reserva a queda…

Primeiro, é preciso ponderar que este é um movimento tático global. Os receios com as tarifas, as incertezas gerais, a possibilidade de desaceleração da economia dos EUA e a possibilidade de redução dos yields americanos são os principais argumentos por aqueles que sustentam essa opinião. Não obstante, pautado por esses motivos, vimos que cerca de 31% dos investidores institucionais estão subalocados ou com uma visão negativa para o dólar americano – o maior nível registrado nos últimos 20 anos, segundo o Bank of America. Além disso, o posicionamento líquido de gestores de ativos e fundos alavancados em dólar americano caiu para perto do seu menor nível em três anos.

Fonte: The Kobeissi Letter, 19/jun/2025

 

Como resultado, o índice do dólar (DXY) caiu 9% no acumulado do ano, marcando o seu pior desempenho neste século. Isso coloca a moeda americana a caminho de sua maior queda no primeiro semestre do ano, desde 1986 – vide gráfico abaixo:

Fonte: Tradingview.com, 19/jun/2025

 

De modo que esse movimento global ajuda a explicar o desempenho do dólar contra o real, com uma queda de 11% e a cotação ficando abaixo do nível dos R$ 5,50 nesta última semana.

Agora algumas ressalvas importantes…

  • De fato, temos observado uma queda recente da moeda americana — e a própria foto evidencia esse movimento. No entanto, é importante destacar que, desde a grande crise financeira de 2008, o dólar tem se valorizado frente às moedas de países desenvolvidos. O índice dólar DXY, segundo o gráfico abaixo, acumula alta de pouco mais de 35% desde então. Claro que esse avanço não ocorreu de maneira linear; ao longo do período tivemos inúmeras oscilações, com momentos de altas e baixas. Ou seja, já testemunhamos movimentos de recuo do dólar no passado e, mesmo assim, não houve alteração da tendência de alta da moeda americana no longo prazo. Nem precisamos comentar que, em relação ao real, a valorização da moeda americana no longo prazo foi ainda mais expressiva.

Fonte: Tradingview.com, 19/jun/2025

 

  • Segundo ponto: essa forte exposição “net vendida”, ou negativa no dólar, pode provocar movimentos bruscos na moeda caso tais posições sejam revertidas. Nem sempre os consensos do mercado se concretizam e, diante de uma mudança de opinião, os gestores podem ser levados a desfazer essas posições, o que poderia catalisar uma valorização da moeda americana;
  • Terceira e mais importante ressalva: toda vez que você, investidor brasileiro, opta por não investir ou comprar dólares, você está fazendo uma aposta no real. Não comprar dólar é, de certa forma, comprar real… é preferir uma exposição à moeda brasileira, acreditando que ela irá performar melhor do que a moeda americana… É acreditar que, mesmo com os riscos inerentes, os investimentos em moeda nacional irão entregar uma performance superior ao retorno de classes globais… É também ignorar a concentração de alocação nacional (local) de patrimônio já existente na carteira de um investidor médio brasileiro.

 

Por isso, ressaltamos a importância de manter a consistência na alocação global e de aproveitar a oportunidade que o atual patamar de taxa de câmbio representa para o investidor brasileiro alcançar uma melhor diversificação da sua carteira, com uma parcela alocada no exterior. Lembramos ainda que tão importante quanto o preço dólar é o que você faz com os seus dólares… o retorno alcançado com os investimentos em dólar pode mais do que compensar as nuances da taxa de câmbio.

Pense a respeito!

 

A semana que se inicia…

Esta semana carrega alguns indicadores importantes para acompanharmos.

  • Na segunda-feira (23), temos a divulgação do PMI, indicador importante que nos dá uma boa dimensão do nível de atividade na economia americana;
  • Na terça-feira (24), é a vez de vermos a evolução dos dados de confiança do consumidor;
  • Já na quarta (25) e quinta-feira (26), saem os dados de vendas de casas novas, os pedidos de auxílio-desemprego e a revisão do PIB do 1T2025;
  • Por fim, na sexta-feira (27), temos o dado mais relevante da semana, com o indicador de inflação do mais acompanhado pelo Fed, o PCE.

Além disso, algumas poucas empresas seguem divulgando os seus números ao longo dos próximos dias:

Lembrando que você encontra o acompanhamento completo dos diversos resultados que já saíram na página: Resultados Trimestrais – Temporada de balanços nos EUA.

 

 

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Aquele abraço!

William Castro Alves

Estrategista-chefe da Avenue Securities

 


 

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William Castro

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