Avenue

Por

William Castro

Formado em economia pela UFRGS – RS. Em 2004, iniciou sua carreira na Solidus Corretora, com passagens pelo Koliver Merchant Bank e Banco Alfa. Foi sócio, analista-chefe e um dos principais porta-vozes da XPInvestimentos. Também foi sócio e líder de gestão da VGRGestão de Recursos. Possui as certificações Series 7 e 24. É estrategista-chefe, sócio e porta voz da Avenue desde 2018.

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Antes de começarmos, um breve recado: no último dia 6 fizemos uma live para debater os principais assuntos abordados neste artigo. Se você perdeu ou quiser rever a gravação, basta acessar: Conexão Avenue – Cenário Macroeconômico (06/03/25).


 

A SEMANA QUE PASSOU NO MERCADO E OS SEUS IMPACTOS

Apesar do carnaval, diversos indicadores e eventos impactaram o mercado americano na semana passada.


 

Dados econômicos

A criação de postos de trabalho no setor privado desacelerou. De acordo com a ADP, empresa de processamento de folhas de pagamento, foram criados apenas 77 mil novos empregos, volume bem abaixo dos 186 mil revisados para cima de janeiro e da estimativa de consenso do mercado de 148 mil para o período. Em relação à renda, houve um aumento dos salários a uma taxa anual de 4,7% em fevereiro, mesma porcentagem do mês anterior.

Segundo a economista-chefe da ADP, Nela Richardson: a incerteza política e a desaceleração nos gastos do consumidor podem ter levado a demissões ou a uma desaceleração nas contratações no mês passado… Nossos dados, combinados com outros indicadores recentes, sugerem uma hesitação na contratação entre os empregadores, à medida que eles avaliam o clima econômico adiante.

Na sexta-feira (7), saiu o principal termômetro sobre o mercado de trabalho americano, o Payroll. O relatório mostrou uma criação de postos de trabalho menor do que a esperada (151 mil versus a expectativa de 159 mil) e uma taxa de desemprego levemente maior que as expectativas (4,1% versus os 4,0% esperados). Este é mais um dado relacionado a atividade que denota uma desaceleração da economia americana em fevereiro. Tivemos ainda a revisão para baixo da leitura de janeiro (de 143 mil para 125 mil), enquanto a de dezembro foi revisada para cima (de 307 mil para 323 mil).


Fonte: Bloomberg (elaboração Avenue)

 

Tarifas

Ao longo dos últimos dias acompanhamos inúmeras notícias sobre a implementação de tarifas a parceiros comerciais americanos, especificamente ao México, Canadá, China, Europa, além de outros casos de reciprocidade com tarifas sendo aplicadas indiscriminadamente sobre diferentes países.

É difícil manter qualquer texto sobre o assunto atualizado, uma vez que tais eventos e comentários têm acontecido praticamente todos os dias. Mas a consequência geral desses acontecimentos é a elevação do nível de incerteza econômica e, por tabela, o aumento da volatilidade nos mercados.

 

Medo de stagflation

No entanto, o grande medo que emergiu no mercado recentemente foi o receio de um cenário de stagflation, quadro de redução ou estagnação de crescimento econômico atrelado a aumentos de preços ou a uma inflação acima da esperada pelo Fed.

Tal sentimento deriva essencialmente da mudança que vimos nos dados de atividade econômica americana, conforme comentamos na coluna da semana anterior, Avenue Weekly – Impactos no crescimento americano e no dólar. Em especial, vimos que a atualização da ferramenta GDPNow do Fed de Atlanta apresentou uma grande variação, apontando para uma redução/queda do PIB americano, o que assustou o mercado – na última atualização, no dia 6 de março, a estimativa do modelo para o crescimento real do PIB no primeiro trimestre de 2025 foi de -2,4% (taxa anual ajustada sazonalmente).

