Macroeconomia e como ela afeta os investimentos
29/11/2024
Quando se fala sobre economia nos noticiários, é bastante comum que o foco seja a macroeconomia. E isso tem um motivo: a macroeconomia analisa o comportamento e desempenho da economia de forma geral. Ou seja, ela olha indicadores importantes, como PIB, inflação, desemprego, câmbio e taxa de juros, por exemplo.
Nesse artigo, iremos explorar esses principais indicadores, assim como os impactos que as alterações neles causam nos investimentos. Alguns efeitos são mais diretos, enquanto outros são mais sutis, mas é inegável que mudanças nesses índices afetam o portfólio de grande parte dos investidores. Por isso, é fundamental entender essas relações.
O primeiro grande indicador macroeconômico que vamos abordar é o PIB, que significa Produto interno Bruto. O PIB nada mais é do que a soma de todos os serviços e produtos finais produzidos por um país em um determinado período de tempo. Isso quer dizer que, por exemplo, o valor de uma roda usada em um carro não entra no cálculo do PIB, pois é um produto intermediário. Porém, o preço total do carro, que já inclui todos os componentes necessários para sua fabricação, é considerado no cálculo do PIB.
Caso as empresas estejam produzindo bastante, isso será refletido na medição do PIB. Quanto maior o PIB, mais saudável e forte é a economia de um país. Com crescimento elevado, as ações das empresas tendem a se valorizar, especialmente aquelas mais sensíveis aos ciclos econômicos, relacionadas ao consumo discricionário. Isso inclui bens não essenciais, como automóveis, eletrodomésticos duráveis, roupas, entre outros.
A comparação dessa métrica entre diferentes países é melhor feita através do PIB per capita, ou seja, o PIB dividido pela população. Abaixo é possível ver o gráfico desse indicador para alguns países de 1989 até final de 2022.
Quando se compara o Brasil aos EUA, por exemplo, podemos perceber que a década de 2010 foi um período difícil para o Brasil, com muitos entraves internos e crises que causaram um declínio do PIB per capita. Situação bem distinta dos americanos, que viram o indicador subir para as máximas.
Fonte: World Bank
Como já explorado em outros artigos (O que é inflação e por que ela impacta no seu bolso? (avenue.us) e Como a taxa de juros impacta o nosso dia a dia e influencia a inflação? (avenue.us)), a inflação pode ser entendida de duas formas:
Diferente de como ocorre nos EUA, no Brasil existe uma boa parcela de títulos ligados ao IPCA, principal indicador de inflação no país. Isso se dá pelo histórico inflacionário brasileiro, especialmente antes do plano real. Quando vamos para os EUA, a grande maioria dos títulos são prefixados, ou seja, pagam taxa fixas de 4%, 5%, 6% ao ano, por exemplo.
Se a inflação nos EUA estiver muito acima da meta do Banco Central (atualmente em 2%), os investidores podem ter uma rentabilidade real negativa, ou seja, o retorno dos seus investimentos pode ser menor do que a inflação. Isso acontece pela predominância de títulos prefixados, pois não possuem o componente pós fixado da inflação. Dessa forma, se a inflação for muito alta, o rendimento desses investimentos pode não ser suficiente para cobrir a perda de poder de compra.
Por sermos um país em desenvolvimento, a nossa inflação é historicamente maior que a inflação dos americanos. No gráfico abaixo temos a comparação do IPCA e do CPI, principais índices de inflação do Brasil e EUA, respectivamente, desde a criação do plano real até 2023. Houve apenas 2 anos em que a inflação americana foi maior que a brasileira: 2006 e 2022, com uma margem bem próxima entre os dois índices.
Sistematicamente, o IPCA é maior que o CPI, um dos motivos que leva a moeda brasileira, com o passar do tempo, perder valor em relação à americana, como será visto no tópico seguinte.
Fonte: IPEA e FED
A relação entre duas moedas de diferentes países é chamada de câmbio, e esse é um dos principais indicadores macroeconômicos. Uma moeda desvalorizada, por exemplo, pode ser vantajosa para um país que exporta bastante, uma vez que ele fica mais competitivo internacionalmente. Por outro lado, produtos importados e até commodities, que são cotados em dólares, tendem a ficar mais caros, pressionando a inflação.
Dois gráficos abaixo ilustram o efeito do câmbio, especialmente sobre o Brasil. O primeiro diz respeito a cotação do dólar em comparação com o real desde 2000 até outubro de 2024. É notável a trajetória para cima, com alguns solavancos vindos tanto de questões internas como externas.
