Avenue

Por

William Castro

Formado em economia pela UFRGS – RS. Em 2004, iniciou sua carreira na Solidus Corretora, com passagens pelo Koliver Merchant Bank e Banco Alfa. Foi sócio, analista-chefe e um dos principais porta-vozes da XPInvestimentos. Também foi sócio e líder de gestão da VGRGestão de Recursos. Possui as certificações Series 7 e 24. É estrategista-chefe, sócio e porta voz da Avenue desde 2018.

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Na semana passada, escrevi bastante sobre o cenário das ações aqui nos EUA. Conforme prometido, nesta semana vou focar mais na questão dos juros e no impacto deles nos títulos de renda fixa nos EUA.

A ata e os juros

O destaque da semana passada foi a divulgação da Ata do FOMC. Para quem não está familiarizado, cada decisão de política monetária, como aumentar ou diminuir os juros, é tomada durante uma reunião dos diretores do Federal Reserve (Banco Central dos Estados Unidos) dos diversos distritos que compõem o sistema. Nessa reunião, ocorre a votação sobre as taxas de juros, e posteriormente é divulgada uma ata que destaca os pontos mais relevantes discutidos pelos responsáveis pela formulação da política monetária.

Como pontos de destaque da ata divulgada nesta semana, podemos ressaltar o seguinte:

  • A decisão de aumento de juros em 0,25 ponto percentual na última reunião (em 26 de julho) foi unânime. Além disso, a ata reforça a perspectiva de que possivelmente estamos nos aproximando do final do ciclo de aperto monetário nos Estados Unidos.
  • Entretanto, a ata também enfatiza que o Federal Reserve (FED) ainda identifica riscos relacionados ao mercado de trabalho, que permanece notavelmente robusto, e à inflação, que apesar de mostrar sinais de desaceleração, continua em níveis elevados.
  • Os membros do comitê concordam que a inflação continua significativamente acima da meta de 2%, e eles exigiriam indicações claras de que a inflação está progredindo em direção a essa meta.
  • Apesar de o comitê não prever uma recessão em 2023, as projeções indicam que o crescimento real do PIB em 2024 e 2025 deverá permanecer abaixo do potencial, o que, por sua vez, poderá resultar em um aumento do desemprego em relação aos níveis atuais.
  • O comitê reafirma a sua abordagem de depender dos dados e buscar evidências de que a inflação está se movendo em direção à meta. Este trecho do texto é mencionado da seguinte forma:
    • “(participants) noted that uncertainty about the economic outlook remained elevated and agreed that policy decisions at future meetings should depend on the totality of the incoming information and its implications for the economic outlook and inflation as well as for the balance of risks.” The Fed

Evidências…

O que me vem à mente é um clássico das rodas de violão e karaokês Brasil afora:

E nessa loucura de dizer que não te quero
Vou negando as aparências
Disfarçando as evidências

Os participantes do FED parecem deixar claro que não desejam repetir o erro do passado (em 2022), quando de certa forma “negaram as aparências e disfarçaram as evidências” de uma inflação em crescimento, o que levou a uma resposta tardia e vigorosa por meio do aumento das taxas de juros que temos observado desde então.

Chega de mentiras
De negar o meu desejo
Eu te quero mais que tudo

Em um momento em que muitos fazem críticas, questionam ou duvidam da necessidade de alcançar essa meta, o FED mais uma vez deixa claro o seu compromisso com a taxa de inflação de 2%… mesmo que isso possa acarretar efeitos colaterais e até mesmo resultar em uma recessão no futuro.

Impacto nos juros

E, como a física nos ensina, a toda ação corresponde uma reação.

Nas últimas semanas, dada a resiliência da economia americana e em alinhamento com o cenário que mencionei algumas semanas atrás, em relação à ausência de um “pouso forçado” (ou “no landing”) – Nem soft, nem hard… “No landing” na economia americana? – Avenue já estávamos observando, conforme dizemos no jargão de mercado, as taxas longas de juros se expandindo, ou seja, as taxas estavam subindo.

A ata veio apenas para reforçar e acentuar esse cenário, e assim, esse aumento nos rendimentos dos títulos de longo prazo foi o destaque da semana. Abaixo estão os gráficos das curvas de juros de 10 anos (linha preta) e de 20 anos (linha vermelha). Elas fecharam a semana em 4,26% e 4,56%, respectivamente.

Fonte: TradingView – 18/ago/2023

 

E o gráfico a seguir auxilia a visualizar a mudança no formato da curva de juros ao analisarmos a evolução nos últimos 30 dias, destacando o aumento mais significativo nos prazos mais longos.

