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Por

William Castro

Formado em economia pela UFRGS – RS. Em 2004, iniciou sua carreira na Solidus Corretora, com passagens pelo Koliver Merchant Bank e Banco Alfa. Foi sócio, analista-chefe e um dos principais porta-vozes da XPInvestimentos. Também foi sócio e líder de gestão da VGRGestão de Recursos. Possui as certificações Series 7 e 24. É estrategista-chefe, sócio e porta voz da Avenue desde 2018.

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Face a tanta incerteza que ronda especialmente a economia americana, muitos investidores se questionam se seria o momento de ter investimentos nos EUA. Existe em alguns a percepção ou o receio de que o atual conflito tarifário envolvendo EUA e outros países, possa gerar uma grave e grande crise de proporções globais e que, por isso, talvez fosse mais apropriado não ter investimentos nos EUA.

Refutamos tal ideia.

Não há como garantir nada a respeito do futuro, mas podemos investigar o passado para tirarmos conclusões acerca dos possíveis resultados de crises no universo de investimentos. E se o passado nos serve de base, acreditamos exatamente no oposto, ou seja, ter investimentos nos EUA foi uma forma de proteção a crises para investidores brasileiros.

Vejamos alguns argumentos que sustentam essa visão.

 

Resiliência e Tamanho dos EUA

Primeiro ponto é o fato de que essa não é a primeira nem a será a última crise que os EUA enfrentam. Na verdade, ainda não podemos falar em crise, uma vez que os indicadores da economia americana não demonstram que estejamos vivendo uma crise na maior economia do mundo.

Mas esse receio com a possibilidade de uma crise é algo que já vivemos diversas vezes em outros momentos.

Se olharmos nos últimos 100 anos, não faltaram motivos para acreditar que o país poderia perder suas vantagens competitivas. No entanto, a despeito dos receios, nos últimos 100 anos, vimos que o principal índice de ações americano, o S&P500, apresentou retornos positivos ao investidor no longo prazo – retorno médio do S&P500 desde 1957 é 10,13% a.a. (Fonte).

Durante esse período, os EUA passaram por:

  • Grande Depressão de 29
  • 25% desemprego
  • 2ª Guerra Mundial
  • Pearl Harbor
  • 2 impeachments
  • Inflação batendo 19%
  • 17 recessões
  • Guerra Vietnam
  • Bolha de internet
  • Taxa de juros nos EUA batendo 20%
  • Grande recessão de 2008
  • Crise do petróleo
  • Guerra do Golfo
  • Presidente assassinado
  • 11 de setembro
  • Guerra Fria
  • Escândalo do Watergate
  • Pandemia
  • 7 Governos de direita e 7 governos de esquerda


 

Além disso, a verdade é que os números americanos são extremamente superlativos e os EUA continuam sendo o principal protagonista no mundo.  Como forma de exemplificar temos atualmente:

  • 11 nações soberanas e 5 territórios americanos têm o dólar como moeda oficial;
  • Nada menos que 88% das trocas cambiais no mundo são feitas em dólar;
  • 60% dos dólares americanos impressos são usados fora dos Estados Unidos;
  • 59% das reservas mundiais está em dólar americano.
  • O dólar é usado ainda para precificar o barril de petróleo, o ouro e outras commodities;
  • Banco Mundial e FMI também o têm como moeda principal ao conceder empréstimos.
  • 56% das melhores faculdades do mundo estão nos EUA.
  • EUA atrai talento do mundo inteiro, sendo o único país desenvolvido no mundo que não está com população economicamente ativa em declínio. Cerca metade das 500 maiores empresas americanas foram fundadas por imigrante ou filho de imigrantes
  • Mercado americano de ações e dívidas vale mais que US$ 70 trilhões de dólares, praticamente o dobro dos nove maiores mercados seguintes (Japão, Reino Unido, França, Canadá, Alemanha, China, Austrália e Espanha)
  • Mais da metade dos unicórnios no mundo estão nos EUA, ou seja, startup que possui avaliação de mercado de mais de US$1 bilhão
  • EUA ainda concentraram cerca de 70% do valor de mercado das 100 maiores empresas do mundo. Há 10 anos atrás elas representavam 48%.
  • O estado mais pobre dos EUA (Mississipi) tem um pib/per capita maior que 5 países do G7.
  • Estados Unidos representam 25% da economia global

 

TAMANHO

Apesar do cenário atual de volatilidade e tensões comerciais, é importante lembrar que investir no mercado americano vai muito além de apostar apenas nos Estados Unidos. A robustez e a profundidade do mercado americano oferecem acesso direto a empresas e economias do mundo inteiro.

