Avenue

Por

William Castro

Formado em economia pela UFRGS – RS. Em 2004, iniciou sua carreira na Solidus Corretora, com passagens pelo Koliver Merchant Bank e Banco Alfa. Foi sócio, analista-chefe e um dos principais porta-vozes da XPInvestimentos. Também foi sócio e líder de gestão da VGRGestão de Recursos. Possui as certificações Series 7 e 24. É estrategista-chefe, sócio e porta voz da Avenue desde 2018.

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A SEMANA QUE PASSOU NO MERCADO E OS SEUS IMPACTOS


 

Com uma agenda de indicadores econômicos mais branda, a última semana foi tomada pela análise e acompanhamento dos primeiros dias de Donald Trump no comando da Casa Branca.

Trump tomou posse na segunda-feira (20), feriado de Martin Luther King, e tanto em seu discurso inaugural quanto nos seus primeiros atos como presidente ficaram bem perceptíveis as mudanças de tom na condução da maior economia do mundo. Logo na largada foram anunciadas diversas posições consideradas controversas, como a saída do Acordo de Paris e da Organização Mundial de Saúde, perdão aos invasores do Capitólio, dentre outras. Confira o resumo que preparei sobre os principais pontos levantados em sua fala inicial e em seu primeiro pacote de atos executivos no post Avenue Now – Executive orders Donald Trump.


Fonte: Sky News, 21/jan/2024

 

Em geral, entendemos que as medidas apresentadas tiveram um impacto reduzido no campo econômico. Óbvio que ainda é cedo para falarmos com maior profundidade, mas com relação aos dois tópicos mais sensíveis abordados (tarifas e imigração), as ordens anunciadas até então não parecem tão extremas assim e indicam uma postura mais moderada se compararmos às especulações anteriores de deportação em massa e tarifas elevadas de forma ampla a diferentes países.

Por outro lado, a retórica do presidente recém-empossado deve permanecer forte, tal como nos primeiros dias, por conta de sua busca em obter vantagens nas discussões envolvendo acordos comerciais e migratórios com parceiros internacionais. Isso deve manter a incerteza elevada quanto à sua política comercial a curto prazo.

Sobre a questão tarifária, de acordo com Trump, teremos algumas definições e novidades em fevereiro, ou seja, a partir da próxima semana. Também se falou muito a respeito de alíquotas e tarifas específicas a países e/ou produtos. Não sabemos exatamente o que virá pela frente, mas o tom adotado e algumas notícias que saíram nos últimos dias apontam para uma implementação mais estratégica, pensada em produtos ou mercados, e possível de ser escalonada ao longo do tempo.

Já que seguimos com tantas indefinições, o que podemos fazer, por ora, é traçar cenários com diferentes prognósticos. Por exemplo, o gráfico abaixo do Goldman Sachs (por Mike Zaccardi) apresenta a evolução da alíquota média americana em produtos importados dentro de alguns cenários hipotéticos. Segundo o banco, o cenário base esperado seria de um aumento de 20 p.p. nas tarifas de produtos importados da China e de carros importados da União Europeia e do México (linha azul). No entanto, existe ainda a possibilidade de que sejam implementadas tarifas sobre todos os produtos importados (linha vermelha) ou de que haja um aumento de 25 p.p. sobre Canadá e México e de 10 p.p. para os produtos chineses (linha cinza).

Fonte: Mike Zaccardi on X, 22/jan/2025

 

É interessante notar que, até então, a política tarifária americana vinha se mostrando bastante condescendente. O gráfico a seguir revela que há uma certa falta de reciprocidade entre as tarifas efetivas médias que os EUA cobram dos outros países versus aquelas que os parceiros impõem aos produtos americanos. Em outras palavras, em diversos casos os produtos americanos são mais tarifados no exterior do que os produtos de fora que chegam aos EUA.  O caso brasileiro é um ótimo exemplo: ainda que haja diferença na pauta exportadora, é fato que as tarifas impostas pelo Brasil aos produtos americanos (~13%) é sensivelmente maior do que aquela que os EUA impõem aos nossos produtos (~2%).


Fonte: Recyclingtoday.com, 02/2020

 

Na questão imigratória, num primeiro momento, ficaram de lado aqueles cenários ou receios de deportação em massa de imigrantes, medida que poderia contrair fortemente a oferta de emprego, gerando potencialmente um choque inflacionário de custos de mão de obra e maiores custos fiscais. Também é cedo para falarmos, mas ao que tudo indica teremos sim uma política imigratória muito mais rígida, com maior controle das fronteiras e liberdade de atuação dos agentes federais, sem necessariamente impactar fortemente o mercado de trabalho.

No mais, chamou a atenção o fato de Trump ter sido bastante enfático nas questões referentes ao meio ambiente e aos objetivos americanos, entrando em questões como o crescimento da produção de petróleo e gás e a redução da burocracia e rigidez das leis ambientais. Foi mencionada a possibilidade de os EUA declararem estado de emergência energética para aumentar a produção e as compras de petróleo e gás, com o intuito de reduzir os custos com gasolina e aquecimento das famílias, bem como os custos de energia para as indústrias.