 


Fonte: GDPNow – Federal Reserve Bank of Atlanta, 06/mar/2025

 

Ao abrirmos o dado, notamos que uma parte relevante dessa deterioração se deu essencialmente por conta de uma redução nos fluxos comerciais – em suma, os dados de balança comercial mostraram um aumento relevante de importações em fevereiro, sem uma contrapartida de crescimento de exportações.


Fonte: GDPNow – Federal Reserve Bank of Atlanta, 06/mar/2025

 

 

Parece-nos cedo e exagerado falar em stagflation neste momento. Apesar de termos visto o modelo do Fed de Atlanta apresentar elevada volatilidade, não podemos tomar uma leitura como regra. Entendemos que a redução dos dados de atividade é algo normal frente aos números muito fortes registrados nos meses anteriores – inclusive a Walmart trouxe, em seu conferece call de resultados, essa mesma percepção de uma expectativa de redução de consumo no 1T25 após meses de forte demanda. Não obstante, a redução do tamanho da máquina pública e o trabalho do Departamento de Eficiência Governamental, que visa diminuir os gastos do governo americano, pode trazer sim um impacto negativo no crescimento a curto prazo.

Avaliamos que o mercado adotou e precificou muito rapidamente, de forma antecipada, essa narrativa de stagflation, principalmente por conta das incertezas vigentes no campo tarifário. De fato, esse nos parece o grande risco vigente na atualidade, ou seja, de que a incerteza política provoque uma parada na economia, com consumidores e empresas postergando ou desistindo de suas decisões de consumo e/ou investimentos.

Sem dúvida este é um risco, mas talvez ainda seja muito cedo para apostar nesse cenário.

 

Indo além, a análise da Apollo Academy é bastante interessante, pois traz um olhar mais sóbrio ao tema. Segundo eles, o que estamos vivenciando e o que poderemos ver nos próximos meses são os custos dos ajustes associados às mudanças de políticas. Tal conceito está em linha com o que o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, tem comunicado ao mercado (vídeo de exemplo), e também com o discurso do presidente Trump feito ao Congresso na noite de terça-feira (4), de que a implementação de políticas de controle de gastos e de tarifas poderá gerar turbulências a curto prazo, como um efeito colateral para se alcançar uma economia melhor ajustada a médio prazo (leia mais em Six takeaways from Trump’s big speech | BBC).

Empregando uma metodologia semelhante ao modelo do Fed, o estudo da Apollo Academy mostra o impacto das tarifas e dos cortes de gastos implementados pelo DOGE (departamento de eficiência) no PIB e na inflação – vide gráficos abaixo. Em resumo, os resultados obtidos revelam que nos próximos trimestres a inflação será 0,2% maior e o PIB será 0,5% menor. Assim, o DOGE e as tarifas são um choque temporário para a economia, colocando uma pressão ascendente sobre a inflação e uma pressão descendente sobre o PIB. Entretanto, um ponto importante em sua análise é a percepção de que tais efeitos serão modestos e que tendem a se dissipar a médio prazo.


Fonte: Apollo Academy, 01/mar/2025

 

Resultados

Estamos chegando ao fim da safra americana de balanços que, em geral, exibiu números maiores que os esperados pelo mercado. A temporada de resultados mostrou um crescimento de lucros acima de 18% ano a ano, puxados mais uma vez pelas grandes empresas de tecnologia e do setor financeiro, de acordo com os dados do FactSet. As Sete Magníficas tiveram aumento de lucros de 37% na média, enquanto as companhias do setor financeiros entregaram um crescimento de 50% (fonte).

Os resultados que mais nos chamaram a atenção nos últimos dias foram:

  • AB Inbev (BUD): a maior cervejaria do mundo, dona da cerveja Budweiser e de outras marcas famosas, apresentou números maiores que os esperados, mesmo com volumes ligeiramente menores, e as suas ações reagiram positivamente;
  • Crowdstrike (CRWD): a empresa de segurança cibernética trouxe um resultado melhor do que o aguardado pelos analistas, mas surpreendeu negativamente com uma projeção de lucros para os próximos trimestres bem abaixo da esperada pelo mercado.