Das diversas empresas listadas nos EUA, mais de 1000 são internacionais, representando cerca de 50 países. Além disso, cerca de 40% das receitas das empresas do S&P 500 vieram de fora dos EUA, o que mostra o quanto essas companhias estão expostas a mercados globais e diversificadas geograficamente. Ou seja, mesmo em um cenário de políticas protecionistas e incertezas locais, o investidor continua tendo acesso a uma carteira com exposição internacional, diversificada e resiliente — uma característica que pode ajudar a suavizar os impactos de choques pontuais no mercado doméstico americano.


Fonte: The S&P 500: A Surprising Global Portfolio in Disguise – St. Louis Trust & Family Office abr/2024

 

A bolsa americana impressiona pelo seu tamanho e pela variedade de setores. Diferente do mercado brasileiro, que tem uma forte presença de empresas ligadas a commodities e setores tradicionais, nos Estados Unidos você encontra uma gama muito maior de áreas.

Essa diversidade oferece aos investidores a oportunidade de explorar segmentos inovadores e de rápido crescimento, que muitas vezes nem chegam a ter presença expressiva na bolsa brasileira. Por exemplo, o setor de tecnologia é muito robusto, englobando temas como computação em nuvem, segurança cibernética, inteligência artificial, big data e o setor de semicondutores, que são essenciais para o avanço tecnológico.

Esses segmentos refletem não apenas o dinamismo do mercado americano, mas também sua capacidade de inovação e adaptação a novas demandas globais. Já a diferença de tamanho entre os mercados também é bem expressiva: enquanto a B3 concentra aproximadamente 400 empresas, as bolsas norte-americanas reúnem mais de 5 mil empresas representando aproximadamente 60% da capitalização global.

 

Desempenho em crises

Com os eventos dos últimos dias, cresceu a preocupação dos investidores quanto a uma possível grave grande crise de proporções globais atingindo o mundo. Os mercados financeiros como de praxe apresentaram um comportamento de pânico e paura antecipando tal possibilidade nos preços dos ativos – obviamente que até o momento não há como dizer que chegamos a um patamar de mínimas nos mercados e é possível que continuamos vendo esse comportamento irracional e muito volátil nos agentes.

Não sabemos quando, nem qual será a intensidade de uma nova crise nos EUA, mas ela certamente virá! Agora será mesmo que estar fora do mercado americano vai te proteger de algo? Será que a melhor forma de proteger seu patrimônio foi ter todos seus recursos no Brasil?

Uma forma de responder ou estimar isso, é analisando o comportamento dos mercados em diferentes momentos de graves crises que tiveram efeitos globais. Escolhemos os seguintes períodos:

  • com nos anos 2000 – consideramos o período entre 27/mar/2000 e 16/out/2020.
  • Crise financeira de 2008 – consideramos o período entre 30/mai/2008 e 21/nov/2008.
  • Covid – consideramos o período entre 02/jan/2020 e 23/mar/2020.
  • “Tarifaço” recente – consideramos o período entre 02/abr/2025 e 11/abr/2025.

A tabela abaixo compila o desempenho do dólar (USD/BRL), índice S&P500 (SPX Index), o índice Bloomberg para títulos do governo americano de curta duration (BBG US 1-3Y) e o Ibovespa (IBOV) nesses períodos. Os retornos apresentados se dão em moeda brasileira.


Fonte: Bloomberg. Elaboração Avenue.

 

O que fica claro nesses períodos?

