Avenue

Por

William Castro

Formado em economia pela UFRGS – RS. Em 2004, iniciou sua carreira na Solidus Corretora, com passagens pelo Koliver Merchant Bank e Banco Alfa. Foi sócio, analista-chefe e um dos principais porta-vozes da XPInvestimentos. Também foi sócio e líder de gestão da VGRGestão de Recursos. Possui as certificações Series 7 e 24. É estrategista-chefe, sócio e porta voz da Avenue desde 2018.

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AVENUE CONNECTION

Antes de entrarmos oficialmente na coluna da semana, quero te convidar para um dos maiores eventos de finanças do Brasil, voltado especialmente para quem se interessa em investimentos internacionais.

O Avenue ConnectionO encontro no Brasil para quem investe no exterior reunirá, nos dias 24 e 25 de julho, algumas das maiores gestoras e investidores do mundo, além de contar com a participação de grandes nomes nacionais e internacionais, como Howard Marks, Paulo Guedes, David Richman, nosso CEO Roberto Lee, entre outros.

Com transmissão ao vivo pela internet, o evento acontecerá no Teatro B32, conhecido como o “teatro da baleia” aqui em São Paulo. Para se inscrever e acompanhar a programação, acesse: Avenue Connection.

O evento será imperdível!

 

ROTATION NO MERCADO AMERICANO?

No mercado acionário, o tema que tem dominado as manchetes nos últimos dias é o rotation observado entre setores e ações. Explicando melhor… ao longo do ano, temos testemunhado fortes performances de um universo limitado de ações, formado principalmente pelas maiores empresas de tecnologia e/ou relacionadas ao tema da inteligência artificial. Além dessa trajetória de destaque de suas ações, o peso que elas representam no mercado acabou por influenciar também as performances dos principais índices de ações americanos. A tabela abaixo, por exemplo, apresenta a performance das 20 maiores empresas do S&P 500 no ano. Atualmente, as 5 maiores empresas do S&P 500 respondem por 26,63% do índice, enquanto as 10 maiores abrangem 35,58% e as 20 maiores chegam a 45,31%.

De uns dias para cá, mais precisamente após a divulgação do índice de inflação americano (CPI – Índice de Preços ao Consumidor) em 10 de julho, temos visto uma mudança no desempenho dessas ações e, ao mesmo tempo, de outros segmentos do S&P 500. O mapa abaixo sintetiza o comportamento das empresas no S&P 500 na última semana (10 a 17 de julho).

Fonte: Finviz.com 17/jul/2024

 

Também verificamos essas variações ao comparar a performance do S&P 500 com a do S&P 500 Equal Weight Index, índice que pondera todas as ações com o mesmo peso, sem fazer qualquer distinção de importância. Até o dia 10 de julho, o S&P 500 acumulava uma alta superior a 17%, enquanto o S&P EWI chegava a cerca de 4%. No entanto, nos últimos dias vimos outros grupos de ações apresentando forte performance, como os REITs (Real Estate Investment Trusts), as small caps e empresas do espectro das chamadas value investing ou ligadas a atividades mais tradicionais.

O gráfico a seguir confronta o desempenho do S&P 500 com os índices Dow Jones, representando as empresas mais tradicionais (linha vermelha); Russell 2000 de small caps (linha amarela); e Dow Jones REITS (linha verde). Ainda que a diferença de performance no ano persista, chama a atenção esses saltos observados nos últimos dias.

Fonte: Tradingview.com 18/jul/2024

 

O QUE EXPLICA ESSE ROTATION?

A meu ver, tivemos quatro vetores que atuaram nesse movimento:

(i) Juros.

Após a divulgação de um CPI mais brando no dia 10 de julho, vimos a curva de juros de curto prazo (2 anos – vide gráfico abaixo) ceder, com o mercado elevando suas apostas de que o corte de juros é uma questão de tempo. Ainda que sempre pairem incertezas no ar a respeito desse assunto, o mercado tende a soltar alguns sinais e indiretas em seus comunicados. A lógica do rotation, por conta desse fator, é a de que as empresas que mais sofreram com os juros elevados podem se beneficiar caso haja mudança na política monetária do Fed.

Fonte: tradingview.com 18/jul/2024

 

(ii) Eleições.

O atentado ao ex-presidente e atual candidato à Casa Branca Donald Trump chacoalhou o cenário eleitoral e teve como impacto, no curto prazo, o aumento das apostas relacionadas à sua vitória na corrida presidencial. Parte significativa do mercado entende que a política de tarifas a produtos importados, bem como a ideia de sustentar e defender os produtos americanos baseada no slogan “Make America Great Again”, pode ser potencialmente positiva para as mid e small caps. Além disso, Trump por diversas vezes tem defendido a indústria americana, especialmente alguns setores mais tradicionais considerados fundamentais para o desenvolvimento da economia nacional. Por isso, este é mais fator que considero ter contribuído ativamente para o rotation atual. Listei, a seguir, dois artigos que abordam essa questão:

Fonte: TradeStation 17/jul/2024

 

Fonte: TheStreet 17/jul/2024

 

(iii) China.

Na última quarta-feira (17), , a administração Biden emitiu relatório sobre o plano de usar uma medida de controle extremamente rigorosa de exportação, chamada Regra de Produto Direto Estrangeiro (FDPR), como uma forma de restringir o acesso da China a ferramentas de fabricação de chips de última geração. De acordo com a regra do FDPR, os EUA poderão impor controles de exportação sobre bens fabricados por empresas estrangeiras envolvendo qualquer tecnologia de origem norte-americana.

