Mudanças nos juros americanos movimentam mercados
13/01/2025
Antes de seguirmos com os principais fatos da semana, aproveito para lembrar da live que realizamos na última quarta-feira (08) sobre o cenário macroeconômico atual e os impactos nos mercados de renda fixa e variável. Se você não viu, vale a pena conferir:
Conexão Avenue – Cenário Macroeconômico (08/01/25)
A SEMANA QUE PASSOU NO MERCADO E OS SEUS IMPACTOS
Começando pelas atualizações da semana anterior…
A pesquisa PMI (índice de gerentes de compras) de dezembro revelou um crescimento menor do que o esperado para o setor de serviços (56,8 versus 58,5), mas que ainda assim representou um crescimento (acima de 50), com um resultado acima do mês anterior (56,1). Em linhas gerais, os números mostraram uma atividade consistente com o aumento da confiança nos negócios e as empresas indicando que a procura dos clientes melhorou. Também houve aumento de contratações pela primeira vez em cinco meses e a taxa de expansão de novos pedidos atingiu o nível mais rápido desde março de 2022.
De acordo com Chris Williamson, Chief Business Economist da S&P Global Market Intelligence:
“A atividade empresarial no segmento de serviços aumentou em dezembro, com carteiras de pedidos mais elevadas e aumento do otimismo sobre as perspectivas para o ano que se inicia. Tais expectativas derivam da antecipação de políticas mais favoráveis a negócios na nova administração Trump, incluindo ambientes fiscais e regulatórios favoráveis, juntamente com o protecionismo por meio de tarifas. O desempenho do setor de serviços mais do que compensou a fraqueza percebida no setor de manufatura.”
Fonte: S&P Global, 06/jan/2025
Na quarta-feira (08), saiu a ata da última reunião do FOMC (comitê de política monetária americano) de dezembro, em que se optou por cortar a taxa referência de juros americana em 0,25 bps para um range entre 4,25% e 4,50%. Em suma, apesar de não citar o nome de Donald Trump, os dirigentes do Fed expressaram certa preocupação com a inflação e o impacto que as políticas propostas pelo presidente eleito podem causar na economia – o resumo do encontro contou com pelo menos quatro menções sobre o efeito que as mudanças na política de imigração e no comércio poderiam ter na economia dos EUA. Como reflexo dessas incertezas e receios, os dirigentes indicaram movimentos mais lentos nos cortes nas taxas de juros. Tal leitura vai em linha com a direção apontada pelo presidente do Fed, Jerome Powell, em sua coletiva de imprensa quando comparou a situação a “dirigir em uma noite de neblina ou entrar em uma sala escura cheia de móveis… você apenas desacelera”.
No entanto, o foco da semana foi a saúde do mercado de trabalho americano.
Na segunda (07), o JOLTs (Pesquisa de Vagas de Emprego e Rotatividade de Mão de Obra) divulgado pelo Departamento do Trabalho americano indicou: (i) um aumento acima do esperado nas vagas de emprego nos EUA em novembro (8,098 milhões versus 7,730 milhões); (ii) a revisão para cima do dado de outubro em 95 mil postos de trabalho a mais do que o número anterior; e (iii) uma queda na taxa de pedidos de desligamento de 2,1% para 1,9% entre outubro e novembro, sinalizando que os trabalhadores estão menos confiantes em encontrar um outro emprego caso eles deixem o atual.
Divergindo dessa leitura, o relatório ADP revelou que o setor privado americano criou menos postos de trabalho do que o esperado em dezembro (122 mil versus 139 mil), apresentando o número mais baixo desde agosto do ano passado. Os salários também tiveram menor crescimento, com uma taxa de 4,6% em relação ao ano anterior – o ritmo mais lento desde julho de 2021. De acordo com a economista-chefe da ADP, Nela Richardson, “o mercado de trabalho desacelerou o seu ritmo de crescimento no último mês de 2024, comportamento observado nas contratações e nos ganhos salariais”.
