Avenue

Por

Tomás Roque

Formado em Economia pela UNESP com distinção e extensão em Business na Tampere University - Finlândia. Possui as certificações CGA, CGE e Series 99

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Há quase duas décadas não se via a taxa de juros americana em patamares acima de 5% ao ano. Essa taxa, que pode parecer baixa quando se pensa em Brasil, é muito alta para a realidade dos EUA. Desde início da década de 2010 as taxas estavam próximas de 0%, tornando a renda fixa pouco atrativa, enquanto o S&P 500, principal índice acionário americano, subiu mais de 360% nesse período, como é possível ver nos gráficos abaixo.

Fonte: Trading View

 

Fonte: Trading View

 

A partir de 2016 foi possível notar um aumento na taxa de juros dos EUA, decorrente do fim da política monetária expansionista que tomou conta no início da década, após a crise de 2008. O que não se esperava era uma pandemia global em 2020, onde praticamente todos os estabelecimentos fecharam para evitar o avanço do vírus.

Visando impulsionar uma economia em uma situação atípica e emergencial, o governo dos EUA (como da maioria dos países) abaixou rapidamente a taxa de juros, para impulsionar o consumo, que se via muito retraído. E quando juros foram cortados com essa magnitude e rapidez, o fantasma da inflação voltou a assombrar a maior economia do mundo, que não batalhava com esse problema há muito tempo.

O CPI, principal índice de inflação americano, chegou a bater mais de 9% em meados de 2022, forçando o FED a elevar a taxa de juros em uma velocidade muito grande para conter o aumento de preços o mais rápido possível. Com os juros nesse patamar, toda a dinâmica de investimentos é afetada, atraindo muito capital para a terra do Tio Sam. A ideia desse artigo é, a partir das taxas altas, entender se isso é algo duradouro ou passageiro, e possíveis formas de aproveitar esse evento raro.

 

Taxa de juros

É sempre importante lembrar o que é a taxa de juros. Pode-se entender como o custo do dinheiro no tempo, ou seja, quanto mais alta a taxa de juros, maior o custo de pegar dinheiro emprestado, e vice-versa. Elas são definidas pelos Banco Centrais dos países, que geralmente possuem 2 objetivos: controlar a inflação e manter o nível de desemprego baixo.

Historicamente, a taxa de juros dos EUA foi menor que a do Brasil. E há um motivo muito claro para isso ocorrer. Caso os dois países tivessem a taxa de juros em 10%, em qual você acha que as pessoas colocariam dinheiro?

  • No país com o maior PIB mundial, com mercado acionário valendo mais de US$ 50 trilhões, com uma moeda existente desde 1792, ou;
  • No país com menos de US$ 1 trilhão em valor de mercado acionário, com histórico de hiperinflação e com uma moeda que completa 30 anos esse ano?

O mundo todo escolheria (e escolhe) a primeira opção. Quando se pensa que a taxa de juros no Brasil é mais alta, e por isso não é preciso investir fora, existe um motivo para ela ser mais alta: o risco é muito mais elevado. Nesse artigo Investimentos no exterior: Guia Completo para iniciar sua jornada de investimentos internacionais (avenue.us) tem mais alguns motivos para expandir seu horizonte de investimentos globalmente.

Para aprofundar mais ainda no diferencial de juros entre o Brasil e os EUA, o José Maria trouxe um artigo muito interessante que explora bastante essa diferença, os seus motivos e oportunidades Juros, diferencial com Selic e oportunidades (avenue.us)

 

Sem risco?

Voltando ao Brasil, pode-se pensar que é possível receber 10,75% de juros (abril/2024) sem risco. Será que é mesmo sem risco? Quando comparado com países como Botsuana ou Trinidad e Tobago, o Brasil possui uma nota de crédito pior. Em resumo, internacionalmente falando, é mais seguro emprestar dinheiro para os governos de Botsuana ou Trinidad e Tobago do que para o governo brasileiro.

Como está perto da gente, não parece que é tão arriscado. Até existe um nome para esse viés, chamado de Home Bias, onde existe a tendência de concentrar seus ativos no seu país, onde você conhece mais. O Brasil é um dos melhores exemplos desse viés, uma vez que os brasileiros investem menos de 1% no mercado internacional. Quando se compara com países próximos, a diferença é muito grande: os chilenos possuem por volta de 50% de investimento fora, México e África do Sul em torno de 20% de alocação internacional.

Por isso é sempre importante entender a carteira de investimento em um cenário global, ainda mais se considerar que o Brasil representa menos e 1% do mercado de ações mundial, e próximo de 1,5% do mercado de renda fixa.

 

Dólar + 5% ao ano?