Na página Resultados Trimestrais – Temporada de balanços nos EUA você acompanha as principais divulgações e análises publicadas diariamente pelo nosso time de especialistas.

 

IMPACTOS NO MERCADO


 

Renda Variável

Seguimos com um nível de volatilidade elevado. Abaixo temos o Índice VIX, com destaque para alguns eventos recentes que elevaram o nível de volatilidade no mercado.


Fonte: Tradingview.com, 07/mar/2025

 

E, apesar da safra de balanços ter trazido um número de crescimento de lucros elevado (conforme comentado acima), temos visto os analistas revisarem para baixo as suas projeções de lucros para o S&P 500 em 2025, vide gráfico a seguir:


Fonte: LPL Research.com, 03/03/2025

 

Bom, volatilidade elevada e revisão para baixo das perspectivas de crescimento “conversam” ou condizem com uma performance mais fraca do mercado de ações, tal como temos visto. Abaixo nos deparamos com o mapa da performance das ações do S&P 500 na última semana, abarcando o período de 28 de fevereiro a 07 de março.


Fonte: Finviz.com, 07/mar/2025

 

E, assim, chegamos ao território de Extreme Fear no CNN Fear and Greed Index, situação que pode ser entendida como uma boa notícia para aqueles que buscam um momento de compra de ações.


Fonte: CNN Fear and Greed Index, 06/mar/2025

 

NOS JUROS

Os impactos dessa maior percepção de uma desaceleração e/ou o cenário de stagflation foram sendo precificados nos juros por meio do aumento das apostas de mais cortes nos EUA em 2025. Desse modo, voltamos a ver o mercado precificar três cortes ao longo dos próximos meses, com a taxa encerrando o ano entre 3,50 e 3,75%.


Fonte: CME Fed Watch Tool, 06/mar/2025

 

DÓLAR

Refletindo tanto os juros quanto esses riscos ao crescimento, o índice dólar voltou a ceder, acumulando uma queda ligeiramente acima de 5% desde a máxima atingida no dia 13 de janeiro de 2025.


Fonte: Tradingview.com, 06/mar/2025

 

É interessante notar que tal movimento (do índice dólar – DXY) se assemelha e muito ao que vimos no primeiro mandato de Trump. Coincidência?


Fonte: Jeffrey Kleintop on X, 05/mar/2025

 

Cabe aqui a ressalva de que, contra o real, enxergamos uma série de riscos importantes que o investidor não pode ignorar. Sobre isso, indicamos a leitura do post Urgência em dolarizar?.

 

E O PETRÓLEO…

No petróleo, a decisão da Opec+ de manter o aumento de produção em abril (Brent settles down, hit 6-month low on OPEC+ output rise, tariffs, Ukraine news | Reuters) atrelada a esse cenário de menor crescimento esperado acabou afetando negativamente os preços da commodity e isso explica a queda recente. Abaixo destacamos o desempenho da commodity em 2025:


Fonte: Tradingview.com, 06/mar/2025

 

 

A SEMANA QUE SE INICIA…

A inflação volta à cena nesta segunda semana de março, com o dado de preços ao consumidor saindo na quarta-feira (12) e para o produtor, na quinta-feira (13). Além disso, na terça-feira (11) será divulgado mais um dado sobre o mercado de trabalho, o JOLTs. Confira abaixo a programação completa para os próximos dias:


 

E o calendário de resultados da semana:


 

Que tal continuarmos esse papo no Twitter e Instagram? Siga @willcastroalves e me diga o que achou do conteúdo da semana. Até lá!

Aquele abraço!

William Castro Alves

Estrategista-chefe da Avenue Securities

 


 

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William Castro

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