Somam-se a este episódio os comentários feitos no mesmo dia por Donald Trump de que Taiwan, o maior produtor de chips do mundo, deveria pagar pela sua própria defesa militar, aumentando as preocupações em relação ao tema e desencadeando movimento de vendas das ações de semicondutores, reforçando seu impacto no rotation que estamos aqui explicando.

 

(iv) Valuation.

Por fim, após as altas observadas principalmente nas maiores empresas, notamos que a discrepância de valuations se elevou significativamente. Ainda que não nos agrade a discussão em torno da dicotomia value versus growth, entendemos que é interessante o investidor dispor de um portfólio estrutural que abarque ambas as classes. É notório que o movimento do mercado durante o ano exacerbou a diferença de valuations, fazendo com que as empresas do espectro growth negociassem a múltiplos elevados frente as suas médias e em comparação às empresas do espectro value.

Fonte: Guide to markets JP Morgan Asset jul/2024

 

E DAQUI PARA FRENTE?

Bem, esta coluna não tem qualquer pretensão de prever o futuro, afinal de contas essa seria uma postura leviana e contrária ao nosso objetivo principal, que é incentivar e promover o debate sobre temas de interesse aos investidores. Dessa forma, não há como saber até quando persistirá esse movimento de rotation observado nos últimos dias.

No entanto, sabemos que o mercado é rápido em ajustar descompassos e, em paralelo, temos visto um forte influxo de recursos para small caps. Observe no gráfico abaixo do Bank of America que, recentemente, as small caps receberam o segundo maior influxo de recursos semanais da história.

Fonte: The Daily Shot 19/jul/2024

 

E, olhando os REITs, percebemos que a alocação atual na classe é a menor desde janeiro de 2009 – vide gráfico abaixo:

Fonte: The Daily Shot 18/jul/2024

 

Além disso, podemos notar também que a diferença de valuations entre as empresas de crescimento e as demais se mostra bastante expressiva.

 

Resumindo, ainda parece haver espaço para a continuidade de correção de certas discrepâncias. No entanto, penso que, daqui para a frente, será crucial acompanhar os resultados financeiros das empresas, posto que as ações tendem a repercutir o que acontece internamente nas companhias, desde os seus resultados até as suas perspectivas. Então, para que tal rotation ou performance se sustente é necessário que os resultados e/ou perspectivas dessas empresas mais tradicionais e/ou small e mid caps ajudem a sustentar essa percepção de melhora.

 

RESULTADOS

Na coluna passada, falei sobre as expectativas do mercado relacionadas aos balanços financeiros das empresas americanas divulgados ao longo do mês. Para quem estiver interessado em uma recapitulação, confira aqui: O que esperar dos resultados nos EUA (avenue.us)

Já esta semana promete uma agenda intensa, com diversas companhias divulgando seus números simultaneamente – vide agenda abaixo.

 

Como posso acompanhar essas divulgações?

Aqui na Avenue, nosso time realiza uma ampla cobertura dos principais resultados, disponibilizada em “Resultados Trimestrais: Temporada de balanços nos EUA”.

Outro link super útil para quem deseja acompanhar os anúncios de resultados com rapidez é esta página da CNBC.

 

ENQUANTO ISSO NA ECONOMIA…

Nos últimos dias, tivemos uma agenda mais branda com indicadores mistos, deixando um gosto doce e amargo na boca.

De um lado, as vendas no varejo aumentaram 2,3% em junho, em relação ao ano anterior. Havia uma expectativa de queda de 0,3% nas vendas no varejo em junho ante maio, mas o resultado apontou para uma estabilidade mostrando que, apesar dos sinais de desaceleração da economia, o consumo, parte fundamental ao PIB americano, tem se mostrado resiliente. Ah, os números divulgados pelo Departamento de Comércio na última terça-feira também revelaram que as vendas em maio foram maiores do que inicialmente estimadas.

Fonte: The Dailyshot 17/jul/2024

 

E, reverberando também esses resultados acima do esperado, tivemos a estimativa de crescimento da ferramenta do Fed de Atlanta, o GDPNow, apontando para um crescimento estimado de 2,5% (anualizado) para o 2T24.

Fonte: GDPNow Fed Atlanta 19/jul/2024

 

 

Por outro lado, o Livro Bege indicou que 5 dos 12 distritos do Fed relataram uma atividade econômica estável ou em declínio, isso significa um aumento de 3 novos distritos apontando para uma atividade mais fraca em comparação com o relatório anterior, de maio – fonte. A maioria dos distritos registrou uma fraca procura de empréstimos ao consumo e às empresas, sendo que alguns deles relataram um crescimento modesto no emprego. Segundo o report:

“Quase todos os distritos mencionaram que os varejistas estão oferecendo descontos em artigos ou que os consumidores estão sensíveis aos preços, comprando apenas bens essenciais, adquirindo menos artigos ou ainda se mostrando mais seletivos na busca por ofertas.”

“As expectativas para o futuro da economia seriam de um crescimento mais lento nos próximos seis meses devido à incerteza em torno das próximas eleições (presidenciais), à política interna, ao conflito geopolítico e à inflação”. Federal Reserve Board – Beige Book

 

Seguiremos monitorando todo o cenário para entender até que ponto essa desaceleração em curso na economia refletirá na manutenção dos preços, interferindo nos juros e, consequentemente, nos demais ativos.

 

Que tal continuarmos esse papo no Twitter e Instagram? Siga @willcastroalves e me diga o que achou do conteúdo.

 

Aquele abraço!

William Castro Alves

Estrategista-chefe da Avenue Securities

 

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