Fonte: The Daily Shot 16/08/2023

A interpretação aqui é a seguinte:

  • Se a economia continua robusta e os receios de uma recessão estão diminuindo, é possível que o FED não tenha margem ou precise adiar qualquer redução nas taxas de juros. Dessa forma, os juros de longo prazo poderiam passar por uma correção de preços;
  • Os Preços dos bonds e taxas são variáveis inversamente relacionadas. Se os yields dos juros curtos permanecem elevados, logo, a lógica de muitos investidores pode ser a de se desfazer de títulos longos (levando a queda do preço e alta dos yields) para comprar um título mais curto que ofereça mais yield. Inclusive essa segunda interpretação ajuda a explicar a forte atração de capital recente para os chamados Money-market Funds os quais atingiram um total de ativos sob gestão de US$ 5,5 trilhões – vide gráfico.

Fonte: The Wall Street Journal – 09/ago/2023

Qualquer que seja a interpretação, a ata apenas contribuiu para essas análises e a convergência desses fatores explica o recente movimento nas taxas de juros.

Duas óticas

  1. Economia:

Na economia, houve uma enxurrada de reportagens na imprensa americana chamando a atenção para os custos de empréstimos, destacando como o financiamento de qualquer coisa nos EUA está mais caro – Mortgage rates soar to their highest level in 21 years | CNN Business; Credit Card Debt Hits New Peak as Some Borrowers Face Financial Strain – The New York Times. E sim, esse reflexo tende a ser sentido na economia como um efeito contracionista no crescimento e/ou na atividade. Abaixo, apenas para ilustrar, temos a taxa de juros de 30 anos para o financiamento de uma casa nos EUA (30y fixed mortgage rate).

Fonte: Fed – 17/ago/2023

 

  1. Investidores:
  • No contexto das ações, o impacto de taxas de juros de longo prazo mais elevadas é negativo. Não por coincidência, temos testemunhado em agosto um desempenho fraco dos índices, o que está alinhado com a perspectiva que apresentei na semana passada sobre o prêmio de risco implícito estar baixo e as valorizações elevadas do mercado de ações em geral, conforme mencionado anteriormente – Um balanço dos resultados e a bolsa americana – Avenue.
  • Para aqueles que já investem em bonds de curta duration (com prazos de vencimento mais curtos), o impacto é menor, pois a sensibilidade do preço do título está mais relacionada à taxa de referência da Treasury com o mesmo prazo. Em outras palavras, um bond com vencimento em 2 anos é mais afetado pelas variações dos yields dos títulos de 2 anos do que pelos de 20 anos. Portanto, esses títulos não foram significativamente afetados
  • Para os investidores em bonds longos, esta não foi uma semana agradável, uma vez que o efeito de marcação a mercado impactou os preços dos títulos. Isso é compreensível, considerando que, puramente em termos de prazo, esses títulos representam a parte mais arriscada dentro das opções de investimentos de renda fixa.
  • Para aqueles que ainda não investem em títulos de renda fixa nos Estados Unidos, a meu ver, foram os investidores que mais se beneficiaram com esse movimento. Afinal, nunca podemos prever os pontos máximos e mínimos dos ativos. No entanto, o investidor que busca instrumentos de renda fixa nos EUA encontra atualmente as maiores taxas desde meados de 2007, ou seja, em 16 anos, para títulos de 2 anos (4,93%), de 10 anos (4,26%) e até mesmo de 20 anos (4,56%). Não é coincidência que, assim como mencionei anteriormente no caso dos Money Market Funds, tenha sido observado um influxo significativo de recursos para investimento em títulos do governo americano em 2022 e agora em 2023.

Fonte: The Daily Shot 11/08/2023

 

O que esperar da renda fixa nos eua?

Ao investir em um título de renda fixa, você geralmente firma um contrato para uma taxa específica durante um período determinado. Por exemplo, ao adquirir um título que oferece uma taxa de 5% por 3 anos, você receberá pagamentos de juros ao longo desses 3 anos e, ao final do vencimento, terá a devolução do seu capital inicial. Uma característica importante dos instrumentos de renda fixa nos EUA é que a maioria dos títulos possui um perfil pré-fixado, ou seja, o emissor do título emite um título que oferece um pagamento de juros pré-determinado no momento de lançamento. Como esses títulos podem ser negociados no mercado secundário, os preços desses títulos ficam suscetíveis às variações nas taxas de juros e ao impacto resultante em termos de marcação a mercado do preço desses títulos. Ao final deste artigo, deixo alguns links úteis para quem deseja aprender mais sobre o assunto.

Ao investir em renda fixa, você pode fixar uma taxa contratual e, eventualmente, beneficiar-se ou ser prejudicado por uma marcação a mercado nos preços dos seus títulos. De maneira geral, de forma bastante simplificada e desconsiderando outros fatores (como risco de crédito, mudanças nas percepções de curto e longo prazo da economia, entre outros), podemos afirmar que: se os yields dos títulos aumentam (como vimos nesta semana), os preços dos bonds caem e o investidor sofre um impacto negativo na marcação a mercado. Por outro lado, se os yields caem, os preços dos títulos tendem a se valorizar e o investidor experimenta um impacto positivo na marcação a mercado.