  • O real, assim como outros ativos de risco, apresentou performance mais fraca, ou seja, vimos a valorização do dólar frente à moeda brasileira. Isso gerou grande influência nos retornos dos ativos quando comparados todos em uma mesma moeda, nesse caso, o retorno em Reais para o investidor brasileiro;
  • As ações nos EUA atravessaram momentos difíceis durante as crises, mas com quedas significativamente menores que a bolsa brasileira. Inclusive, o efeito do câmbio (salto do dólar) atenuou o impacto negativo das crises no S&P500 quando comparamos sua performance em Reais;
  • A renda fixa no exterior foi a classe de ativos que propiciou a melhor performance considerando o retorno agregado da classe aliado a moeda. Ou seja, o cliente que estava posicionado em dólares e em ativos de renda fixa americana, foi aquele que obteve melhor desempenho nos períodos de crise.

 

Por fim, um ponto relevante no evento atual do que chamamos “Tarifaço”, foi o fato do dólar ter, mais uma vez, demonstrado ser um ativo que protegeu o retorno dos investidores brasileiros, inclusive melhor que alternativas domésticas tradicionais de proteção.

Como assim?

Ainda que não esteja contemplado na tabela acima, o CDI do período (9 dias ao todo), foi de 0,4%, versus uma variação positiva de 3,6% para o mesmo período para a renda fixa americana em Reais, aqui representada pelo índice Bloomberg para títulos do governo americano de curta duration. Em resumo, mais uma vez a renda fixa americana oferece proteção ao investidor brasileiro em momentos de crise global.

 

E como foi em 2008?

Grande Crise Financeira de 2008

A grande crise de 2008, teve suas raízes no importante setor imobiliário americano, mas o fato de ter atingido o coração do sistema capitalista americano, os bancos, que fez com que ela atingisse proporções ainda maiores. Foram feitos filmes, livros e muitas histórias foram contadas a respeito e isso obviamente que marcou o imaginário das pessoas. A crise foi sim forte e balançou os alicerces da economia mundial a ponto de muitos duvidarem da capacidade de recuperação dos americanos. Hoje, ex-post, é fácil ver que o cenário mais dantesco não se confirmou e os EUA se recuperaram de tal crise.

E o que podemos inferir com a crise?

 

  • Estar comprado em ações brasileiras não te protegeu.

A bolsa americana atingiu sua máxima pré-crise em 9 outubro de 2007, quando o S&P 500 alcançou 1565 pontos; e sua mínima em 09 de março de 2009 nos 677 pontos; isso quer dizer uma desvalorização de 56,7%…é como se o investidor que tivesse investido US$ 10.000 passasse a ter apenas US$ 4.326 após cerca de 1 ano e 5 meses do investimento. Sem dúvida muito ruim.

Mas o que aconteceu com o investidor brasileiro que tinha sua carteira de ações e que foi pego de surpresa com a crise americana?

A máxima da bolsa brasileira, durante aquele período, se deu no 19 de maio de 2008 nos 73.439 mil pontos; e sua mínima no dia 27 de outubro de 2008 nos 29.435 mil pontos. Da máxima a mínima o Ibovespa oscilou 59,9%, mas em um período significativamente mais curto, foram 161 dias. Ou seja, em apenas 6 meses o investidor brasileiro viu seu capital ser reduzido em 59%. Os gráficos abaixo mostram isso (S&P 500 e Ibovespa respectivamente).


https://www.tradingview.com/x/IxxHkR7y/

 


https://www.tradingview.com/x/qnFtUWL5/

 

 

E para os que argumentam que a recuperação foi mais rápida no Brasil, vale lembrar que passados os 10 anos da crise americana as performances falam por si só. Se considerarmos as datas e patamares mínimos atingidos pelos índices temos a seguinte performance no período de 10 anos.

  • S&P500 entre 09 de março de 2009 a 09 de março de 2019: 317%;
  • Ibov entre 27 de outubro de 2008 a 27 de outubro de 2018: 191%.

Mas aqui vale a ressalva importante que essa comparação é equivocada pois estamos comparando retornos em dólar (S&P 500) com retornos em Reais (IBOV).

Se considerarmos o retorno do Ibovespa em dólar temos a seguinte imagem abaixo:


https://www.tradingview.com/x/1iYTIdM8/

 

Ou seja, quando comparamos em uma mesma moeda, o dólar, o retorno do Ibovespa em sua recuperação, foi sensivelmente menor que o do S&P500.

