Mulheres investidoras: quebrando barreiras financeiras
08/03/2024
Nos últimos anos, temos visto um aumento considerável no número de mulheres investindo no mercado financeiro brasileiro. De 2021 para 2022, o número de mulheres investidoras passou de 28% para 33%, de acordo com o estudo “Raio X do Investidor Brasileiro“, realizado pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) em parceria com o instituto de pesquisa Datafolha. E esse não é só um fenômeno local.
Uma pesquisa global realizada em 2022 com 9.500 investidoras do sexo feminino mostrou que 48% delas tinham começado a investir apenas nos últimos dois anos.
Embora a entrada de mulheres no mundo dos investimentos tenha crescido recentemente, há ainda muitos desafios a serem enfrentados.
De acordo com um estudo realizado pelo BNY Mellon, existem 3 principais barreiras que fazem com que as mulheres ainda invistam pouco.
O estudo mostra que apenas uma em cada 10 mulheres acreditam que entendem bem sobre investimentos e apenas 28% se sentem confiantes para investir.
Globalmente, as mulheres acreditam que precisam ter, na média, uma renda de pelo menos $ 4.092 para começar a investir. Nos EUA esse valor é ainda maior: aproximadamente $6.000. E não para por aí, 27% das mulheres acham que tem uma saúde financeira ruim ou muito ruim.
Somente 9% das mulheres tem alta tolerância a risco, e 45% delas acreditam que investir em ações ou fundos é arriscado demais.
As mulheres talvez fiquem tímidas pelo fato de o mercado financeiro ainda ser um mundo muito mais masculino do que feminino. Mas tem-se visto cada vez mais conteúdos, cursos e palestras destinados especificamente ao público feminino que podem ajudar as mulheres a se sentirem mais confiantes ao investir. E esse é um paradigma que o próprio mercado precisa quebrar.
As instituições precisam adotar uma linguagem mais inclusiva, que inclua as mulheres como consumidores finais também. Além disso, não é necessário nenhum conhecimento profundo para começar. Existem inclusive produtos simples e para perfis mais conservadores, com mínimos de entrada bem acessíveis para quem está começando.
Isso provavelmente acontece pelo fato de terem que se preocupar com a família, com os filhos, com as compras da casa, entre outros. Tem tanta coisa na frente dos investimentos, que eles acabam por ficar em último plano. Mas a verdade é que o investimento não deveria ser feito somente com o que sobra no final do mês, porque para a grande maioria das mulheres, esse dinheiro simplesmente não sobra.
Na verdade, o investimento deveria ser visto como uma “obrigação” dentro do orçamento mensal. Para que isso aconteça, é necessária uma mudança de mentalidade e um ajuste fino no orçamento mensal, para que um valor seja destinado mensalmente aos investimentos, mesmo que em um primeiro momento esse valor seja muito pequeno, afinal, o importante é começar e fazer disso um hábito.
Como vários estudos sugerem, achar que qualquer investimento além de uma conta poupança é arriscado é algo muito comum entre boa parte das mulheres. Mas a verdade é que as opções de investimentos são diversas, e muitas delas inclusive tem riscos baixíssimos e com retornos superiores aos das contas poupança, que muitas vezes acabam perdendo até para a inflação local.
A educação financeira tem um papel fundamental para ajudar as mulheres a entenderem essa dinâmica e começarem a explorar as oportunidades, sem a necessidade de se exporem à muito risco em um primeiro momento.
Por outro lado, as mulheres que já investem, tendem a adotar uma abordagem mais conservadora e menos impulsiva nos seus investimentos.
Dados no Brasil mostram que elas realizam cerca de 27% menos negociações do que os homens, preferindo manter seus investimentos por períodos mais longos. Estudos internacionais também indicam que os homens tendem a ser mais confiantes e realizam 45% mais negociações do que as mulheres, o que pode resultar em uma postura excessivamente confiante.
Esse comportamento feminino acabou por trazer resultados superiores aos dos homens em uma média de 0,4% ao ano de 2011 a 2020, como mostrado em uma análise da Fidelity. E o detalhe mais interessante é que mesmo performando melhor, as mulheres tendem a assumir menos riscos do que os homens. Estudos sugerem que elas optam por uma abordagem mais conservadora, preferindo ativos como renda fixa.
Essa escolha pode ser influenciada por uma variedade de fatores, incluindo diferenças hormonais e sociais, além de uma maior preocupação com a segurança financeira e a proteção do patrimônio.
As mulheres também costumam se preocupar com propósito na hora de investir. Foi o que descobriu uma pesquisa de 2019 da Money Crashers na qual 49% das mulheres classificaram a missão social de uma empresa como extremamente ou muito importante para elas, em comparação com apenas 29% dos homens.
As mulheres ainda enfrentam diversas barreiras quando o assunto é investimentos, mas a quantidade de mulheres investidoras tem crescido a cada ano, tendência essa, que deve se manter nos próximos anos.
O estudo realizado pelo BNY Mellon mostrou que se as mulheres investissem na mesma taxa que os homens, teríamos um acréscimo de 3,22 trilhões de dólares investidos, sendo 1,87 trilhões em investimentos responsáveis.
Com uma comunicação mais inclusiva por parte das instituições financeiras, uma educação financeira voltada para o público feminino e mais igualdade em termos de renda entre homens e mulheres ao longo do tempo, muito provavelmente veremos um retorno muito positivo para a sociedade como um todo.
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Referências:
The Pathway to Inclusive Investment | BNY Mellon
Women And Investing In 2024: Everything You Need To Know | Bankrate
Why Women Are Better (Investors) Than Men (forbes.com)
Analytical Report: Women and Investing (newyorklifeinvestments.com)
Mulheres geram menos risco e maior retorno ao investir – Forbes