Fonte: IPEA
O segundo gráfico é uma comparação do principal índice de ações brasileiro, o Ibovespa, tanto em reais como em dólares. De janeiro de 2000 até agosto de 2024 ele cresceu quase 700% em reais. Quando se dolariza, esse crescimento fica em 60%. Ou seja, o impacto da moeda faz com que a rentabilidade fique muito menor, visto que ela se desvalorizou bastante nesse período.
Fonte: Koyfin
Seguindo a linha de indicadores de atividade econômica, a taxa de desemprego mede a porcentagem da força de trabalho que está sem emprego e em busca de trabalho. Existem alguns fatores que podem influenciar no aumento do desemprego, como crises econômicas, mudanças tecnológicas – principalmente automação e digitalização, e até uma queda na confiança dos investidores de um país.
Agora, pensando em motivos que diminuem a taxa de desemprego, podemos citar crescimento econômico – especialmente em setores intensivos de mão de obra, políticas de incentivos ao emprego e uma qualificação profissional incentivada.
Um desemprego alto, consequentemente, diminui o consumo das famílias, podendo afetar as receitas e lucros de empresas mais sensíveis aos ciclos econômico, como dito na seção do PIB. O gráfico a seguir mostra a taxa de desemprego nos últimos 10 anos, tanto do Brasil (verde claro) como dos EUA (azul). Quando ela está alta, é um sinal vermelho, pois tanto as empresas quanto o setor público podem visualizar uma situação pior no futuro, fazendo demissões e congelando as contratações.
Fonte: Trading Economics
O dinamismo do mercado de trabalho americano fica nítido em 2020, durante a pandemia do Covid-19, quando a taxa de desemprego subiu muito forte, ficando inclusive acima da brasileira, mas pouco tempo depois retornou aos patamares normais da economia americana.
Esse seja talvez o indicador mais importante, que baliza toda a economia de um país. A taxa de juros representa o custo do dinheiro, então quanto maior ela estiver, mais caro se torna para pegar dinheiro emprestado, seja crédito pessoal, financiamento imobiliário etc. Ela é utilizada pelos Bancos Centrais como uma espécie de remédio amargo para controlar uma inflação alta, por exemplo.
Todos os últimos indicadores, no fim do dia, voltam para este. A taxa de juros, em especial a americana, baliza todo o mercado financeiro mundial. Um jargão de mercado que reflete essa ideia é que “juro é o americano. O resto é spread”. Ou seja, todo o mercado de renda fixa é precificado a partir da taxa de juros americana, e vai se adicionando spreads, ou taxa adicionais, para cada tipo de risco, seja do país, de crédito do emissor, e assim por diante.
Para ilustrar essa questão da taxa de juros, a seguir temos um gráfico comparando a taxa de juros brasileira, a taxa SELIC, com a americana, a FED Funds Rate. Além disso, é possível ver o diferencial de juros (DIF), algo bastante importante para o investidor, e sua média desde 2000 até outubro de 2024.
Fonte: IPEA e FED
Uma atenção maior sobre o diferencial de juros é necessária. Quando esse diferencial é maior, é mais atrativo para o investidor institucional ao redor do mundo investir no país com taxa maior, dado o retorno em excesso que ele terá. O fluxo de valores externos entrando no país faz com que o câmbio se aprecie, fortalecendo a moeda local.
Para ilustrar melhor, usando um exemplo hipotético, caso o Brasil mantenha taxas de juros muito mais altas que os EUA, tudo mais constante, há a tendência de um maior fluxo de valores para o Brasil, fortalecendo o real frente ao dólar. Mas como foi explorado nesse artigo: Taxa de Câmbio: como ela é determinada?, existem inúmeros fatores além da taxa de juros que determinam uma relação entre duas moedas distintas.
Como vimos acima, praticamente todos os indicadores econômicos, de alguma forma, afetam a taxa de juros de um país. A taxa de juros, por sua vez, influencia a economia e as finanças desse país. Fatores como o PIB, a taxa de câmbio, o desemprego e principalmente a inflação ajudam a decidir se a taxa de juros deve subir, em uma política para conter a economia, ou cair, em uma política para estimular o crescimento.
Esse é um artigo introdutório, com muitos outros indicadores não abordados neste texto para se fazer uma análise, que ficará para um artigo futuro.
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