Sobre a relação Brasil e dólar, entendemos que, além dos condicionantes internos (fiscal e político), será importante observarmos a dinâmica entre EUA e China, que poderá impactar nas exportações brasileiras de commodities agrícolas. Uma política mais cooperativa entre ambos poderia levar o país asiático a desviar as compras de produtos agrícolas do Brasil para os Estados Unidos, por exemplo.

Enfim, ainda restam muitas dúvidas de quais outras medidas poderão ser anunciadas nos próximos dias – o gráfico abaixo expõe o nível de incerteza com as políticas econômicas nos EUA.


Fonte: The Dailyshot, 21/jan/2024

 

Afora os seus primeiros atos executivos, tivemos também o anúncio do Stargate (fonte), uma iniciativa do setor privado que visa construir uma infraestrutura de inteligência artificial nos Estados Unidos. O projeto conta com uma parceria entre as gigantes da tecnologia, como a OpenAI (Microsoft), o SoftBank e a Oracle, e prevê investimentos em torno de US$ 500 bilhões. Citamos este evento aqui na Weekly por conta da sua repercussão no desempenho de algumas ações do setor.


Fonte: ABC.go.com, 22/jan/2025

 

 

IMPACTOS NO MERCADO


 

Em suma, o principal impacto no mercado destes primeiros dias do governo Trump foi o de trazer certo alívio nos juros, com os yields dos títulos de dívida americano se estabilizando após semanas de alta.


Fonte: Tradingview.com, 24/jan/2025

 

Além disso, os índices acionários reagiram positivamente com o S&P 500 atingindo nova máxima histórica. Em nosso entendimento, este resultado é um mix de:

  • Um posicionamento mais brando na questão tarifária, trazendo certo alívio aos ativos de risco;
  • Uma safra de balanços com números melhores do que os esperados pelo mercado;
  • Impacto positivo sobre algumas ações de tecnologia mais vinculadas às perspectivas positivas e aos investimentos em AI, em parte explicado pelo anúncio do projeto Stargate, conforme comentado acima.

 

Câmbio. Por fim, como consequência dessa percepção de menor risco e queda dos yields, vimos o índice dólar ceder. As moedas de países emergentes tiveram boa performance (se valorizaram) e com o real não foi diferente, tendo a taxa de câmbio ficado abaixo da barreira psicológica dos R$ 6,00. O gráfico a seguir revela a performance de algumas moedas selecionadas.


Fonte: Bloomberg, 23/Jan/25 | Elaboração: Avenue Intelligence

 

Ainda sobre o tema, uma pesquisa recente do Bank of America Merrill Lynch mostrou que os gestores seguem confiantes de que o dólar terá uma performance superior às outras moedas em 2025.


Fonte: The Daily Show, 21/jan/2025

 

Aqui na Avenue entendemos que a valorização do real frente ao dólar observada nos últimos dias resulta de uma reversão de expectativas – abrandamento das medidas apresentadas nestes primeiros dias em relação a tarifas e outras barreiras comerciais, precificando um cenário de uma presidência Trump mais moderada. Em nossa visão, esse movimento não tem nada a ver com mudanças no cenário local, que segue se mostrando fragilizado, com uma situação fiscal preocupante e não endereçada. Dado que o quadro local foi determinante para a depreciação observada na taxa de câmbio ao longo de 2024, vemos o momento atual como uma oportunidade de alocação em ativos no exterior, aproveitando-se o atual patamar de câmbio.

 

A SEMANA QUE SE INICIA…

Diferentemente da anterior, esta semana está recheada de indicadores econômicos relevantes, com destaque para as seguintes divulgações:

  • Confiança do consumidor na terça-feira (28);
  • Reunião do FOMC (comitê de política monetária americana) e decisão de juros na quarta-feira (29);
  • Anúncio do PIB do 4T24 na quinta-feira (30);
  • Dado de inflação medido pelo PCE, índice de preços de despesas de consumo pessoal mais acompanhado pelo Fed.


 

Balanços. Além de uma agenda cheia de indicadores econômicos, continuaremos acompanhando a divulgação dos resultados das empresas americanas. Entramos na semana mais importante desta safra de balanços, com 20% das empresas apresentando os seus números nos próximos dias, grupo que representa quase 40% do valor de mercado total do S&P 500. Veja no gráfico abaixo a divisão semanal dos anúncios desta temporada:


Fonte: Bloomberg, 23/Jan/25 | Elaboração: Avenue Intelligence

 

E nesta semana teremos as principais empresas de tecnologia publicando os seus números – vide calendário:

 


Como de praxe, você pode acompanhar essas divulgações em nosso blog, atualizado diariamente pelo nosso time de especialistas com os resumos do mercado: Resultados Trimestrais – Temporada de balanços nos EUA.

 

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Aquele abraço!

William Castro Alves

Estrategista-chefe da Avenue Securities

 


 

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