Ao olharmos para o passado, observamos que em grande parte dos anos, o retorno do investimento em renda fixa nos EUA tem se mostrado positivo. Não há garantia de que isso se repetirá, mas o histórico é bastante consistente nesse sentido – de acordo com o gráfico abaixo, 42 dos últimos 47 anos apresentaram retornos positivos.

Fonte: J.P. Morgan Asset Management – 31/jul/2023

Ora,

  • (i) Os juros podem sempre subir mais, no entanto, como mencionei anteriormente, atualmente estamos lidando com os maiores yields em décadas.
  • A economia é cíclica e, cedo ou tarde, passa por crises ou solavancos.
  • O mercado foi extremamente ágil em ajustar, e talvez até mesmo exagerar, nos preços dos títulos devido a essa percepção de aumento dos juros de longo prazo no curto prazo.

Olhando para esses elementos, sinto-me inclinado a chegar a uma conclusão…

CONCLUSÃO

… de que os investidores estão vivenciando um período notavelmente atrativo para investir em instrumentos de renda fixa.

Neste cenário, é possível contratualizar uma taxa que há muito não se via, financiando agentes considerados de baixo risco de crédito (me refiro aos títulos do tesouro americano ou mesmo a títulos de empresas de elevada classificação de crédito – investment grade), ao mesmo tempo que poderá eventualmente se beneficiar de uma inversão da curva de juros (queda dos yields) em caso de desaceleração e/ou recessão na economia dos EUA.

Além disso, vale a pena lembrar que, para os investidores brasileiros, esse tipo de investimento proporciona uma dolarização do patrimônio e acrescenta ainda outra possibilidade de retorno, ou seja, uma potencial valorização do dólar ao longo do horizonte de investimento no instrumento de renda fixa, seja este de 1, 2 ou 5 anos.

Como a avenue te ajuda?

Não por acaso a Avenue fez recentemente um movimento de redução dos mínimos de investimentos em renda fixa US$ 5 mil. Ou seja, agora, a partir desse valor você já consegue comprar um bond de uma empresa americana, por exemplo.

 

Além disso, oferecemos mais de 200 fundos de renda fixa em nossa plataforma, incluindo alguns fundos de mercado monetário, que podem ser comparados ao que chamamos de “fundo caixa” no Brasil.

Além disso, na área de acesso restrito, os clientes da Avenue têm acesso aos relatórios elaborados pela nossa equipe, que auxiliarão na seleção de ativos de renda fixa:

  • Carteira recomendada de Fundos: Apresenta sugestões de alocação em fundos, muitos dos quais são de renda fixa.
  • Seleção Avenue de Bonds: Uma seleção dos melhores títulos de renda fixa, respeitando determinados parâmetros e objetivos, como obtenção de renda mensal, investimento em títulos com determinada duração, preservação de capital, etc.
  • Bonds List (US, Brasil e Latam): Uma espécie de cardápio contendo todos os títulos e Certificados de Depósito disponíveis na Avenue.
  • Seleção Avenue – Ideias de investimento: Um relatório no qual também exploramos alternativas de ETFs de renda fixa.

Acesse!

Aprimorando os conhecimentos em renda fixa americana

Se você sentiu a falta de alguns conhecimentos básicos ou deseja aprimorar o seu entendimento sobre investimentos em renda fixa internacional, a Avenue preparou alguns materiais muito interessantes que vão auxiliá-lo nessa jornada. Dê uma conferida:

Te convido a me seguir nas redes sociais – @willcastroalves tanto no Twitter quanto no Instagram – e diga o que achou.

Aquele abraço!
William Castro Alves
Estrategista-chefe da Avenue Securities

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Manter ações para o longo prazo não garante um resultado rentável. Investir em ações sempre envolve risco, inclusive a possibilidade de perder todo o investimento.

Não há garantia de que essas opiniões ou previsões aqui fornecidas se mostrem corretas.

Qualquer informação não é um resumo completo ou declaração de todos os dados disponíveis necessários para tomar uma decisão de investimento e não constitui uma recomendação. Os investimentos mencionados podem não ser adequados para todos os investidores.

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William Castro

Formado em economia pela UFRGS – RS. Em 2004, iniciou sua carreira na Solidus Corretora, com passagens pelo Koliver Merchant Bank e Banco Alfa. Foi sócio, analista-chefe e um dos principais porta-vozes da XPInvestimentos. Também foi sócio e líder de gestão da VGRGestão de Recursos. Possui as certificações Series 7 e 24. É estrategista-chefe, sócio e porta voz da Avenue desde 2018.

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