E, por fim, na sexta-feira (10) acompanhamos o Payroll, principal relatório sobre o mercado de trabalho americano, que surpreendeu trazendo números muito acima do esperado, tanto em termos de criação de postos de trabalho em dezembro (256 mil versus 164 mil) quanto com relação à queda da taxa de desemprego (4,1% versus 4,2% esperados).
Em resumo, os dados atualizados na última semana trouxeram números acima do esperado pelos economistas sobre a situação do emprego nos EUA. Isso reforça a visão de que o mercado de trabalho americano segue firme, dissipando os receios de uma maior desaceleração do mercado laboral. Tal cenário gerou forte impacto nos yields dos títulos de dívida americanos e nas expectativas em relação aos juros futuros.
IMPACTOS NO MERCADO
Conforme anunciado na semana passada, nesta Weekly vamos analisar mais detalhadamente a situação atual dos juros nos EUA.
Olhando adiante, além dos dados fortes do mercado de trabalho e da economia americana, há um ambiente de incerteza muito grande referente aos potenciais impactos das novas medidas que poderão ser anunciadas nas próximas semanas quando o presidente eleito, Donald Trump, assumir a Casa Branca.
Por isso, temos visto no mercado um rearranjo das expectativas e das curvas de juros nos EUA. Em nossa visão, esse tem sido o principal vetor para o movimento dos juros e do dólar no curto prazo. Refletindo esse horizonte, temos visto também uma escalada nos juros de vértices mais longos nos EUA, fato que ajuda a sustentar o dólar e acaba por pressionar o desempenho da bolsa no curto prazo.
Abaixo temos o gráfico dos yields de 1, 2, 10, 20 e 30 anos dos títulos de dívida do governo americano, em que podemos ver como houve uma alta especialmente nos vértices mais longos.
Fonte: tradingview.com, 10/jan/2024
Além disso, é possível notar a mudança que houve na estrutura da curva de juros. O gráfico a seguir compara o seu formato em 12 meses atrás e o atual. Se há um ano os títulos curtos pagavam mais do que os títulos longos, hoje vemos que essa realidade mudou drasticamente, com os juros longos oferecendo uma remuneração sensivelmente maior.
Fonte: investing.com, 10/jan/2024
Esse movimento chama ainda mais a nossa atenção ao considerarmos o momento presente, de cortes de juros pelo Fed. Diferentemente de outros períodos, ou outros ciclos de cortes, apesar do Fed estar reduzindo a taxa básica, o mercado vem precificando yields maiores – vide gráfico abaixo.
Consequentemente, cada vez mais temos visto o mercado reduzir as suas apostas de novos cortes de juros. Segundo a ferramenta FedWatch Tool da CME, o mercado aposta em um único corte ao longo de todo o ano de 2025.
Fonte: CME Fed Watch Tool, 10/jan/2024
E a implicação para investimentos?
Por ora, vemos yields mais elevados em contexto histórico, o que tende a ser positivo para investidores que buscam alternativas para investir em renda fixa nos EUA – o gráfico abaixo compila os yields de diferentes classes de ativos em renda fixa internacional, comparando as suas médias ao patamar atual.
Fonte: JP Morgan Asset Management, 02/jan/2025/
Fora isso, juros elevados tendem a fortalecer o dólar, conforme visto nos últimos meses – de outubro para cá, o índice dólar (DXY) acumula uma alta superior a 9%.
Fonte: tradingview.com, 10/jan/2024
Para a bolsa, o vetor mais importante é a capacidade de adequação das empresas aos diferentes cenários, entregando crescimento de lucros… mas é claro que, setorialmente, o impacto de juros mais elevados tende a ser negativo para algumas classes de ativos, como os REITs, o setor de utilities e as small caps.
A SEMANA QUE SE INICIA…
Para esta semana, o mercado estará focado nos novos indicadores de inflação:
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Aquele abraço!
William Castro Alves
Estrategista-chefe da Avenue Securities
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