É muito comum no Brasil produtos que pagam uma remuneração híbrida, como CDI + 1% ou IPCA+ 5% por exemplo. Ou seja, o título irá pagar uma rentabilidade fixa em cima de um indicador. Quando se vai para os Estados Unidos, é muito mais comum os títulos serem totalmente prefixados. Eles pagam uma taxa predefinida no momento que são emitidos, e caso fique com o título até o vencimento, terá aquela taxa acordada.

5% ao ano nos EUA é algo bem alto, como foi dito anteriormente. Apesar de parecer pouco para os brasileiros, é preciso levar em consideração a variação da moeda, que pode, em alguns casos, ser maior que a rentabilidade do título em si.

Durante a década passada, de 2010 até 2019, o dólar se valorizou mais de 127%. Quando se anualiza essa taxa, temos mais de 8,55% ao ano. Claro, não é uma previsão que na próxima década ele irá se valorizar dessa forma, podendo ser menos ou mais. Na realidade ninguém sabe essa resposta. É apenas para ter uma dimensão e entender que com uma taxa de juros a 5% ao ano, mais o dólar, historicamente foi uma rentabilidade alta. E vale ressaltar que o que impacta o preço de uma moeda ao longo do tempo é o diferencial de inflação entre os países, ou seja, considerando que historicamente nossa inflação é maior que a inflação americana, é natural que o real continue perdendo valor no longo prazo caso esse cenário seja mantido.

Mas voltando ao exemplo hipotético, chegamos em algo próximo de 13,55% ao ano, quando se soma a taxa prefixada mais a variação do dólar no período (5% + 8,55%). Por isso é necessário entender a taxas dos títulos nos EUA não como 5% ao ano, e sim Dólar + 5% ao ano. Essa mudança de ótica afeta a forma de compreensão dos investimentos internacionais

Dentro da renda fixa é possível achar títulos pagando esse tipo de remuneração, ou até maiores que 5% ao ano, lembrando que quanto maior a remuneração de um título, maior o risco dele. Risco e retorno sempre andam de mãos dadas, por isso a importância de entender os objetivos e perfil de risco na escolha dos títulos e ativos que a compõe a carteira de investimentos.

 

Considerações finais

Não se acredita muito que a taxa de juros americana ficará nesses patamares por muito tempo. A curva de juros abaixo deixa isso bastante claro.

Fonte: US Trasury Yield Curve

 

É certo que os últimos dados de inflação (CPI) tenham surpreendido negativamente, demonstrando que o aumento de preço continua forte, muitas vezes avançando acima do esperado. Como foi mostrado nesse artigo Como a taxa de juros impacta o nosso dia a dia e influencia a inflação? (avenue.us), a taxa de juros é uma espécie de remédio para inflação. Se vem alta, é preciso um aumento dos juros para controlá-la.

Agora, dólar + 5% ao ano só foi visto há quase duas décadas, demonstrando um período atípico, tanto para os governos como para os investidores, que podem enxergar isso como uma janela de oportunidade.

 

Referências:

SPX 5161.36 ▼ −0.93% Sem nome (tradingview.com)

The World’s Biggest Stock Markets, by Country (visualcapitalist.com)

Media Release: S&P affirms Trinidad and Tobago’s investment grade rating based on financial resiliency – Ministry of Finance

SP Press Release – Botswana Ratings Affirmed 15-03-2024.pdf (bankofbotswana.bw)

Princípios de sucesso para diversificação global | Investimento no Exterior | Valor Investe (globo.com)

The Long and Short of “Home Country” Bias | CLA (CliftonLarsonAllen) (claconnect.com)

Preços Históricos USD/BRL – Investing.com

US Treasury Yield Curve

CPI.jsp (nh.gov)

 

Disclaimers:

A situação de cada investidor é única e você deve considerar seus objetivos de investimento, tolerância ao risco e horizonte de tempo antes de fazer qualquer investimento. Investir envolve risco e você pode incorrer em um lucro ou perda, independentemente da estratégia selecionada. O conteúdo acima não é uma recomendação para comprar ou vender qualquer ativo individual ou qualquer combinação de ativos.

Qualquer informação não é um resumo completo ou declaração de todos os dados disponíveis necessários para tomar uma decisão de investimento e não constitui uma recomendação. Os investimentos mencionados podem não ser adequados para todos os investidores.

Todo tipo de investimento, incluindo fundos, envolve risco. Risco refere-se à possibilidade de que você perderá dinheiro (tanto principal quanto qualquer ganho) ou não consiga ganhar dinheiro com um investimento. A mudança das condições do mercado pode criar flutuações no valor de um investimento em fundos. Além disso, existem taxas e despesas associadas ao investimento em fundos que geralmente não ocorrem na compra de ativos individuais diretamente

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Tomás Roque

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