 

  • Durante a crise o Real se desvalorizou fortemente…o brasileiro ficou pobre internacionalmente.

Tal qual já tocamos no ponto acima, a segurança de estar investido em moeda forte, fez muita diferença em momentos de crise, haja a vista o diferencial de performance do índice S&P 500 e do Ibovespa dolarizado.

Ao concentrar seus investimentos no Brasil, o investidor viu seu poder de compra internacional ser dilacerado em poucos meses. Apesar de parecer contraditório, durante a crise de 2008, uma crise que foi gerida no coração da economia americana, seu mercado imobiliário e financeiro, a moeda americana se valorizou contra diversas moedas, e uma delas foi o Real. Entre agosto de 2008 e dezembro de 2008 o dólar saltou de R$ 1,56 para R$ 2,51 uma alta de 61% em apenas 5 meses.


https://www.tradingview.com/x/DZtDvB6f/

 

 

Ou seja, o consumidor brasileiro ficou mais pobre internacionalmente. Pense você o impacto disso na hora de viajar para o exterior, ou comprar um carro importado, uma guitarra importada, ou qualquer item não nacional.

 

Trazendo para realidade atual, é como se o dólar saltasse dos atuais R$ 5,70 (patamar pré-anuncio das tarifas) para R$ 9,18 em 5 meses, ou seja, ao final de setembro…já imaginou isso?

Isso mostra o quão desprotegido o investidor fica ao concentrar recursos somente aqui no Brasil! Se você investigar as demais crises, vai ver que esse movimento é comum, logo, não estar nos EUA, ou não ter recursos investidos lá só prejudicou o investidor.

 

CONCLUSÃO

Em suma o que podemos dizer é que graves crises econômicas no mundo geram impactos significativos e inclusive mais intensos quando nos preços de ativos brasileiros quando comparamos em uma mesma moeda. Ou seja, não houve vantagem em estar posicionado em ações brasileiras e ficar fora do mercado americano. Dito de outra maneira, o investidor não perdeu menos, ou não protegeu mais seu patrimônio simplesmente por não estar no mercado americano.

Além disso, a recuperação da economia americana, aliada a força do dólar propiciou aos investidores não só recuperação, a tais crises como também valorização de seu capital em uma escala muito maior. 

Outro ponto a ressaltar é que ainda que alguns possam citar outras moedas, o ouro, ou mesmo os criptoativos, a verdade é que os períodos de crise nos mostram que inexistem alternativas críveis, com escala global ao dólar. Assim como Larry Summers comenta: a Europa é um museu, o Japão é um asilo, a China é uma prisão … e podemos adicionar que o Bitcoin ainda é um experimento.

Por esses fatores, entendemos que é importante o investidor manter a consistência em seus investimentos, seguindo seu perfil de investimentos que são alinhados com seus objetivos de longo prazo. Reforçamos ao investidor brasileiro que a diversificação geográfica e a exposição internacional são vitais para a construção de uma carteira menos suscetível às nuances e às volatilidades da política e da economia domésticas.

Aqui na Avenue, além de receber uma série de relatórios técnicos e estratégicos para guiá-lo durante a sua jornada, você encontra uma equipe de especialistas pronta para auxiliar na construção da sua carteira internacional.

 

Daniel Haddad (danielnhaddad) e Will Castro (@willcastroalves)

 

Outros links com artigos interessantes sobre o tema, os quais podem te interessar:

Abaixo listamos outros textos que podem ser úteis em termos de argumentos sobre a importância de investir no exterior.

Para mais comentários como este, acesse o blog da Avenue: avenue.us/mercados

 


 

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Formado em economia pela UFRGS – RS. Em 2004, iniciou sua carreira na Solidus Corretora, com passagens pelo Koliver Merchant Bank e Banco Alfa. Foi sócio, analista-chefe e um dos principais porta-vozes da XPInvestimentos. Também foi sócio e líder de gestão da VGRGestão de Recursos. Possui as certificações Series 7 e 24. É estrategista-chefe, sócio e porta voz da Avenue desde 2018.

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